Jornada dos Povos

Conheça os espaços de trocas de experiências e a integração durante a Jornada dos Povos 

Para além das conferências e mesas temáticas, diversos espaços permanentes ampliaram a diversidade de espaços na Jornada, realizada nos dias 22 e 23 de fevereiro, em Foz do Iguaçu
Foto: Juliana Barbosa

Por Jefferson Lopes, do Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST

Nos dias 22 e 23 de fevereiro, Foz do Iguaçu se tornou o epicentro de uma emocionante Jornada América Latina e Caribenha de Integração dos Povos, que reuniu cerca de 4 mil pessoas, vindas de mais de 20 países. Localizada nas fronteiras do Brasil, Argentina e Paraguai, essa cidade deslumbrante serviu como cenário perfeito para explorar a diversidade cultural, histórica e natural que caracteriza essas regiões tão distintas. 

Desde as Cataratas do Iguaçu, uma das sete maravilhas naturais do mundo, até a rica herança das culturas indígenas, cada momento dessa jornada foi marcado pela beleza, pela autenticidade e pela inspiração que só a América Latina e o Caribe podem oferecer. 

Para além das conferências e mesas temáticas, diversos espaços permanentes ampliaram as trocas de experiências e a integração entre os povos ao longo da jornada. Conheça um pouco mais de cada um desses espaços: 

Tenda da Biodiversidade

A Tenda da Biodiversidade promoveu o bem-estar, a saúde e a sustentabilidade ao longo da Jornada. O objetivo foi apresentar uma visão do “Bem viver”, integrando práticas agroecológicas, energia autossustentável e engenharia sustentável com utilização de bambu. O projeto visa beneficiar tanto o meio ambiente quanto as comunidades humanas.

O espaço oferece uma variedade de recursos, incluindo sementes agroecológicas, mudas de plantas, cadernos de agroecologia e informações sobre o manejo e colheita de bambu. Esses elementos visam incentivar práticas agrícolas sustentáveis e o uso responsável dos recursos naturais.

Foto: Juliana Barbosa

A Tenda da Biodiversidade é organizada por uma colaboração entre diferentes entidades, incluindo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Instituto de Desenvolvimento Rural/Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (IDR/CPRA),  Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e a própria Itaipu.

“A defesa da biodiversidade é fundamental, pois é o princípio da vida”, afirmou Camila Menezes Modena, do MST- PR, uma das organizadoras do projeto. Preservar e promover a biodiversidade não apenas sustenta ecossistemas saudáveis, mas também garante a qualidade de vida das gerações presentes e futuras. A Tenda da Biodiversidade é um exemplo inspirador de como podemos trabalhar em harmonia com a natureza para alcançar um futuro mais sustentável e equitativo.

Saúde Popular

Espaço da Saúde Popular. Fotos: Ludimila Bianca Santos

A Tenda da Saúde Popular garantiu uma variedade de processos e práticas voltados para o bem-estar e a troca de conhecimentos. Para além da administração de medicamentos, destacam-se as conversas e debates contínuos entre pessoas de diversos países, possibilitando a troca de informações e experiências. Terapias como massoterapia e escalda-pés foram oferecidas, assim como encaminhamentos médicos quando necessário, e medição de pressão.

Um aspecto essencial da Tenda foi o foco nos processos e na importância da medicação natural. Essa abordagem gera gratidão por parte dos beneficiados, que muitas vezes retornam em busca de aprender a produzir esses remédios em casa. Essa conexão com métodos naturais fortalece o vínculo e incentiva as pessoas a buscarem cuidados mais holísticos.

O espaço foi organizado pelo Setor de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com contribuições de companheiras do Levante Popular da Juventude. “Essa iniciativa é fundamental dentro da luta do MST, pois além de fornecer cuidados de saúde, reforça a importância do cuidado mútuo e solidário. A saúde popular é vista como um princípio fundamental para o bem-estar de todos”, como ressalta Sirlei Fátima Morais, do assentamento Guanabara, município de Imbaú, região norte, integrante da direção do Setor de Saúde. 

Armazém do Campo

Na banca do Armazém do Campo, uma variedade de alimentos ressoa com as raízes culturais e a diversidade dos povos. Das prateleiras repletas de arroz orgânico ao aroma da cachaça camponesa, cada produto conta uma história de tradição e conhecimento transmitido ao longo das gerações. O feijão, essencial na culinária brasileira, é um testemunho da riqueza agrícola que nossas comunidades cultivam. A erva mate, com sua importância cultural e ritualística, nos conecta às tradições dos povos guaranis e gaúchos. Os biscoitos artesanais e os sucos naturais refletem a criatividade e a habilidade dos produtores locais.

A alimentação que encontramos na banca do Armazém do Campo é mais do que simplesmente uma refeição, é um espelho da vasta diversidade dos povos e culturas que compõem nosso país. “Cada ingrediente carrega consigo uma história única, enraizada nas tradições e nos conhecimentos ancestrais dos agricultores e comunidades que os cultivam. 

Fotos: Juliana Barbosa

A variedade de alimentos reflete a riqueza da terra e também a riqueza cultural que permeia nossa sociedade”, assim Ademir Fernandes, coordenador da Central de Distribuição da Reforma Agrária em Curitiba, ressalta a capacidade produtiva do nosso povo, evidenciando que a diversidade de conhecimentos e práticas agrícolas resulta em uma ampla gama de alimentos disponíveis. Essa capacidade de produção não apenas alimenta nossos corpos, mas também fortalece nossas identidades e laços comunitários.

Assim, ao explorarmos a banca do Armazém do Campo e nos deliciarmos com seus produtos, somos lembrados da riqueza cultural e da diversidade dos povos que moldam nossa sociedade e enriquecem nossa mesa.

Ciranda Infantil

A Ciranda é muito mais do que uma simples atividade recreativa, é um espaço de aprendizado, interação e desenvolvimento para as crianças. A ação foi organizada pelo Setor de Educação do MST, com a participação de 25 crianças em média por dia, sendo metade delas provenientes de outros países como Uruguai e Venezuela. 

“As atividades na ciranda são cuidadosamente planejadas para proporcionar experiências enriquecedoras. As crianças são agrupadas por idade, possibilitando uma abordagem mais específica às suas necessidades. Por meio de pinturas, brincadeiras, cantigas de roda, modelagem de massinha, teatro, fantoches, intervenções com palhaços e atividades artísticas com elementos da natureza, elas exploram diversas formas de expressão e aprendizado”, destaca Jones Fernando Jeremias de Lima, membro do setor de educação do MST. Ele enfatiza a importância da Ciranda como parte do compromisso do MST com a educação integral das crianças, que vai além do ensino formal.

Atividades na Ciranda Infantil, com participação especial da Cia Mirabólica. Fotos: Juliana Barbosa 

Por meio da ciranda, as crianças têm a oportunidade de aprender de forma lúdica e participativa, desenvolvendo habilidades essenciais para a vida em sociedade, como trabalho em equipe, criatividade, empatia e respeito ao próximo. Além disso, a diversidade cultural presente na ciranda, com a participação de crianças de diferentes países, promove o intercâmbio cultural e o entendimento mútuo desde a infância.

Assim, a ciranda se apresenta como um espaço privilegiado de educação não formal, onde as crianças podem crescer e se desenvolver de maneira integral, fortalecendo os laços comunitários e cultivando valores de solidariedade e inclusão.

Cozinha comunitária 

A cozinha da Brigada do MST José Martins, na região Oeste do Paraná, tem uma finalidade que vai além do simples preparo de alimentos. Ela é um símbolo da luta e da esperança. 

“A cozinha é parte integrante da luta pela terra, que é o desejo de todos na comunidade. Cada atividade realizada na cozinha é uma forma de resistência e luta por seus direitos”, afirma Dalva Maria da Silva, moradora da comunidade Chico Mendes, em Matelândia, e integrante da cozinha desde as reuniões de preparação da Jornada, iniciadas em outubro de 2023. A Brigada Cacique Guairacá, da região de Guarapuava, também se somou à cozinha ao longo do encontro. 

Dona Dalva Maria da Silva, integrante das cozinhas do MST durante a Jornada. Foto: Renan Belusso

O público atendido pela cozinha é diversificado, incluindo aqueles que estão trabalhando no evento, participando da disciplina ou ciranda, bem como as pessoas que coordenam as atividades. A alimentação geral da Jornada ficou por conta do restaurante universitário da Unila. A ênfase é em oferecer uma abundância de comida para fortalecer aqueles que estão envolvidos na luta.

A alimentação servida na cozinha é toda fruto de doações, vindas de acampamentos e outros assentamentos MST, como um reflexo do esforço coletivo da comunidade. Desde o plantio até a colheita, cada alimento é resultado do suor e da dedicação dos membros da comunidade, evidenciando a importância da solidariedade e do trabalho conjunto na busca por justiça e igualdade.

Assim, a cozinha não é apenas um local de preparo de alimentos, mas um espaço de resistência, solidariedade e esperança para a comunidade, representando a força e a determinação do povo em sua luta pelos seus direitos e por um futuro melhor.

Banca indígena Jamamadi

Os Jamamadi, povo indígena localizado no estado do Acre, Brasil, desempenham um papel crucial na representação e preservação da cultura indígena na América Latina. A comunidade Jamamadi não só mantém vivas as tradições ancestrais, mas também é ativa na defesa dos direitos indígenas e na proteção do meio ambiente. Este foi um dos diversos outros Povos Indígenas presentes na Jornada. 

A inclusão da questão indígena é fundamental ao discutir os temas latino-americanos e caribenhos, pois os povos indígenas são parte integrante da história, da identidade e da diversidade cultural da região. Ao ignorar suas vozes e necessidades, estaríamos negligenciando um aspecto essencial da sociedade latino-americana e comprometendo seu desenvolvimento sustentável. Como Kixirrá Jamamadi enfatiza, “sem nós, não teremos futuro”, ressaltando a importância de reconhecer e respeitar a contribuição dos povos indígenas para o presente e o futuro da América Latina.

Fotos: Juliana Barbosa

A produção de artesanatos e biojoias pelos Jamamadi reflete sua habilidade artística e conhecimento tradicional e também é uma fonte vital de renda para suas famílias e comunidades. Os produtos, que incluem itens para uso doméstico e acessórios como brincos e pulseiras, atendem à demanda do mercado e promovem a sustentabilidade, pois são feitos com materiais locais e técnicas tradicionais.

Além disso, o dinheiro arrecadado com a venda desses produtos é reinvestido na comunidade, apoiando iniciativas educacionais, como a compra de materiais escolares para alunos, e contribuindo para o fortalecimento da renda familiar. Portanto, ao valorizar e apoiar os produtos dos Jamamadi, estamos não apenas promovendo o desenvolvimento econômico e cultural de suas comunidades, mas também reconhecendo sua importância na construção de uma América Latina mais inclusiva, justa e sustentável. 

*Editado por Fernanda Alcântara