Agronegócio ameaça aquífero Guarani, dizem especialistas
Da Folha de S. Paulo
A falta de ações efetivas para evitar a atual superexploração do aquífero Guarani pode tornar o uso da água do manancial inviável dentro de meio século.
Pelo menos cem cidades brasileiras são abastecidas pelo Guarani, segundo a Agência Nacional de Águas.
Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), é apontada como a cidade que mais pode sofrer as consequências no futuro.
A conclusão é dos especialistas Ricardo Hirata, da USP, e Paulo Finotti, presidente da Sociedade de Defesa Regional do Meio Ambiente.
Da Folha de S. Paulo
A falta de ações efetivas para evitar a atual superexploração do aquífero Guarani pode tornar o uso da água do manancial inviável dentro de meio século.
Pelo menos cem cidades brasileiras são abastecidas pelo Guarani, segundo a Agência Nacional de Águas.
Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), é apontada como a cidade que mais pode sofrer as consequências no futuro.
A conclusão é dos especialistas Ricardo Hirata, da USP, e Paulo Finotti, presidente da Sociedade de Defesa Regional do Meio Ambiente.
“Existe uma voracidade pelo consumo que, sem controle, pode acarretar em problemas sérios nos próximos 50 anos em cidades que são abastecidas pelo manancial”, afirma Hirata, diretor do Centro de Pesquisas de Água Subterrânea do Instituto de Geociências da USP.
As cidades em zonas de risco ficam nos Estados de São Paulo, Minas, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, além do Uruguai e Paraguai.
O aquífero é um dos maiores reservatórios de água subterrânea do mundo e única fonte de abastecimento público de Ribeirão Preto.
Ele aponta ainda que, diferentemente de anos atrás, hoje os grandes usuários particulares são indústrias ligadas ao agronegócio, que têm capacidade de perfuração de grandes poços artesianos.
Finotti afirma que achava-se que o aquífero fosse infinito. “Hoje se sabe que em Ribeirão o consumo é 13 vezes maior que a recarga.”
De acordo com o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), as maiores cidades do Estado de São Paulo abastecidas em sua totalidade pelo aquífero são Ribeirão, Sertãozinho e Matão.
Já São Carlos, Araraquara, Bauru e São José do Rio Preto têm o abastecimento parcial. Outras cidades têm abastecimento menor -como Avaré (30%), Tupã (20%) e Marília (15%), segundo o Daee.
Falta de gestão
Didier Gastmans, pesquisador do Laboratório de Estudos de Bacias da Unesp de Rio Claro, afirma que o problema é a falta de gestão adequada pelas cidades que exploram o aquífero.
Para ele, não existe nenhum modelo adequado de gestão no país. “O poder público é o maior usuário de água subterrânea. A discussão é sobre quem vai pagar a conta no final”, diz.
Luiz Amore, coordenador do Projeto Aquífero Guarani, afirma que Ribeirão é a única cidade onde a água consumida é maior que a recarregada. “Isso é resultado de uma falta de controle sobre o quanto entra e o quanto sai.”
Ações de proteção e exploração
O uso das águas subterrâneas em Ribeirão Preto é anterior à denominação “aquífero Guarani”, aprovada em 1996 por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
A artigo é de Pilar Carolina Villar, advogada ambiental, doutoranda em ciência ambiental pela USP, pesquisadora da rede Waterlat e especialista em gestão ambiental pela Universidad San Pablo, Espanha, e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 19-06-2011.
Os primeiros poços documentados em Ribeirão datam de 1920 e 1927 e pertenciam, respectivamente, ao Mosteiro do São Bento e à Companhia de Cerveja Antarctica Niger S.A.
A exploração das águas do aquífero se intensifica progressivamente com o crescimento da cidade.
Atualmente, há em torno de cem poços dedicados somente ao abastecimento público e estima-se que a extração das águas supera 13 vezes a sua recarga. Dito isso, percebe-se que as ações para a proteção do aquífero não acompanharam o ritmo de exploração de suas águas, o que gerou um sério rebaixamento no seu nível hídrico na região.
O Projeto Aquífero Guarani, implementado em 2003, permitiu profunda discussão e incentivou melhoras na gestão das águas do aquífero – sobretudo no município.
Apesar disso, ainda há muito a fazer. Os principais desafios são encontrar estratégias de gestão que realmente promovam um uso mais racional do aquífero e desenvolver um modelo de uso e ocupação do solo na zona leste compatível com a existência de áreas de recarga.