Reforma Agrária Popular

Visita técnica comprova efetivação do plantio de Palmeira Juçara em comunidade do MST

Após cinco meses foi comprovado a efetividade da germinação das sementes que foram lançadas no mês de junho na região de Quedas do Iguaçu, no Paraná
Germinação da semente de Palmeira Juçara. Foto: Juliana Barbosa

Por Barbara Zem, Setor de Comunicação e Cultura MST no PR
Da Página do MST

Na quinta-feira (30), cerca de cinco meses após o lançamento das sementes, a efetividade da semeadura da Palmeira Juçara será avaliada pelos pesquisadores da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) em parceria com a PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica) e IBAMA.

Em junho de 2023, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em conjunto com órgãos públicos, lançaram 4 toneladas de sementes da palmeira juçara em uma área de 67 hectares de reserva legal da Reforma Agrária, na comunidade Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, região centro-sul do Paraná. 

As sementes da juçara têm um alto potencial de germinação se disseminadas em seu habitat natural, o lançamento foi feito com um helicóptero para que as sementes fossem bem espalhadas por toda a região de Mata Atlântica. A semeadura gerou resultados positivos, comprovando que já está acontecendo uma recomposição florestal da palmeira na região. 

“A gente vem a campo para medir e ver um pouco do resultado dessa ação que a gente fez no dia 7 de junho. Contamos com esses parceiros e essa atividade vai ser de demarcação, onde vamos marcar algumas coordenadas geográficas e fazer a medição e a contagem das sementes que estão em processo de germinação e crescimento nessa área onde foram lançadas”, comentou Josué Evaristo Gomes, integrante do MST, acampado no local e integrante do Grupo.

Semente de Palmeira Juçara. Foto: Juliana Barbosa

O objetivo dessa visita foi analisar o desenvolvimento das 4 toneladas das sementes lançadas e definir um protocolo para recomposição de florestas com esta metodologia. A equipe avaliou a germinação das sementes e o crescimento de várias mudas, algumas com mais de 15 centímetros de altura, começando ocupar espaço no sub-bosque da floresta onde não existem exemplares adultos da juçara.

“A dispersão aérea por helicóptero simularia a dispersão natural das sementes, realizada pelos ventos, pássaros ou morcegos. Nesta primeira campanha de monitoramento e planejamento constatou-se a germinação de muitas sementes em áreas onde não havia a presença de árvores adultas. Há indícios que a condição da área e a composição das espécies presentes possa favorecer o processo de germinação”, afirmaram Maria Elisa Marques Vieira (Chefe) e Luís Cláudio Landre Lot (Substituto), do Núcleo de Biodiversidade e Florestas – NUBIO-PR, Ibama-PR.

Após a avaliação em campo, definiu-se a metodologia para iniciar um trabalho de mestrado da UFFS que vai avaliar a efetividade da semeadura realizada por meio de helicóptero e iniciar o monitoramento a longo prazo destas áreas, verificando a germinação das sementes por metro quadrado, se a dispersão está homogênea, entre outros parâmetros.

Segundo Jarbas Aguinaldo Teixeira, da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu (MARP.CD), a semeadura aérea é uma iniciativa interessante, visto que a palmeira juçara, fruto conhecido como o açaí da Mata Atlântica, tem dificuldade para se desenvolver em áreas abertas, sendo necessária a proteção da floresta para ela crescer.

Germinação da semente de Palmeira Juçara. Fotos: Juliana Barbosa

“Além de ajudar na recomposição da Mata Atlântica, a semeadura representa uma forma de economia agroflorestal utilizando o açaí juçara como fonte de renda sem degradar a floresta, além de estimular a proteção das florestas”, resume Jarbas. O objetivo é explorar apenas a semente da palmeira, o açaí, sem fazer o corte da árvore para retirada do palmito. A extração ilegal do palmito é um dos principais motivos para que a espécie esteja ameaçada de extinção, além de ser crime ambiental.

Para Rodrigo de Andrade Kersten, Doutor em Engenharia Florestal – Conservação da Natureza da PUC PR, o registro, embora preliminar, de suas sementes começando a germinar ao abrirem suas delicadas folhas palmadas para as réstias de luz que penetram nas copas, é um alento e um sopro de esperança na busca pela conservação da natureza.

Esperamos que em anos vindouros estas matas, ora completamente alteradas, possam recuperar um pouco sua exuberância e voltar a oferecer serviços ecossistêmicos de maior qualidade e quantidade e a sustentar fauna e flora mais abundantes e equilibradas. O principal objetivo da humanidade, se deseja sobreviver ao futuro, é a preservação e recuperação das florestas”

Rodrigo de Andrade Kersten

Participaram da ação profissionais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), do Laboratório Vivam de Sistemas Agroflorestais (UFFS), da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Curitiba, da Itaipu Binacional, indígenas da Brigada Federal Rio das Cobras/PREVFOGO de Nova Laranjeiras, da cooperativa CREHNOR, do Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (Ceagro), famílias da comunidade que participam do grupo de produção orgânica Produzindo Vidas e lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) da região.

Fotos: Juliana Barbosa

Luís Cláudio Landre Lot comentou que o monitoramento da área contou com sobrevoos de drone para elaboração de ortofotomosaico que permitirá o registro da estrutura da floresta existente e sua evolução, na comparação com futuros registros.

Vista da região onde foram lançadas as 4 toneladas das sementes. Fotos de drone: Luís Cláudio Landre Lot.

“Saímos com a certeza que o reflorestamento da Palmeira Juçara foi um sucesso! Que essa é uma etapa exitosa do desafio de plantar árvores e produzir alimentos saudáveis! E vamos continuar trabalhando para monitorar a história da Juçara no Assentamento Dom Tomás Balduíno por, no mínimo, 10 anos!!!”, comentou Rodrigo Ozelame da Silva, Pesquisador de Pós Doutorado do Programa de Pós Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável (PPGADR-UFFS).

Lançamento das 4 toneladas de sementes

Lançamento das sementes de Palmeira Juçara. Foto: Juliana Barbosa

A ação fez parte do Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, lançado pelo MST em todo o Brasil em 2020. E tem como objetivo plantar 100 milhões de árvores em dez anos nas escolas do campo, cooperativas, centros de formação técnica, praças, avenidas e nas cidades, fortalecendo a produção de alimentos saudáveis nas áreas de assentamento e acampamentos do MST.

“Esse projeto faz parte do Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, do MST, que está atrelado a preservação ambiental, mas também como uma produção de alimentos saudáveis, juntamente com isso vem a geração de renda a partir do extrativismo do fruto da Palmeira Juçara, que é o foco do trabalho”, comentou Josué sobre a atividade do dia 30 de novembro.

A juçara é uma das espécies típicas do bioma Mata Atlântica ameaçadas de extinção, e a extração ilegal de seu palmito é o principal motivo da redução expressiva da quantidade da palmeira da floresta. Esse é um dos motivos que levou esses órgãos a tentar reflorestar essa semente.

O fruto da palmeira juçara, também conhecido por “açaí da juçara” ou “açaí da Mata Atlântica”, possui uma casca lisa, com uma polpa fina que envolve a semente, semelhante ao açaí da Amazônia. Rica em antioxidantes, a polpa representa um importante alimento para as comunidades tradicionais, mas também é utilizada na produção de sorvete, farinha, doces e sucos.

Segundo o novo atlas divulgado no relatório da SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional Pesquisa Espacial (Inpe), divulgado em maio deste ano, o Paraná é o terceiro estado do país que mais destrói o bioma. Foram 2.883 hectares de corte ilegal em 2022, deixando o Paraná atrás de Minas Gerais e Bahia. Em todo o País, mais de 20 mil hectares de floresta foram destruídos no ano passado.

“A reintrodução desta espécie-chave associada à agricultura familiar, tem o potencial de propiciar um avanço ecológico significativo nesses ecossistemas. Suas sementes atraem aves das mais diversas, sua abundante floração é sustento para variadas espécies de abelhas, sua sombra impede a entrada de gramíneas, suas raízes revolvem e oxigenam o solo; sua produção dá sustento ao ambiente e à sociedade”, explica Rodrigo Kersten.

*Editado por Fernanda Alcântara