Via Campesina faz protesto no Ministério da Fazenda, que comemora superávit primário

 

Por André Barrocal
Da
Agência Carta Maior


 

Por André Barrocal
Da
Agência Carta Maior


Cercado por camponeses que pressionam pela renegociação imediata de R$ 12 bilhões em dívidas de agricultores familiares que não teriam como pagá-las, o ministério da Fazenda informou, nesta sexta-feira (26/08), ter economizado, em julho, R$ 11 bilhões em tributos recolhidos da sociedade, para destinar ao pagamento de juros da dívida pública federal.

Nunca o governo federal havia feito tamanho ajuste fiscal em julho. “É um resultado muito positivo para o mês, o melhor da história”, disse o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, na entrevista em que divulgou os resultados. Para ele, neste momento de incertezas econômicas globais, “felizmente, o Brasil está apresentando resultados fiscais muito sólidos”.

Se, dentro do ministério, o resultado era festejado, fora, entre os manifestantes da Via Campesina, a reação não foi nada boa. “Isso mostra o descaso do governo e da estrutura do Estado brasileiro para a área social”, afirmou Diego Moreira, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), uma das entidades da Via. Os pais dele são assentados no Paraná e precisam da renegociação. “Está demonstrado para quê o Estado existe no Brasil: para servir ao grande capital”.

Desde a última segunda-feira (22/08), de três a quatro mil trabalhadores rurais, liderados pela Via Campesina, estão acampados em Brasília para reivindicar a retomada da reforma agrária pelo governo Dilma Rousseff. Os manifestantes também têm pautas específicas, e uma delas é renegociar dívidas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Nesta sexta, dezenas de manifestantes cercam o ministério da Fazenda, enquanto líderes do movimento negociam no Palácio do Planalto com o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Eles prometem manter a vigília até que seja anunciada uma renegociação.

O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que participa da mobilização, diz que a dívida é de R$30 bilhões, dos quais R$12 bilhões precisariam de rolagem imediata. Segundo a Via Campesina, 520 mil famílias precisam da rolagem. O custo da renegociação para o governo seria de R$ 8 bilhões. Menos do que foi poupado num só mês para pagar juros da dívida. No ano, o superávit atingiu R$ 66 bilhões.

Sem a rolagem, os pequenos agricultores não podem pegar empréstimos no plano safra 2011/2012. A linha tem R$ 16 bilhões e, pela primeira vez, repetiu a quantia da safra anterior. O governo justificou o congelamento argumentando que os pequenos agricultores nunca usaram todo o volume disponível, e uma das razões para isso seria a inadimplência em anos anteriores.

No dia 11 de agosto, o Conselho Monetário Nacional (CMN), que é formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central (BC), fez uma reunião extraordinária e aprovou uma renegociação simplificada de dívidas do Pronaf que vencem em 2011.