Meio Ambiente

MST debate conjuntura ambiental e alternativas à crise climática, em Guararema/SP

Reunidos no encontro da Coordenação Nacional, trabalhadores/as do Movimento discutem agenda de ações para a questão ambiental e a agroecologia
Foto: Juliana Adriano

Da Página do MST

A preocupação com as questões ambientais demarca o amadurecimento do projeto de Reforma Agrária Popular construído pelo Movimento Sem Terra nas últimas quatro décadas. Ela se tornou uma das linhas políticas de atuação do MST a partir do enfrentamento ao agronegócio e à concentração fundiária e, por outro lado, apresentando a viabilidade dos assentamentos rurais de Reforma Agrária, na produção de alimentos e na conservação dos bens comuns.

Para reforçar esse posicionamento e criar uma agenda de ações na perspectiva do combate à crise climática, os trabalhadores e trabalhadoras do Movimento, reunidos no encontro da Coordenação Nacional, em Guararema/SP, dedicaram esforços em debater a questão ambiental e a agroecologia.

Foto: Priscila Ramos

Para contribuir no estudo, o professor da Universidade Metropolitana de Santos, Andrei Cornetta, aponta que o debate da questão ambiental é um tema vivo na luta de classes na atualidade. Para o pesquisador, “é fundamental politizar o debate da questão ambiental, trazendo o debate da luta de classes, refletindo sobre luta de classes. Se o capitalismo está posto, a crise está posta, porque ela é intrínseca à lógica capitalista”.  

Andrei Cornetta. Foto: Priscila Ramos

A crise climática, enquanto produto direto da crise estrutural do capital, atinge diretamente a classe trabalhadora que, a partir do avanço das forças produtivos do agronegócio e da mineração sobre os biomas está vulnerável a um conjunto de crimes e seus efeitos como o desmatamento, a contaminação química, a desertificação, o desequilíbrio nos regimes hídricos e outros.

Maurren Santos. Foto: Priscila Ramos

Maurren Santos, do Núcleo de Políticas e Alternativas da FASE, apontou a importância de posicionar os debates da questão ambiental construídos no interior das organizações populares nos espaços de interlocução internacionais, como a COP 30, que acontecerá em Belém/PA no próximo ano.

“O Brasil atualmente vem vivendo uma grave crise climática, no sentido de que antes a gente parecia discutir muito esse tema no ponto de vista da teoria, do futuro, do que estava para acontecer, mas a gente percebe claramente que essas questões elas já atravessaram a realidade. A gente vem a cada dia com eventos extremos, com a falta de infraestrutura nas cidades, com a falta de políticas públicas para valorização do trabalhador, do campesinato, da produção de alimentos, entre outras, tendo um impacto muito grande por conta, seja das mudanças climáticas, e de outros tipos de crise ambiental, correlacionadas com essa”.

A preocupação de criar um processo de preparação e formação política das organizações populares para essas agendas internacionais significa enfrentar as grandes corporações transnacionais, que são as provocadoras dos crimes ambientais, mas estão colocadas dentro destes espaços para disputar suas narrativas e políticas públicas.

Cristina Reis. Foto: Priscila Ramos

Cristina Reis, da Sub-secretaria de Desenvolvimento do Ministério da Fazenda, trouxe para a plenária o desafio atual encarado pelo Governo Federal, que está voltado para pensar políticas de desenvolvimento que sejam inclusivas do ponto de vista da sustentabilidade, considerando que a transformação da economia desde uma perspectiva ecológica também precisa considerar a transformação do desenvolvimento social e cultural.

Desafios para superar a crise climática

Como proposta concreta de enfrentamento à crise climática, o MST vem avançando no modelo de agricultura baseado na agroecologia. O cuidado com os recursos naturais é um elemento central no processo de trabalho de base e formação dos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra, aliando à perspectiva de produção de alimentos, geração de renda e cuidado com os recursos naturais.

Durante o Encontro, foi realizado um diagnóstico das ações do movimento nos Biomas brasileiros. E evidenciou-se, a partir do diagnóstico, ações coletivas organizadas nos assentamentos de Reforma Agrária para a implantação de Sistemas Agroflorestais, recuperação ambiental, viveiros de produção de mudas de árvores nativas, processos de preservação da memória biocultural por meio do trabalho com sementes, quintais produtivos e outros.

Foto: Juliana Adriano

O marco do debate da superação da crise climática, para o MST, é apontar questões estruturais da sociedade atual se perpassam diretamente por um amplo processo de ressignificação do uso da terra. Fazer Reforma Agrária é um passo fundamental para enfrentar a causa do problema, que está no uso da terra para a acumulação de capital dos setores do agronegócio.

Uma das ferramentas que o MST criou no último período para fomentar o debate da agroecologia e da questão ambiental tem sido o Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis. Desde 2020 o Plano vem incentivando as famílias a construírem um amplo processo de conservação dos recursos naturais e dialogando com a sociedade sobre a perspectiva da agroecologia, no trabalho com a terra.

O resultado deste esforço coletivo é a marca de 25 milhões de árvores plantas, abrangendo uma área de 15 mil hectares. Para Camilo Santana, do Coletivo Nacional do Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, a avaliação é que no ano de 2023 o MST conseguiu dar um salto de qualidade nas ações do plano nacional, saindo de uma dimensão mais simbólica e mística do plantio e passando para a construção de ações de impacto.

“Compreendemos que é fundamental a construção e massificação do plantio de árvores como estratégia de adaptação às mudanças climáticas em curso. A síntese plantar árvores produzir alimentos saudáveis, materializada na agroecologia se apresenta como alternativa possível e viável para o enfrentamento da crise ambiental, em se tratando da produção agrícola e nossa base social tem entendido isso cada vez mais”.

*Editado por Solange Engelmann