Direito à Educação

3,5 mil baianos aprendem a ler e escrever com a Campanha de Alfabetização “Sim, Eu Posso!”

Ato de formatura aconteceu durante o 36º Encontro Estadual do MST na Bahia
Campanha de Alfabetização foi desenvolvida este ano, em 16 municípios, de 6 regiões baianas. Foto: Jonas Santos

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Com a presença de 2 mil Sem Terra de dez regiões do estado da Bahia, o MST realizou na tarde desta quinta-feira (21), no Parque de Exposições Agropecuárias de Salvador, um Ato Político e Celebrativo de Formatura de 3,5 mil trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, que aprenderam a ler e a escrever através da Campanha de Alfabetização “Sim, Eu Posso!”.

Margarida, uma das educandas da turma na cidade de Paulo Afonso, ficou emocionada com o momento de formatura e destacou em sua fala a importância da Campanha.

A idade não importa e eu me sinto muito feliz por estar aqui, porque a gente aprende, brinca e se alegra. É mais que aprender a ler e a escrever. Eu tenho 78 anos e espero que possamos continuar estudando”, afirmou.

A Campanha, que ocorreu durante o ano de 2023, é fruto de uma parceria entre a Universidade Estadual da Bahia (UNEB), a Secretaria estadual de Educação (SEC) e o MST. O Ato, que fez parte da programação do 36º Encontro Estadual do MST na Bahia, foi marcado pela alfabetização de cerca de 3,5 mil pessoas, a partir de atividades desenvolvidas em 16 municípios, de seis regiões baianas.

Margarida, uma das educandas da turma na cidade de Paulo Afonso. Foto: Jonas Santos

O depoimento de Margarida abriu a mesa do Ato Político, que foi acompanhado por uma mística de abertura composta por elementos da educação, mas também da arte e da cultura desenvolvidas e fomentadas junto com as turmas. Músicas, cartazes e muitos gritos de ordem estavam presentes como símbolos da construção coletiva e dos aprendizados adquiridos durante a Campanha.

A mesa de abertura contou com a presença da reitora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Adriana dos Santos Marmori, da secretária de Assistência Social e Desenvolvimento Social do Estado da Bahia Fabya Reis, do deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), da integrante da Secretaria Estadual de Educação (SEC), Poliana Reis, dos dirigentes nacionais do MST, Evanildo Costa e Eliane Oliveira; além de representantes do governo municipal e militantes Sem Terra.

A reitora Adriana Marmori, destacou a importância desse momento. Para ela, o ano de 2023 foi de muitas lutas, enfrentamentos, mas também de muitas vitórias. “Há 17 anos que a UNEB trabalha com o MST e eu vejo o Movimento como o maior movimento social de luta por direitos no país. É nesse sentido que eu reitero a parceria do MST com a nossa universidade, principalmente, pelos frutos que estamos colhendo a partir da eliminação do analfabetismo no estado”.

Nesse sentido, Marmori afirmou que “a universidade aprendeu muito com vocês [com o MST]. Eu quero desde já agradecer por tantas contribuições e trocas”.

Poliana Reis, da SEC, na mesma linha, explicou que o “Sim, Eu Posso!”, por ser uma experiência e aprendizado desenvolvido em Cuba, “veio de muito longe” e possibilitou a construção de um processo capaz de dialogar com a realidade baiana, “concretizando um sonho” para os envolvidos.

Foto: Jonas Santos

Fabya Reis e Valmir Assunção chamaram atenção para a história do MST no estado da Bahia e para a ocupação da terra como um elemento primordial para a conquista de direitos. “Aqui está presente o nosso sentido de pertencimento. Quer dizer que estamos juntos por um único objetivo e isso, o MST tem nos ensinado desde a sua gênese. Quando assumimos o ‘Sim, Eu Posso!’, dizemos que é possível alfabetizar a Bahia. E com isso, romper as cercas do latifúndio e avançar nas trincheiras do ensino”, enfatizou Reis.

Já Assunção disse que a Campanha é resultado da nossa luta. “Só é possível tudo isso, porque é fundamental ocupar a terra. Se nós não termos a coragem e a determinação de ocupar nós não teríamos educação, saúde, alimentos saudáveis e desenvolver ações nas cidades para garantir dignidade para a classe trabalhadora”.

Aprender a ler e a escrever é revolucionário

Evanildo Costa e Eliane Oliveira, ambos da direção nacional do MST na Bahia, comentaram sobre a importância da alfabetização, como “um pilar da dignidade humana”. “Eu tenho certeza que a alfabetização é um ingrediente a mais para o nosso processo de construção de consciência e do fortalecimento das lutas que temos construído no último período”, explicou Costa.

Emocionada com o Ato de Formatura, Oliveira falou de sua história com a Educação do Campo e o significado familiar que esse momento representa. Ela lembrou que chegou a perder familiares próximos que não aprenderam a ler e a escrever, e como esse momento possui um peso especial. “A nossa luta se constrói todos os dias em diversas trincheiras. E nós aprendemos que a trincheira da educação é um espaço estratégico, que precisa ser massificada em nossa organização.”

Por isso, “a educação que liberta é revolucionária e precisamos viver essa revolução todos os dias”, concluiu a dirigente nacional.

Foto: Jonas Santos

Uma Campanha fruto da luta

A Campanha de Alfabetização foi construída como resultado da Marcha Estadual do MST na Bahia realizada em 2022, no trajeto entre Feira de Santana e Salvador. Na época, o então governador do estado, Rui Costa e o secretário de Educação, Jerônimo Rodrigues, assumiram o compromisso de fortalecer o método de alfabetização através da Campanha, que atuou no fortalecimento dos processos pedagógicos do MST.

*Editado por Solange Engelmann