América Latina

Foz do Iguaçu receberá Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos

A ação será de 22 a 24 de fevereiro do ano que vem, com previsão de mais de 4 mil participantes
Card divulgação

Por Ednubia Ghisi, Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST

A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e a Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) irão sediar a Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos, de 22 a 24 de fevereiro de 2024. O evento acontece em Foz do Iguaçu (PR), marco tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, e deve reunir mais de 4 mil pessoas de diversas nacionalidades. 

A preparação da Jornada já indica o esforço de unidade e integração entre diferentes forças políticas, movimentos populares, sindicais, movimentos de mulheres, estudantes, organizações e intelectuais latino-americano e caribenhos. Estão previstas conferências e mesas de debate, apresentações culturais, feira de alimentos e pratos típicos, artesanato e itens da economia popular e solidária. 

Para Messilene Gorete, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e integrante da coordenação do encontro, a Jornada cumprirá um papel de (re)impulso para processos de integração e unidade que ganharam forças entre 2005 e 2016, quando o continente teve um ascenso dos projetos governamentais que estimularam a integração dos povos. A militante relembra ações importantes realizadas anteriormente, como a campanha dos 500 anos do povo indígena, negro e popular no continente, as mobilizações contra a Área de Livre-Comércio das Américas (Alca) e os Fórum Sociais Mundiais. 

“Não será um espaço para fazer diagnóstico do que já sabemos que temos no continente, de análise da crise e desafios, e sim para melhor referendar as propostas que temos construído até aqui. Ao mesmo tempo, queremos colocar na agenda que essa integração só será possível se caminharmos juntos, governos, estados e povos”, garante Gorete, que integra a coordenação política da Aliança Bolivariana dos Povos – Alba Movimentos e a Assembleia Internacional dos Povos (AIP), também organizadoras da atividade. 

A Jornada ainda será espaço para reafirmar a luta anti-imperialista no continente, em especial com o povo cubano e venezuelano, e de todos os povos vítimas de imperialismo no mundo, como o caso mais grave enfrentado na Palestina. 

A ação é realizada pela Alba Movimentos; AIP; Confederación Sindical de Trabajadores/as de las Américas (CSA); Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes (Oclae); Jornada Continental pela Democracia e Contra o Neoliberalismo, Unioeste; UNILA. O lançamento da Jornada ocorreu em Montevidéu, no Uruguai, com a presença de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e um dos incentivadores da Jornada. 

Confira aqui o lançamento na íntegra: 

Carol Proner, da Associação Latino-americana de Juristas pela Democracia, participou do lançamento de forma virtual.

Também convocam a este processo Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, Argentina, João Pedro Stedile, do MST do Brasil, Carol Proner, da Associação Brasileira de Juristas e Rafael Freire Neto da Jornada Continental pela Democracia e Contra o Neoliberalismo. Entre os convidados especiais, para um ato no dia 24 estão o presidente Lula e Mujica. 

Registro do lançamento da Jornada, em outubro de 2023, no Uruguai (da esquerda para direita: Rafael Freire, secretário-geral da CSA, Mujica, Misselene Goreti, do MST, e ex-presidente da Colômbia, Ernesto Samper. Foto: Daniel Spinelli

Cultivo da unidade e da solidariedade

Durante a reunião de preparação da Jornada, realizada entre os dias 6 e 7 de dezembro na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP), a coordenação do encontro firmou o compromisso coletivo com a construção da unidade e da solidariedade entre os povos. 

Reunidos ao som da música “El Pueblo Unido Jamás Será Vencido”, do tradicional grupo chileno Quilapayún, o grupo de coordenadores plantou uma muda de cedro, como parte do bosque da solidariedade da ENFF. 

“Esse é um pé de cedro, madeira de lei, forte, de resistência, simbolicamente que essa resistência dos povos da América Latina tem mantido permanentemente, que nós tenhamos nesse pé de cedro essa força, e que nesse momento de uma jornada continental, que possamos fortalecer cada vez mais essa lutas”, disse a coordenadora da ENFF, Rosana Fernandes, durante o ato. Os plantios no bosque começaram junto com a inauguração da Escola Nacional, em 2005, e já soma mais de 600 espécies, espalhadas pelos 12 hectares da escola.  

Plantio da muda de cedro no Bosque da Solidariedade da ENFF. Fotos: Lucas Camargo

Rafael Freire, Secretário Geral da CSA, uma das organizações integrantes da coordenação da Jornada, lembra que a ENFF foi um dos espaços em que se gestou a retomada da unidade de integração latino-americana, que tem como símbolo a Jornada de Foz. “Esse cedro vai ser um símbolo disso. Nós vamos juntar todo mundo que luta na América Latina para construir uma vida melhor pro nosso povo, e derrotar a extrema direita”. 

Representantes da direção das duas universidades também participaram da reunião, e reafirmaram o compromisso com a organização da atividade. “Nós somos uma universidade que tem uma missão, que é promover e ajudar a construir a integração latino-americana, por meio das nossas ações educacionais, culturais […]. Se trata de sermos parceiros dos movimentos e fazermos uma interlocução, contribuindo conjuntamente para essa missão da integração”, disse Rodnei Lima, vice-reitor da UNILA. 

No mesmo sentido, o diretor geral da Unioeste, Sergio Fabriz, comenta sobre o sentido estratégico do diálogo entre movimentos sociais e populares com a universidade: “A Unioeste sempre teve essa relação com os movimentos sociais. E quando fomos convidados foi uma honra participar como colaborador desse evento […]. A gente fica muito feliz por participar desse movimento, e porque a gente entende como uma retomada da ciência, do ensino superior”. 

Renata Reis, militante da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), trouxe a memória de ensinamentos de Nalu Faria, líder da Marcha que faleceu no dia 6 de outubro: “Ela sempre trazia sobre a importância de construir uma luta internacional, e de construir isso em aliança. Nós somos um movimento feminista que acredita na auto-organização das mulheres, mas isso não se dá sozinhas, mas em conjunto”.  

Também integrante da Alba, Giovani del Prete elenca três componentes necessários para a integração: luta, formação e muita unidade. “Para nós da Alba Movimentos tem muito a ver fazer parte dessa construção, porque a gente constrói cotidianamente com as nossas organizações, ombro a ombro, se encontrando, e construindo o nosso internacionalismo proletário para fazer avançar a nossa luta por libertação da classe trabalhadora”. 

*Editado por Solange Engelmann