Jornada de Agroecologia

Agroecologia é modo de vida ancestral, diz Chico César

Após passagem de Leci Brandão e Bia Ferreira, Chico César subiu no palco da 20ª Jornada de Agroecologia

Foto: Juliana Barbosa

Por Murilo Lemos Bernardon
Da Página do MST

Com muita dança e voz, Chico César fez um show histórico na noite do último sábado (25) no encerramento dos espetáculos noturnos da 20ª Jornada de Agroecologia, no campus Rebouças da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba. Conhecido pelo perfil ativista, o artista paraibano falou sobre sua identificação com a agroecologia e sobre o papel da cultura na luta popular.

No palco da Jornada, Chico César trouxe uma performance divertida, mas com muita simbologia da luta camponesa. Durante o espetáculo, o cantor levantou enxada e bandeira do MST e recebeu uma cesta da Jornada, com a produção agroecológica vinda da Reforma Agrária. 

Foto: Lia Bianchini

Nascido no interior da Paraíba, Chico relata como era o trabalho do pai e a violência no campo: “Nós da zona rural, ele trabalhando de meeiro, e sempre no final do ano com dívidas ao patrão, porque comprava sementes, os insumos agrícolas, e sempre devendo. Não podia nem comprar um presente de natal pra gente, mas o presente de natal, meu pai, nós temos a vida inteira aqui, a nossa luta.”

Durante o show, cantou a música “Reis do Agronegócio”, que critica as práticas violentas dos latifundiários, como um hino dos ambientalistas — “de quem produz alimento sadio, de quem não usa veneno nas plantações, e é sempre uma alegria poder cantar essa canção com meus companheiros”, disse. 

Chico ainda relembrou uma de suas últimas passagens por Curitiba, na Vigília Lula Livre, onde cantou em um palco improvisado, na calçada. “Fiquei muito emocionado, porque me lembrei de eu tocando aqui em Curitiba do lado da cadeia, com um homem muito injustiçado lá dentro. E quem estava cantando lá do lado, que não arredou o pé? O MST. E quem tava na vanguarda dessa virada de página e nunca arredou o pé? O MST. Por isso que eu to sempre com vocês. Não sou eu que apoio o movimento, é o MST que me leva”, disse o cantor durante o show.

Foto: Juliana Barbosa

O cantor também disse que estava com saudade de tocar para os paranaenses e rechaçou a fama de reacionário que o estado do Paraná tem. “Eu sempre digo, que conversa! Lá tem tanta gente boa”, afirmou.

Confira a entrevista completa com Chico César:

Durante o governo Bolsonaro, falou-se muito sobre a função de resistência da cultura. Dentro de um governo progressista, qual é o papel da cultura?

Acho que o papel da arte é o de sempre: os governos passam, a cultura permanece, porque a cultura é uma manifestação do povo. Ela não depende de quem está no governo em quatro anos ou em outros quatro anos. A cultura existe sempre. Ela é um processo, não um produto. Acho que a cultura é mais ampla que a arte, assim como a arte é mais ampla do que o entretenimento. Então a cultura é um processo dinâmico, que vai se transformando, entra governo, sai governo e a cultura permanece.

Acho que o papel da cultura é tocar em aspectos da personalidade da sociedade que outras formas não tocam, que a política não toca, que a medicina não toca. O papel da cultura — até o Gil quando foi ministro falou, numa espécie de ‘acupuntura’ — é social. A cultura é isso: é tocar nesses pontos sempre, independente de quem  [no governo].

Você falou sobre sua origem no campo e do trabalho dos seus pais. Nesse contexto, o que significa a agroecologia para você?

Eu acho que a agroecologia é um conceito que de certo modo vem da universidade. Quando na verdade as populações ribeirinhas, os da herança quilombola, os nossos povos ancestrais, os indígenas, eles já faziam agroecologia sempre, aí agora há um um novo rótulo.

Acho que o que o meu pai fazia, meus tios, era essa tentativa de tratar a natureza como como parceira, não como um negócio, respeitando os tempos, as épocas. E produzindo alimento limpo, puro. Acho que esse é o nosso principal papel da agroecologia. Tendo a consciência de que ela sempre existiu. Agora o que há é um conceito. 

A última vez que você esteve em Curitiba foi durante a Vigília Lula Livre, certo?

Acho que eu vim num outro momento, após a vigília, que eu não lembro. Ah, eu estive aqui com a peça A Hora da Estrela. Eu fiz as músicas, não fui pro palco, subi só no final, mas eu estava lá com as canções e fiquei muito feliz de vir para cá. Naquele grande Festival de Teatro trazendo o tema da mulher nordestina que vai morar no Rio de Janeiro, perdida naquele ambiente e tal, fiquei muito feliz. Ainda quero vir aqui com o Violivoz em Curitiba. 

Foto: Lia Bianchini

*Editado por Gustavo Marinho