Fotógrafo registra males causados por agrotóxicos e transgênicos
Por Caroline Stevan
Do Letemps*
Durante quase três anos, Álvaro Ybarra Zavala, fotógrafo espanhol, fotografou a indústria alimentar questionando seus excessos.
Algumas de suas fotos em preto e branco foram apresentadas em Perpignan, no Festival de Fotojornalismo Visa pour l’image.
Por Caroline Stevan
Do Letemps*
Durante quase três anos, Álvaro Ybarra Zavala, fotógrafo espanhol, fotografou a indústria alimentar questionando seus excessos.
Algumas de suas fotos em preto e branco foram apresentadas em Perpignan, no Festival de Fotojornalismo Visa pour l’image.
As imagens são de transgênicos, máquinas de fumigação de pesticidas, silos gigantes que a empresa Monsanto instalou em Rojas, Argentina.
Entre outras imagens tão chocantes, uma é da filha de um agricultor que celebra seu aniversário, mas que pede de presente a vida para seus filhos gravemente doentes e com deformidades,
Como seu deu a realização desse projeto?
Comecei trabalhando com um caso em especial na Argentina e descobri que haviam muitas histórias pra contar. Então entendi que era um tema importante e com grande impacto global. Acompanhado de um jornalista, um médico e alguns advogados, me lancei nessa ampla investigação.
Minha ideia não era agir como um ativista, mas criar um debate sobre a maneira que queremos que produzam nossos alimentos. Isso é algo crucial: todos nós nos alimentamos. Os médicos e advogados me assessoravam, porque queríamos ter certeza de conseguir avançar nas investigações. Do outro lado, a Monsanto, colocou seus advogados de prontidão para nos impedir a realização e publicação de nosso trabalho.
A Monsanto aparece como o grande mal nas suas fotografias. É o único?
Não é o único, mas é o principal. A Monsanto é um monstro.
Quais são os principais problemas?
Se você for à Índia, Argentina ou outros países, comprovará que este tipo de produção agrícola está criando problemas de saúde pública e ao meio ambiente, além de violações dos direitos humanos, problemas políticos e grandes tensões econômicas. Esta indústria precisa de cerca de 4000 a 10.000 hectares de terra para ser rentável.
Os pequenos agricultores locais são marginalizados e em todas as partes em detrimento das multinacionais. Os pequenos produtores se vem obrigados a vender suas terras, como está acontecendo no Brasil. E se não o fazem, seus campos de cultivo são rodeados por outras propriedades que fazem uso dos pesticidas.
Na Argentina, por exemplo, já existe a primeira geração de crianças que foram afetadas porque seus pais foram expostos a substâncias químicas, são abortos espontâneos, enfermidades, malformações, como a hidrocefalia. Estes casos formam uma legião. Pensei que teria que realizar uma busca exaustiva, mas a cada 600 habitantes há pelo menos 70 casos. Os adultos sofrem de câncer e doenças de pele. A contaminação acontece pelos produtos, mas também pela água e pelos alimentos.
Se te perguntarem se a indústria alimentar está envenenando o mundo ao invés de alimentá-lo. Que resposta dará?
Obviamente as grandes companhias argumentam que eles são a solução para a fome no mundo. Os ativistas sustentam que a crise alimentar está demonstrando o contrário. É certo que o planeta está muito afetado por esse tipo de produção.
Outros setores estão conscientes desse problema?
Sim, mas a indústria dá muito trabalho outros setores econômicos. As cooperativas que administram os seguros de saúde, que oferecem proteção jurídica, etc, todas elas estão cercadas de multinacionais como a Monsanto. Tudo é feito para que o sistema siga funcionando.
O que dizem as autoridades?
Vivem também do negócio. Nosso trabalho tem sido muito pouco divulgado, mas pela sua representação na Argentina estamos sendo submetidos a muitas pressões que são procedentes dos níveis mais altos.
Quais são os seus próximos passos nessa investigação?
Malawi, Moçambique, Índia, Europa e América de Norte. A Monsanto está em todos e cada um destes países, mas, uma vez mais, nosso trabalho se concentrará nos métodos de produção de alimentos e não na empresa em particular.
Venenos legais, por Álvaro Ybarra Zavala
O cultivo de transgênicos e o uso de produtos químicos cada vez mais agressivos têm transformado a indústria agrícola argentina. Os casos de câncer e má formação estão aumentando. É a luta das populações locais contra um inimigo invisível. O vídeo abaixo mostra as imagens de “Historia de una tierra herida”, um ensaio fotográfico do jornalista Álvaro Ybarra Zavala sobre os terríveis efeitos da agricultura dos transgênicos na Argentina.
Alvaro Ybarra Zavala: Legal Toxin from Leica Fotografie International on Vimeo.