Juventude em Luta

Permanecer no campo e esfriar o planeta: juventude em luta debate a questão ambiental

Frente às mudanças climáticas e a proposta de adaptação do capital pelo mercado de carbono, o enfrentamento e a pressão popular por uma governança soberana é urgente
Foto: Junior Lima

Por Flora Villela*
Da Página do MST

Com o intuito de debater a conjuntura, frente a crise climática e as possíveis soluções para as juventudes do campo das matas e das florestas, maiores atingidos dos danos ambientais, acontece hoje (15) a mesa de debate “A juventude e a luta ambiental: por terra e soberania popular estamos aqui!”.Entendendo que a compreensão das saídas possíveis e da reorganização do capital para a dita “economia verde” é cada vez mais urgente.

Como parte da jornada de formação do acampamento, a mesa debate o enfrentamento ao modelo de produção capitalista e a um projeto de transição energética que não pauta a soberania dos povos em seus territórios. Entendendo que a juventude é a população mais prejudicada por essa lógica, ao ser forçada a migrar de seus territórios por consequências climáticas extremas ou em prol de uma ecologia de mercado do capital é preciso repensá-la e propor soluções. É o que trazem  as falas de Camila Moreno, do grupo Carta de Belém, Marciele Tupari, coordenadora executiva da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira(COIAB) e Renata Menezes, integrante da articulação de jovens da Via Campesina Brasil e militante do Movimento dos Trabalhadores(as) Sem Terra e da Via Campesina (MST), participantes da mesa de debate. 

Foto: Jerê Santos

Uma “economia verde” que não perpassa a soberania popular e busca “limpar” uma lógica de produção destrutiva por si só não é solução bastante para a crise climática. É nesse sentido que Camila Moreno reforça que “A lógica de governança climática é contraditória, conforme os governos construíram essa lógica, conjuntamente ao pensamento científico, criaram uma narrativa que nos apresenta toda a complexidade da crise climática como resumida ao controle do carbono, de modo a deter o aquecimento global, porém é necessário olhar criticamente, principalmente ao perceber o que é feito em nome do clima e que vem violentando as comunidades em seus territórios”. 

“Acompanhamos neste período o crescimento dos agrocombustíveis, monoculturas, transgênicos e temos visto cada vez mais o crescimento de projetos de neutralização de carbono que impedem que as comunidades usem os territórios e trazem esquemas de vigilância nesses territórios, sendo o mercado de carbono o coração de toda a negociação do clima gerando uma mercado de ar, ou melhor um mercado de direitos de poluir” afirmou Moreno

São os povos camponeses, povos indígenas e tradicionais que têm a tecnologia e o saber ancestral que possibilitará uma conservação ambiental casada à soberania alimentar e a democratização do acesso à terra. Esses mesmos povos, com ênfase às populações originárias estão constantemente em ameaça em seus territórios. Neste sentido, a fala da Coordenadora Executiva da COIAB, Marcilene Tupari, reforça que “Traçamos uma luta constante com essas pessoas que dizem nos representar, como no caso da tese do marco temporal, que impacta a demarcação dos nossos territórios.”

Foto: Jerê Santos

“A nossa luta é muito parecida, e perpassa a luta da juventude. Hoje temos um coletivo de comunicadores indígenas que busca expandir a questão da Amazônia e dos demais territórios indígenas no Brasil por que neste momento temos territórios sendo invadidos. Hoje a COIAB tem o papel de lutar pelos povos indígenas nas questões de demarcação dos territórios, garantia de direitos, respeitando a autonomia dos povos indígenas. Não é possível olhar para a Amazônia apenas como uma floresta, é necessário voltar o olhar para as pessoas que defendem esse local reconhecendo que a floresta não é só árvore e que a preservação perpassa os povos integrados ao meio ambiente.”

Os movimentos populares compreendem que só com a união da classe trabalhadora e apoio às iniciativas da juventude camponesa, a partir da valorização das tecnologias ancestrais que nos mantém em equilíbrio com o entorno é possível abrandar a crise climática. Neste sentido, Renata Menezes salienta que “a juventude tem tarefas que nos colocam as condições de sobrevivência frente ao colapso climático que se aprofunda, mas também tem tarefas a viver, pois não queremos perpetuar a lógica  do modelo de produção capitalista que explora nossos territórios e corpos.”

Foto: Júnior Lima

“A compreensão dessas tarefas na luta ambiental, parte do entendimento desta crise no capital que retira da juventude o sonho, a vontade de viver, de se reproduzir e a expectativa de futuro, provocando o adoecimento, o aprisionamento e faz com que a juventude seja expulsa de seus territórios.”

Ela finaliza reforçando que “Permanecer no campo, para a juventude, se mostra uma extraordinária ação de resistência ambiental fazendo a ruptura com o modelo posto  entendendo que a luta ambiental só pode ter uma dimensão popular se for anti-imperialista, anti-racista, anti-colonial feminista e conectada com o projeto da classe trabalhadora.”

*Comunicadora popular e militante do MST em MG.

**Editado por João Carlos