Jornada de Agroecologia

Jornada de agroecologia tem seminário sobre resistência feminina

Mesa reuniu lideranças das redes populares, movimentos sociais e povos originários e reforçou o papel das mulheres na defesa dos direitos humanos e da agroecologia

Seminário ocupou a programação da Jornada de Agroecologia no Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres

Por Isabela Cunha
Da Página do MST

Foto: Ana Beatriz Pazos

O 25 de novembro marca o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. A data homenageia as irmãs Mirabal, conhecidas como Las Mariposas, que, por sua resistência à ditadura de Rafael Leónidas Trujillo, na República Dominicana, foram torturadas e assassinadas neste dia, em 1960. Parte da programação da 20ª Jornada de Agroecologia, o seminário “Feminismo, segurança e soberania alimentar na construção da agroecologia: o protagonismo das mulheres do campo, da floresta e das águas” reuniu mulheres das diversas organizações sociais para discutir os processos de luta feminista e relatar as ferramentas de resistência.

“O oito de março foi sempre muito forte no MST, marcado como um dia em que as mulheres do movimento fazem alguma ação política mais ousada, direta. Junto dele, o dia 25 também vem ganhando força, começa a entrar no nosso calendário com um dia importante da resistência das mulheres”, comentou Priscila Facina, educadora e assentada do MST.

Composta por 8 mulheres de 6 organizações diferentes, a mesa abordou as muitas formas de violência que se abatem especialmente sobre as mulheres e, em contraposição, relatou as diversas ações de resistência feminista. Karina Gonçalves David, da rede Ecovida, relatou que quando assumiu a direção da rede sentiu o peso do machismo. “O machismo está em todos os lugares, inclusive nos espaços da egroecologia”, denunciou. Para combater a violência contra as mulheres no campo, Karina reuniu outras mulheres. Juntas, elas descreveram no estatuto de sua organização as diversas formas de violência sofridas pelas mulheres e definiram que não seria possível certificar propriedades onde houvesse a presença de alguma dessas violências. “Não adianta falar que o morango não tem veneno se a produção tem violência doméstica, se a mulher é silenciada, se o trabalho da mulher é invisibilizado no cuidado com a família, isso é envenenar e produção, isso não é agroecologia”, defendeu.

Isabela Cruz, do Quilombo Invernada Paiol de Telha, relatou como, por muito tempo, as mulheres mais velhas não reconheciam as suas práticas de resistência como feministas. “Lá, no quilombo, sempre foram elas a levantar o facão para se proteger da violência, sempre foram elas que ensinaram as crianças a não aceitarem violência”, comentou.

Em sua fala, Isabela Cruz também relembrou a morte de Mãe Bernardete, liderança quilombola assassinada a tiros em agosto desse ano, na Bahia. “As mulheres quilombolas morrem porque ousam lutar pelas suas comunidades, porque rompem o silenciamento imposto pelo racismo, e isso os agressores não conseguem aceitar”, analisa. “Mas nós vamos continuar lutando, com o facão e também com a caneta, com o microfone e o diploma. De onde nós viemos, estão vindo muitas mais”, concluiu.

Mulheres em luta, mulheres em resistência

Em sentido geral, o seminário reforçou a importância das mulheres na construção da agroecologia, o seu papel central da defesa dos direitos humanos e, portanto, a importância de resistir contra a violência que se impõe sobre as mulheres que militam. “Para fortalecer a nossa luta, precisamos do território, da floresta, da água, e umas das outras”, defendeu Neiva Gabriel Fernandes, representante do povo Guarani M’byá.

A faxinalense Marleide Ferreira reforçou a importância da identidade tradicional para os processos de luta por direitos. “A nossa identidade nos convoca para a luta e a resistência é o que sobrevive dentro de nós. Nós estamos lidando muitas vezes com gente má, capaz de tudo, temos que ser estratégicas, saber a hora de recuar e analisar o próximo passo, mas não deixem de lutar, não deixem de resistir”, convocou.

Ao final, a agricultora Suzana reforçou que o feminismo já está dentro das mulheres ainda que muitas vezes elas não saibam “a gente acha que só a gente não tem força, que só a gente tem dificuldades, mas juntas percebemos que todas estamos lutando e que muitas já lutaram antes de nós. A mulher que defende sua terra, a natureza e a agroecologia é uma mulher que resiste na luta”, conclui.

Ao todo, participaram da mesa  Priscila Facina Monnerat, educadora popular da agroecologia – MST;  Karina Gonçalves David – Rede Ecovida de Agroecologia; Isabela Cruz – Quilombo Invernada Paiol de Telha; Neiva Gabriel Fernandes, do povo Guarani M’byá; Susana Camargo – Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras da Barra do Turvo; Vera Lúcia da Silva – benzedeira  do assentamento Zilda Arns, Marilei de Fátima Ferreira – Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses. 

*Editado por Gustavo Marinho