Questão Ambiental

“Não existe a superação da crise ambiental dentro do capitalismo”

Em debate na Bahia sobre questão ambiental, MST afirma que não há forma de superar a crise ambiental sem superar o modelo capitalista que cria e lucra com as contradições

Fotos: Ana Terra, Daniel Violal e Isy Sales, do coletivo de comunicação do MST

Por Cadu Sousa
Da Página do MST

Entre os dias 12 a 14 de novembro, agricultores, professores, gestores das escolas do campo e militantes do MST na Bahia se reuniram no Seminário Estadual de Educação, Agroecologia e Questão Ambiental. A atividade foi organizada pelo setor de Educação e o coletivo do Plano Nacional Plantar Árvores Produzir Alimentos Saudáveis, do MST, e com apoio da Secretaria de Educação do estado da Bahia.

O debate se deu no contexto das mudanças climáticas e as crises ambientais causadas pelo capital e que afetam diretamente os territórios camponeses, além de desvelar as falsas soluções colocadas pelo capitalismo verde. Umas das sínteses na discussão da questão ambiental é que não há forma de superar as crises ambientais sem superar o modelo capitalista que cria e lucra com as contradições. 

Para Bárbara Loureiro, da coordenação nacional do Plano Plantar Árvores Produzir Alimentos Saudáveis: “Temos a necessidade de denunciar e enfrentar os mecanismos que tentam privatizar, financeirizar e mercantilizar a natureza. Para nós, essas não são as soluções que atendam ao povo brasileiro, sobretudo nos acampamentos e assentamentos de reforma agrária”. Afirma Loureiro.

Fotos: Ana Terra, Daniel Violal e Isy Sales, do coletivo de comunicação do MST

Durante os três dias de encontro, foi dialogado sobre o programa de Reforma Agrária Popular e foi momento de anunciar a partir do Plano Nacional Plantar Árvores Produzir Alimentos Saudáveis formas de fazimento, reais e concretas, de superação da crise ambiental.

“Nesse contexto histórico não é uma alternativa, mas um caminho de construção e superação desse modelo. Passamos esses três dias, dedicados a afinar a estratégia do Plano, o ato de politizar o plantio de árvores, e a necessidade de massificar nossos plantios e produção de mudas. Entendemos que plantar 100 milhões de árvores é uma resposta concreta de enfrentar a crise ambiental e anunciar o modelo que temos construído de reforma agrária popular. Que produz comida saudável, que planta árvores, recupera o solo e as águas, mas também produz novas relações humanas nos assentamentos de reforma agrária popular”. Finaliza Loureiro.

A preservação da biodiversidade está na centralidade das ações das famílias Sem Terra, e de acordo com Débora Nunes, da direção nacional do MST, a primeira tarefa deve ser a relação de cuidado e preservação da casa comum, a Terra.

“Essa relação se contrapõe à forma como o capital tem se utilizado da natureza, tornando tudo em mercadoria, sem levar em consideração a preservação, sem levar em consideração o cuidado com a casa comum. O seminário traz esse debate reafirmando o compromisso do MST, dos camponeses e camponesas, que tem a perspectiva da produção de alimentos saudáveis a partir dessa relação de equilíbrio com os bens comuns, cuidando da casa comum como condição da existência humana na terra”. Completa Nunes.

Durante os dias os participantes puderam dialogar e apresentar seus territórios, e também denunciar assédios que vêm sofrendo com projetos relacionados a crédito de carbono que busca mercantilizar as florestas em áreas de reforma agrária. 

Andrei Cornetta, Professor de Geografia e que trabalha com esse tema de mercado de carbono e políticas de mudanças climáticas esteve presente durante a atividade e falou sobre a importância dos movimentos sociais se apropriarem deste debate.

“É de extrema importância os movimentos sociais do campo, se apropriarem desse tema, nos assentamentos, nas terras quilombolas, nos territórios indígenas, nas reservas extrativista, são as principais áreas de vegetação preservada, são principalmente essas áreas que serão assediadas por empresas, por ONGs, que vão buscar desenvolver projetos de carbono a partir dessas áreas preservadas que os povos das florestas, o campesinato, os povos tradicionais preservam historicamente dentro do seu modo de vida. Cada vez mais os movimentos e os territórios vão ser assediados para transformar suas florestas em mercadoria. A lógica do capital penetra na própria dinâmica da planta no seu processo de fotossíntese e esse fenômeno é convertido em uma nova mercadoria”.

Sobre o crédito de carbono pelo professor Andrei Cornetta

O que é o crédito de carbono: Primeiro é necessário considerar que ele está ligado com as mudanças climáticas, e há um entendimento que as mudanças climáticas tendem ao aquecimento global em função das emissões históricas de gases de efeito estufa. O crédito de carbono foi um dos mecanismos criados em instâncias internacionais para mitigar as emissões de gases de efeito estufa. Funciona como uma espécie de compensação para quem emite acima dos limites estabelecidos. Exemplo, se uma empresa dos países do norte extrapola suas emissões, em vez de reduzir de fato as emissões ela vai comprar um crédito de carbono que vai compensar esse excedente.

Como surgem os créditos de carbono: Eles estão ligados a algumas atividades econômicas que vão demonstrar que estão reduzindo suas emissões. Exemplo, uma usina de cana de açúcar que deixa de consumir energia de origem fóssil e passa a produzir energia a partir do bagaço da cana de açúcar ou do próprio vinhoto. A partir da contabilidade feita nessa experiência se emite um crédito de carbono que vai ser negociado no mercado financeiro, para que uma empresa que tenha limites de emissão compre esses certificados para comprovar que atingiu a sua meta. Isso também pode ser feito no caso de florestas. Toda planta, no seu processo de fotossíntese vai absorver o dióxido de carbono da atmosfera, vai transformar o carbono em matéria lenhosa e liberar o oxigênio. Disso, é feita uma contabilidade de uma área florestal, inclusive pode ser de monocultura de eucalipto. Essa contabilidade vai demonstrar que aquela área armazena X toneladas de carbono. Feita a comprovação, os representantes do projeto ou empresa podem fazer a certificação e emitir essa mercadoria que vai servir para compensação de um poluidor de outro lado do mundo.O crédito de carbono não é a redução de emissão e sim a compensação de empresas poluidoras: Essa é a lógica do mercado de carbono, que funciona dentro da compensação e comercialização via financeira de algo natural. O argumento das políticas que vem atuando nesse sentido, principalmente em relação ao aquecimento global, é que, é possível estabelecer um suposto equilíbrio entre emissões e compensação.

Fotos: Ana Terra, Daniel Violal e Isy Sales, do coletivo de comunicação do MST

Fotos: Ana Terra, Daniel Violal e Isy Sales, do coletivo de comunicação do MST

*Editado por Priscila Ramos