Solidariedade

Ato de solidariedade marca dia de luto em acampamento do MST atingido por incêndio no PA

Representantes de governos e de movimentos populares se solidarizaram às vítimas da tragédia do último sábado (11)
Ato em memória às nove vítimas da tragédia também foi marcado por reivindicações pela efetivação da reforma agrária no país. Foto: Valbianne Gama/ MST

Por Mariana Castro
Do Brasil de Fato 

A segunda-feira (11) foi marcada por luto e solidariedade no acampamento Terra e Liberdade, do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Parauapebas, no Pará. No último sábado (11), nove trabalhadores morreram no local vítimas de um incêndio provocado por um curto-circuito durante a instalação de uma antena de internet que se chocou com fios de alta tensão. 

Com a presença de parentes de vítimas, uma corrente para o amparo social das famílias enlutadas e de todas aquelas que permanecem acampadas foi formada, com a realização de um ato político em memória dos sem terra mortos na tragédia. 

Segundo o MST, todas as vítimas fatais do incêndio compõem quadros da luta por reforma agrária, uma vez que até mesmo os três trabalhadores da empresa G5 Internet eram jovens do assentamento Lote 7, que fica próximo à região. 

“Hoje é um dia de luto, que nós precisamos coletivamente abraçar as famílias que tiveram essa perda duríssima, fruto de um acidente, e nós não podemos perder a capacidade de se indignar, ao perder companheiros que tinham os mesmos sonhos de cada companheiro e companheira que está aqui, que é o sonho da terra prometida. Não podemos perder a resistência e a luta desta região, desde os tempos de Serra Pelada”, pontuou o coordenador nacional do MST durante o ato, João Paulo Rodrigues. 

João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, durante ato em memória às vítimas do incêndio. Foto: Valbianne Gama/ MST

Uma comitiva formada por representantes de órgãos municipais, estaduais e federais se dirigiu ao acampamento após reunião no assentamento Palmares II, também localizado em Parauapebas. O momento de consternação pelas perdas também foi marcado por reivindicações por ações concretas que garantam segurança e vida digna às famílias acampadas na região. 

Na área, são cobradas medidas emergenciais de acesso à água potável, cestas básicas, além de amparo psicológico e social de toda natureza, considerando a precariedade do ambiente em que as famílias acampadas se encontram provisoriamente. 

Entre os representantes do governo federal, enviados ao local a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estavam a secretária nacional de Diálogos com a Sociedade e Articulações Políticas, Kelli Mafort, o presidente nacional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), César Aldrighi, e o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira

“Ele [Lula] acompanhou o drama de vocês, está acompanhando a luta e demonstrou a preocupação de dar uma resposta muito forte a essa situação. Conversei com o governador [do Pará], Helder Barbalho, que também me disse que vai desempenhar todos os esforços nessa direção. Está aqui também toda a equipe do Incra, por isso quero trazer minha solidariedade ao MST e às famílias”, garantiu o ministro Teixeira. 

Além de prestar solidariedade às famílias, o presidente do Incra, César Aldrighi, garantiu o andamento de pautas de reivindicações, feitas ainda antes da tragédia, em reuniões realizadas em Marabá e em Brasília. 

“Acordamos aqui com vocês que o cadastramento das famílias do acampamento Terra e Liberdade começa nesta semana. Vamos fazer todos os cadastros e oferecer também os dados do cadastramento para o governo do estado e para a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], para que a gente possa oferecer as cestas básicas, um dos pedidos de vocês. Vamos começar a atender também às demais pautas, como a vistoria das 19 áreas apresentadas, considerando quatro delas como prioridades ainda neste mês de dezembro”, pontuou Aldrighi. 

Mais de mil famílias integram o acampamento Terra e Liberdade, em Parauapebas (PA). Foto: Valbianne Gama/ MST

O prefeito de Parauapebas, Darci José Lermen (MDB), que acompanha a situação, também se solidarizou com os acampados e declarou apoio no sentido de fortalecer as relações governamentais e amparo às famílias.   

“Além de garantir que a gente possa continuar tendo essa estrutura para poder resistir, a nossa próxima tarefa é sentar com o movimento e encontrar um local mais adequado para que as famílias possam aguardar com dignidade até o dia 25 de dezembro”, garantiu Lermen.

A direção do MST no Pará informou que segue em reuniões nesta segunda-feira e propõe uma extensa de agenda de compromissos em todas as esferas de poder, em caráter emergencial, a fim de garantir amparo às famílias e a atenção imediata às pautas de reivindicações, que segundo o movimento, representam a garantia de vida daqueles que permanecem no acampamento. 

Vítimas e velórios

Paralelamente à presença de familiares no ato de solidariedade, outros representantes do movimento participaram durante toda esta segunda-feira dos velórios e enterros das nove vítimas, que conforme desejo das famílias, seguiram de maneira mais íntima e em diferentes pontos da região.

De acordo com a direção do MST do Pará, as vítimas são: 

– Francisco Nascimento de Sousa Júnior
– Gabriel Pereira da Silva
– Geovane Pereira dos Santos
– Jovenilson Aragão Trindade
– Francisco Ferreira
– Francisco De Assis Pereira Rodrigues
– Fernanda Sousa de Almeida
– Eva Maria da Conceição Silva
– Uma pessoa ainda sem identificação, em aguardo de equipe de legistas

Campanha de solidariedade

Apesar da dor, as mais de mil famílias que seguem acampadas no Terra e Liberdade consideram este um momento de reflexão e luta em defesa da reforma agrária. Diante das condições, o MST tem estimulado campanhas de arrecadação de recursos, cestas básicas, colchões e outros itens que possam ajudar as pessoas do acampamento. 

Uma das ações é organizada pelo Instituto de Agroecologia Latino-Americano Amazônico (Iala Amazônico), que constitui um espaço de resistência na região. Recursos em dinheiro podem ser enviados por meio do PIX: [email protected]. Itens para doação podem ser destinados ao Centro de Direitos Humanos de Palmas, capital do Tocantins, localizado na Quadra 306, Rua Alameda 04, Lote 02. 

Edição: Geisa Marques