Festa na Agrofloresta

Veja como foi a 4ª Festa da Reforma Agrária do MST em Antonina

A festa reúne a cultura camponesa e caiçara, reconhecida como parte do Calendário de Eventos Turísticos do Paraná
Grupo Mandicuera Fandango Caiçara. Foto: Juliana Barbosa

Por Juliana Barbosa do Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST

Em meio as agroflorestas construídas coletivamente pelas famílias que vivem de suas produções agroecológicas protegendo a vitalidade do bioma da mata atlântica No último sábado (09), foi realizada a 4a Festa da Reforma Agrária Popular Celebrando Cultura Caiçara e Camponesa organizado pelas famílias camponesas do assentamento José Lutzenberger, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizado em Antonina, no litoral do Paraná. 

A programação começou logo cedo com alvorada puxada pela Procissão da Bandeira do Divino, o ato de abertura começou e o povo já sentia o aroma do almoço que estava sendo preparado para fortalecer os participantes que logo após se deliciarem com a boa alimentação foram visitar as agroflorestas. 

Durante todo o dia houve feira de produtos agroecológicos e da economia solidária. As atrações culturais animaram ainda mais a festança e a peça de teatro “Brincadeira ou Injeção” animou as crianças e adultos. O samba foi por conta da Roda das Mana que fez todos balancearem o corpo, e claro, não podia faltar o tradicional baile de fandango puxado pelo Mandicuera com participação do grupo Dona Mariquinha que foi até raiar a manhã de domingo. 

O evento já é uma tradição na comunidade agroflorestal, reconhecido como parte do Calendário de Eventos Turísticos do Paraná. “Essa 4a festa é toda uma construção e a cada ano que ela acontece repete vai em um crescimento constante na ideia que ela não é uma festa eventual, ela faz parte de um calendário político da comunidade do município tenderá cada vez mais crescer se multiplicar e gerar uma participação massiva da sociedade”, afirma Roberto Baggio da Coordenação Nacional do MST. 

“A experiência é incrível porque o camponês ele tem as mesmas lutas que o caiçara, luta por território por direito, por defender um modo de vida, então a gente tá aqui hoje para nos contemplar nessa defesa de modo de vida. Viemos festejar conquistas e amarrar outras”, relata Aurélio Domingues Mestre de Fandango da Cultura Caiçara do litoral do PR. 

Abertura da festa com convidados institucionais e de movimentos. Foto: Juliana Barbosa 
Almoço servido pelas famílias do assentamento. Foto: Juliana Barbosa 
Aurélio Domingues Mestre de Fandango na abertura da festa. Foto: Juliana Barbosa 

Celebrando uma Conquista 

Esta edição também foi de celebração de uma conquista desejada há 21 anos: a formalização do assentamento e garantia do direito à terra para as mais de 20 famílias que vivem na comunidade. Após duas décadas de luta, a comunidade agroflorestal comemora a conquista definitiva da terra. 

Atualmente, 18 famílias de camponeses vivem na comunidade, localizada em parte da Área de Proteção Ambiental (APA) no litoral do estado. Antes da chegada dessas famílias, a área não era cuidada e não cumpria função social, era um território devastado pela pecuária extensiva de búfalo e por crimes ambientais, como o desvio do leito do Rio Pequeno, que atravessa o território.

Em 2004 quando a área foi ocupada desde então as famílias sofriam com ameaças de despejo pelo proprietário. Com a consolidação das famílias na área em 2022, e um intenso trabalho de recuperação ambiental e produção agroecológica, o pedido de reintegração de posse foi convertida em indenização ao proprietário pela Vara Cível da Comarca de Antonina. 

“Antes da ocupação a gente já pensava no projeto de desenvolvimento da área, debatemos com as famílias para discutir um modelo  agroflorestal coletivo. Tivemos dois processos de despejo onde a polícia entrou violentamente e a forma da gente conseguir debater com as comunidades ao entorno era do nosso plano de desenvolvimento da área, tivemos muito apoio dessas comunidades e também o acompanhamento do movimento (MST) discutiamos os crimes ambientais que o território tinha pelo antigo proprietário da fazenda”, disse Jonas Souza, produtor agroecológico e integrante da coordenação da comunidade.

Antes da área ser ocupada pelo MST
Depois da área ser ocupada pelo MST

Claudia Sonda, engenheira florestal servidora do órgão ambiental há 33 anos no Instituto Água e Terra (IAT), que acompanha a questão ambiental em diversas frentes como a de fiscalização, licenciamento e da recuperação relata sobre o ex latifúndio improdutivo, “esta área eu conheci quando era um latifúndio com búfalos e com várias infrações ambientais e hoje a gente se surpreende pq vê que é possível a recuperação com o tempo trabalho com uma outra visão/proposta de manejo. Cada vez que venho em uma área de Reforma Agrária renova minha esperança porque você vê que é possível é concreto é objetivo todo esse trabalho toda essa riqueza cultural social e ambiental”. 

Após 20 anos, hoje as famílias podem colher o fruto da conscientização da recuperação do solo na área. Cerca de 90% da produção da cooperativa local serve de alimentação às crianças das escolas estaduais de quatro municípios da região (Guaratuba, Morretes, Antonina e Pontal do Sul), pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Além disso, os agricultores também participam de feiras na região e comercializam cestas de produtos a moradores locais.

“Os movimentos sociais funcionam como uma grande bandeira, nos dão sinais de como as coisas funcionam e como as coisas devem funcionar. Nos dá exemplos da possibilidade da convivência da natureza, mas uma natureza com pessoas com gente que é possível esse convívio e mostra que é possível a recuperação de áreas a preservação a conservação junto com esses sujeitos”, relata Ralph Albuquerque, superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBAMA. 

Além das famílias camponesas e caiçara participaram também da festa o Instituto Água e Terra (IAT), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBAMA, Itaipu, Movimento Popular Por Moradia (MPM), integrantes do Plantear, representantes da prefeitura de Antonina e APP sindicato. 

Fotos: Juliana Barbosa

*Editado por Fernanda Alcântara