Cultura

Surubim e os Pocomã lança disco em show no Armazém do Campo, em BH

Gratuito, show acontece no Armazém do Campo, às 21h, levando ao palco o álbum homônimo que chega às plataformas digitais em áudio e vídeo
Foto: Amanda Canhestro

Por Floriano Comunicação
Da Página do MST

Da terra quente cortada pelo Rio São Francisco, nasce uma música embebida da folia de reis, do forró, da música negra, dos causos ribeirinhos e, por que não, do jazz americano, do funk londrino e da música pop universal? Trazendo essa instigante mistura entre o sertão popular e a modernidade, o grupo Surubim e os Pocomã apresenta, em Belo Horizonte, seu primeiro disco nesta sexta-feira, dia 10 de novembro, data em que o registro chega às plataformas digitais. O show acontece às 21h, no Armazém do Campo BH, loja de produtos orgânicos e agroecológicos vinculada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, que apoiou a gravação do disco e também apoia os shows de lançamento e a divulgação do trabalho.

Gravado no Armazém do Campo de Montes Claros, no Norte de Minas, referência cultural primária para os músicos da banda, “Surubim e os Pocomã – Ao Vivo” conta, ainda, com gravação em vídeo. Também nesta sexta, o registro audiovisual será disponibilizado no YouTube, no canal da banda formada por Pedro Surubim (voz e violão), Pedroca Neves (contrabaixo), Dau (bateria) e Bicho Carranca (percussão), criados na região.

Após o lançamento virtual e o show em Belo Horizonte, o grupo volta a Montes Claros no dia 25 de novembro, sábado, para uma nova apresentação no Armazém do Campo da cidade. “Estamos com a expectativa de que sejam duas grandes festas. Nosso público nos abraça e a energia é muito vibrante quando nos apresentamos nos Armazéns. Em ambos os shows teremos participações especiais”, diz Bicho Carranca, percussionista do grupo.

Mistura de influências e raízes

No nome, Surubim e os Pocomã alude a dois dos peixes populares que habitam o Velho Chico, e faz uma ode à vida que acontece ao redor do único rio inteiramente brasileiro, que percorre dezenas de municípios do Norte de Minas e garante a subsistência de populações ribeirinhas em cerca de 2.830 quilômetros de extensão — contando da nascente geográfica na cidade de Medeiros (MG) até a foz, entre os estados de Alagoas e Sergipe.

A partir desse contexto, as nove músicas autorais do álbum soam como um cartão de visitas sonoro do Norte de Minas e de uma população autodenominada como barranqueira, por morar em barrancos formados às margens do Velho Chico. Lá, pescadores ensinam a viver do rio e a preservá-lo; geraizeiros mantêm o cultivo de alimentos em coletivo; trabalhadores da cidade e do campo se reúnem nas festas tradicionais, como a folia de reis; e os catingueiros, habitantes tradicionais do bioma da Caatinga, representam vaqueiros, agricultores, indígenas, quilombolas e tantas outras expressões características da região.

“Nosso som é a representação da musicalidade e da forma de fazer arte na nossa região. As composições falam exatamente sobre isso: as ideias típicas do Norte mineiro, as pessoas e seus hábitos, os moradores mais antigos, a tradição popular, o sagrado e a jornada que é chegar ao sertão profundo. Fala do povo que faz essa história, dos barranqueiros, dos geraizeiros, dos trabalhadores da cidade, dos pescadores, dos que vivem e lutam no campo”, resume Pedro Surubim, vocalista da banda.

A síntese da proposta do grupo Surubim e os Pocomã pode ser ilustrada com “Brasil Lameiro”, faixa que fecha o álbum repetindo um refrão inspirador como se fosse uma identidade sertaneja: “apesar de ser de barro, não sou obrigado a me atolar”, em crítica direta aos estereótipos impostos ao sertão. Já “Mutalambô”, faixa que pode ser considerada um apelo em forma de oração, no clássico formato de canção, remete ao orixá protetor da natureza na cultura dos caboclos de Congo e Angola, e anuncia versos de fé como elogio às crenças de um povo que precisa respeitar o sertão, antes de poder percorrê-lo (“seus filhos pedindo a Tupã para proteger os caminhos do povo que rumava no sertão”). 

Música Popular Barranqueira

A partir desses símbolos culturais do Norte mineiro, a sonoridade de Surubim e os Pocomã, também definida como Música Popular Barranqueira (MPB), é um convite para a ginga do corpo, abusando de arranjos de violões acelerados e percussões marcantes presentes em todos os arranjos. Sonoramente, são muitas referências, desde artistas populares que valorizam o cancioneiro regional, como Nação Zumbi, Markus Ribas e Lenine, até inserções abundantes de forró, xote, baião, cantos dos catopês — representantes do povo africano, originários do Congo — e danças de religiões de matriz africana, como o calango e o lundu. Tudo isso ganha salpicadas do jazz e da música pop, elementos que, de certa forma, estão embutidos na musicalidade norte-mineira, como avalia Pedro.

“Nós já carregamos a música universal na nossa raiz. Um exemplo disso são os rabequeiros, como o Seu Jeny de Palmeirinha, morador da cidade de Pedras de Maria da Cruz (distrito de Januária, no Norte de Minas), que não sabe o que é escala musical, mas é um dos maiores improvisadores deste instrumento no Brasil. Então, o improviso, tal qual como o jazz é concebido, já está por aqui. Por isso, associar essas referências à banda foi algo muito natural”, avalia Pedro.

“Xote Jamiroquai” talvez seja a canção do álbum que represente melhor a ideia de uma música com caráter de universalidade, a partir do sertão regional. O xote, variação clássica do forró, ganhou um balanço de funk jazzístico bem característico da banda britânica Jamiroquai. Um suingue norte-mineiro de personalidade, ilustrado por um refrão potente sobre essências e subjetividades da vida sertaneja: “eu sou pedra, sou trovoada, sou ventania do sertão / eu sou carranca, chuvarada, eu sou a sorte dessa embarcação”.

Disco ao vivo Ao invés do clima de estúdio, o álbum foi gravado ao vivo, formato preferido da banda para improvisar arranjos e elementos sonoros em cima de composições que, muitas vezes, nascem em cima do palco mesmo, em criações coletivas. Foi desta forma, aliás, em encontros por festivais e shows do Norte de Minas, que os músicos se conheceram, ainda em 2020, antes da pandemia, num encontro que depois se tornaria Surubim e os Pocomã.

“Como somos uma banda nascida praticamente no palco, estamos muito voltados para a interação com o público e com o jeito de nos apresentarmos ao vivo. Os nossos shows têm uma magia específica, acontece uma espécie de ritual e uma forte conexão com o público. Portanto, nosso primeiro registro enquanto disco não poderia estar desconectado desse momento e jeito de fazer o nosso som”, avalia Pedro Surubim.

SERVIÇO | SURUBIM E OS POCOMÃ

Lançamento do álbum “Surubim e os Pocomã – Ao Vivo”

Onde. Armazém do Campo de BH (Av. Augusto de Lima, 2.136 – Barro Preto)Quando. Dia 10/11, sexta-feira, às 21h

Quanto. A entrada é gratuita.

Lançamento digital. Acompanhe no Spotify e no YouTube