Meio Ambiente

COP não tem condições de apresentar soluções para a crise ambiental

Nota do MST sobre Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 28)
Foto: Reprodução

Da Página do MST

Nesta última quarta-feira (13), chegou ao fim a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 28). Realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, um dos maiores produtores de petróleo do planeta, a Conferência reuniu 65 mil pessoas entre chefes de governo, organizações internacionais, pesquisadores, empresas capitalistas, lobistas e segmentos populares. Depois de treze dias de reunião, a COP 28 não conseguiu apontar saídas concretas para a crise ambiental, assim como as edições anteriores. Por quê?

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) defende que não há solução para a crise ambiental nos marcos do sistema capitalista. Sendo assim, avalia que as COPs são, na verdade, ferramentas de implementação de uma lógica privada de exploração baseada na financeirização da natureza. Há anos denunciamos a captura corporativa que apenas aumenta a cada nova Conferência. Nesta última, por exemplo, mais de 2 mil representantes de empresas de combustíveis fósseis estavam presentes.

Quando a ONU coloca em papel central as grandes transnacionais como Nestlé, Bayer, Microsoft e ExxonMobil, fica evidente que seu objetivo é encontrar soluções financeirizadas e com base em inovações tecnológicas privadas, que permitam a estas empresas ampliarem seus lucros em um contexto de crise estrutural do capitalismo. Portanto, a atual governança mundial sobre o clima que é construída nesses espaços é completamente subordinada aos interesses destas grandes corporações e, consequentemente, do norte global.

A forma como a agenda da descarbonização está sendo pautada reduz e esvazia de conteúdo as contradições entre modelos que são antagônicos. Não faz sentido que as mesmas empresas e setores da economia poluidores sejam os mesmos a proporem as soluções. Por esse caminho as desigualdades continuarão a se aprofundar, pois aqueles que detém as riquezas não terão maiores responsabilidades, ao mesmo tempo que não serão os mais afetados pelas mudanças climáticas.

Por isto, não há “interesses comuns” entre os povos e a elite econômica mundial. Aos ricos interessa a ampliação de suas fortunas por meio da exploração dos bens comuns. Aos povos, interessa a vida, a defesa de seus territórios e modos de vida e a biodiversidade. Se estamos no mesmo barco, as elites não estão dispostas a compartilharem os coletes salva-vidas. Por isso não aceitamos compartilhar as responsabilidades pela crise ambiental com os reais responsáveis por ela, as grandes empresas capitalistas.

Enquanto as elites decidem a partilha de seus lucros dentro de salas climatizadas em países que por 200 anos vêm poluindo o mundo, a classe trabalhadora e os bens comuns da natureza sofrem cada vez mais com a crise estrutural do capital. Reflexos desta crise são o racismo ambiental, os eventos climáticos extremos, a destruição dos biomas, a fome, a desigualdade. No Brasil, o agronegócio e a mineração são os responsáveis diretos desta crise.

Nós, do MST, defendemos as soluções estão sendo gestadas no ventre dos povos. A soberania alimentar, que coloca o alimento no centro da organização produtiva da agricultura no lugar das commodities. A agroecologia, que garante novas bases para a produção desses alimentos, de forma integrada com a natureza, produzindo mais diversidade e sendo mais resiliente às catástrofes climáticas que já estão ocorrendo. O plantio massivo de árvores das milhares de espécies de cada bioma, como nova prática popular de enfrentamento ao desmatamento e à monocultura.

Todas essas ações passam pela necessidade de implementar a Reforma Agrária Popular. Sem enfrentar a concentração da terra, chaga secular do Brasil, é impossível termos um desenvolvimento nacional em bases sustentáveis. Por isso, ao chegar aos seus 40 anos e em atualização do seu Programa Agrário, o MST reafirma que seu compromisso de luta pela Reforma Agrária Popular como superação das formas destrutivas do agronegócio e contribuição para um país sem fome, justo e ecológico.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

15 de dezembro de 2023 – São Paulo (SP)