Secretaria Estadual de Educação de SP não garante educação do campo


Por Vanessa Ramos
Da Página do MST

Eram seis horas da manhã e fazia muito frio no interior de São Paulo, pois era inverno. Crianças entre 3 e 4 anos de idade precisavam acordar e fazer um percurso de aproximadamente 1 hora dentro de um transporte público ou iriam chegar atrasadas na nova escola. Nova escola sim, pelo menos para algumas crianças que tiveram as suas instituições de ensino fechadas no primeiro semestre deste ano.


Por Vanessa Ramos
Da Página do MST

Eram seis horas da manhã e fazia muito frio no interior de São Paulo, pois era inverno. Crianças entre 3 e 4 anos de idade precisavam acordar e fazer um percurso de aproximadamente 1 hora dentro de um transporte público ou iriam chegar atrasadas na nova escola. Nova escola sim, pelo menos para algumas crianças que tiveram as suas instituições de ensino fechadas no primeiro semestre deste ano.

Essa foi a realidade vivida por crianças assentadas no município de Promissão, a 460 km da capital paulista, depois que a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo determinou o fechamento de três escolas estaduais na região.

Os estabelecimentos funcionavam há 20 anos, segundo Claúdia Praxedes, do Setor de Educação do MST. “Eu mesma estudei em uma delas quando era criança”, disse. No entanto, a Secretaria Estadual de Educação de SP alegou que o número de alunos era insuficiente para mantê-las abertas. Cerca de 80 crianças estudavam nesses estabelecimentos.

Agora, os 10 minutos que os pais levavam para deixar os seus filhos nas escolas foram transformados em 60. As crianças de educação infantil foram transferidas para outra escola da região. Hoje, elas estudam em um barracão, que era do Incra, separado por madeirite. “Essa falta de infra-estrutura, inclusive, é a maior indignação dos pais”, contou Cláudia.

Como consequência, o número de faltas escolares é muito grande. “No inverno deste ano, por exemplo, muitas crianças pequenas não foram às escolas porque tinham que levantar cedo e estava muito frio”, informou Cláudia.

As dificuldades para frequentar as aulas não param por aí. A integrante do Setor de Educação do MST relembra os problemas enfrentados por estudantes de outros assentamentos. “A gente já teve problemas até com o ônibus, fornecido pelo governo, que pegava as crianças. Eles ficaram durante um tempo sem ir buscá-las e elas foram reprovadas por falta. O problema é que elas não foram porque não queriam. Não foram porque não tinham como ir”.

Ainda na opinião de Cláudia, escolas em áreas de assentamentos de Reforma Agrária garantem, sobretudo, melhor aprendizado. Uma prova disso foi o resultado do Enem 2009. Alunos da Escola Semente da Conquista, localizada no assentamento 25 de Maio, no município de Abelardo Luz, em Santa Catarina, obtiveram a maior nota do exame no município.

Apesar disso, as tentativas de discutir propostas de educação no campo, previstas nas diretrizes de base, com Paulo Renato Souza (PSDB), secretário de Educação, foram em vão. O secretário não tem tempo de receber os camponeses. A última experiência sem sucesso foi na semana do Dia das Crianças deste ano, quando uma comissão formada por 15 crianças Sem Terrinha tentou mostrar ao secretário as dificuldades que enfrentam nas suas regiões para frequentar as escolas, mas tiveram a entrada barrada. No mesmo dia, depois do incidente, a Secretaria de Educação concordou com a entrada de apenas 10 crianças, porém não foram recebidas por Souza, que estava ocupado.

“Aqui em São Paulo, a prioridade deles não é educação no campo. A população aqui é praticamente urbana, então, não precisam se preocupar com quem mora no campo”, desabafou a integrante do Setor de Educação do MST.

Diante disso, as expectativas para os próximos quatro anos não são animadoras. Cláudia teme que o governo eleito para o estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), mantenha o quadro educacional atual nas áreas rurais. “Vão ser mais quatro anos de luta, de muita luta inclusive para manter o que a gente já conquistou. O PSDB está no poder no Estado há 16 anos e nunca fomos atendidos, então, acredito que não vamos ser atendidos pelo Alckimim”, finalizou.

Ensino fundamental
A situação é ainda pior para os jovens que precisam cursar o ensino fundamental ou médio, concentrados geralmente nas instituições de ensino das cidades. Em geral, eles precisam acordar de madrugada para chegar a tempo de assistir a primeira aula.

Segundo Cláudia Praxedes, do Setor de Educação do MST, quando o jovem estuda à noite, precisa sair de casa às 16 horas, caso contrário, chega atrasado na aula. Quando retorna, já são duas da manhã. Os que estudam durante o turno da manhã fazem o caminho inverso, acordam de madrugada e chegam em casa na parte da tarde.

Consequentemente, a evasão escolar na área rural é grande. “Esse deslocamento do campo para a cidade faz com que os jovens, quando no máximo terminam a 8ª série do ensino fundamental, abandonem as escolas”, explicou Cláudia.

Para a integrante do Setor de Educação do MST é dever da Secretaria Estadual de Educação garantir que as crianças possam frequentar as aulas no município. “Assim como a gente luta pelo acesso à terra, também lutamos pelo acesso à educação”, concluiu Cláudia.

Ameaça

Outras escolas, nas regiões de Sorocaba e Itapeva correm riscos de terem as portas fechadas. Além disso, em Araras, está prevista a construção de uma escola desde 2008. Mas, apenas a terraplanagem (termo usado para a técnica de nivelação de terreno) foi realizada. Com isso, os jovens permanecem mais de uma hora dentro de um ônibus para chegar à escola.