“O pessoal da cidade nunca comeu um pé de alface com gosto de alface”

Cleide Oliveira, produtora e vendedora na 1a Feira da Reforma Agrária, conta sua história e mostra os frutos (e doces) da Reforma Agrária.
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Cleide em sua barraca na 1ª Feira da Reforma Agrária

Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST

 

 – Da onde vocês são?
 – Que fruta é essa?
 – Como come isso?
 -Vamos levar.
 

As perguntas e a consequente compra dos produtos são cenas comuns na 1ª Feira da Reforma Agrária. Na barraca da goiana Cleide Oliveira, de 39 anos, não é diferente. Cleide mora em Corumbá e é uma das acampadas no acampamento Dom Tomás Balduíno.

Na sua barraca, encontra-se à venda doce de manga, de caju, mel, queijo fresco, castanha de barú (torrada e natural), tamarino e geleia de jabuticaba (Clique aqui para ver mais fotos da feira).

Cleide afirma que o tamarino e o barú, frutas que não são comuns para a população paulistana, tem muitas utilidades. “Dá pra comer o tamarino, fazer suco, picolé. O barú, além de comer, dá pra colocar em doce, sorvete, e dizem que é bom para tratar doenças de coluna, câncer, além de ser o &”39;viagra do serrado&”39;”, diz rindo.

Andreia Rodim e Raul Neto, um casal que passava pela feira, se aproxima da barraca de Cleide.

 

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-Vamo levar? Diz a vendedora, com uma voz animada.

– Moça, dá vontade de levar tudo – responde Andreia.

Cleide oferece a castanha torrada do barú. Raul come uma e olha para Cleide, impressionado.

– É a melhor castanha que já comi, vou levar. Esse tipo de alimento devia ser parte do nosso cotidiano – diz Raul.

–  É pra isso que a gente entra no movimento  – afirma Cleide.

Andreia pega o queijo.

-Leva um “queijin fresquin” também – diz Cleide, com um sotaque à mineira.

O casal concorda e compra.

– Acho que engordei demais nesses tempo por causa dessas comidas transgênicas – diz Andreia.

– Você nunca sabe de onde vem e o que tem nessas comidas – concorda Cleide.

O casal coloca o queijo e as castanhas em uma sacola. Raul estende algumas notas a Cleide.

– Dá desconto de um real moça?

-Claro!

Os dois se despedem, prometendo retornar e comprar mais.

“A gente vive muito bem no campo. O pessoal da cidade nunca comeu um pé de alface com gosto de alface”, pondera Cleide.

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A goiana é mãe de duas filhas adultas, e mora no acampamento junto com o marido. Seu pai e irmã também são acampados.

Cleide conta que é a primeira feira do MST em que vem para expor e vender alimentos. Além dela, há outra barraca do acampamento na feira.

“A gente resolveu preparar esses doces e as castanhas especialmente para a feira. Plantamos e pegamos as frutas, recebemos doação dos potes e açúcar de muita gente, e o que for vendido vai ser dividido entre todos, como cooperativa”. O sucesso dos doces em Corumbá foi tanto que os acampados irão continuar a produzir após a feira.

Cleide entrou no MST há um ano e cinco meses, pouco tempo antes da ocupação que deu origem ao acampamento Dom Tomás. Trabalhou 12 anos em um restaurante com a mãe em Anápolis.

“Criei minhas filhas, e depois quis ir pra roça. Aí eu e meu marido começamos a participar das reuniões do MST e fomos para a ocupação”.

Seu marido, José Antônio, sempre trabalhou no campo, mas para outras pessoas. “Ele roçava pastos, plantava mudas. Mas ele sabe de tudo sobre plantação, porque foi criado na roça: o dia de plantar feijão, alho, o que dá na lua cheia, a hora certa de plantar tudo”.
 

Quando perguntada se tem planos do que vai plantar quando tiver seu pedaço de terra garantido, Cleide abre um sorriso.

“Tenho muitos planos. Eu quero continuar investindo nas frutas, primeiro pra vender elas, porque hoje em dia é difícil encontrar frutas boas no mercado, e para fazer esses doces que eu estou vendendo aqui”.

Ela também quer ter uma horta própria. “Hoje você não vê mais fartura, e o que vendem no mercado não tem gosto de comida. Ter uma verdura, um feijão no lote é outra vida. A gente faz comida que tem gosto”.

E o resto do lote? “Vou plantar minhas coisas e o marido cuida do resto”, brinca Cleide.
 

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