Depois de incêndio, famílias lutam para retomar produção no assentamento

Por Maria Aparecida Terra
Da Página do MST


Há cerca de um mês, todas as 63 famílias do Assentamento Dom Tomás Balduino, do MST, localizado no município de Franco da Rocha, próximo à cidade de São Paulo, estavam atemorizadas com o fogo que avançava sobre as casas, animais e plantações.

Por Maria Aparecida Terra
Da Página do MST

Há cerca de um mês, todas as 63 famílias do Assentamento Dom Tomás Balduino, do MST, localizado no município de Franco da Rocha, próximo à cidade de São Paulo, estavam atemorizadas com o fogo que avançava sobre as casas, animais e plantações.

Ninguém sabe como começou o incêndio que destruiu a maior parte das plantações do assentamento e matou diversos animais silvestres, encontrados após o fogaréu. 

Os assentados acreditam que o fogo foi proposital, mas não há nada que comprove. “A gente não tem prova, não podemos falar que foi fulano ou sicrano porque não vimos. Só sei que esse fogo fez um arraso no assentamento todo. Alguém colocou fogo e o fogo saiu espalhando por aí”, relata a assentada Celina Maria, que perdeu mais de 200 bananeiras já produzindo.

Outro assentado, Jorge Barbosa, diz que o incêndio durou mais de cinco dias com intervalos em que o fogo era controlado e logo voltava em outro lugar. 

“O pessoal apagava durante o dia e madrugada. Quando era de noite começava tudo de novo. Foram vários focos, que iam aparecendo e era difícil controlar”, conta.

Paulo Gonçalo, de 55 anos, foi um dos que mais tiveram prejuízo. Segundo ele, até janeiro do ano que vem, o prejuízo é de mais de R$ 10 mil, já que não poderá colher, processar e vender o molho de pimenta para os mercados, feiras e o próprio assentamento, como sempre fez. 


“Em um ano o prejuízo total dessa colheita é de mais ou menos R$ 30 mil”, lamenta Gonçalo.

Só não foi pior no caso do assentado porque o fogo não chegou ao pomar onde ele tinha mais de 200 pés de laranja, limão siciliano e manga. 

“No incêndio eu perdi oito mil pés de pimenta. É um prejuízo até janeiro, que me apertou muito, mas que é possível recuperar em 120 dias. Mesmo assim, perdi a produção das laranjas que já estavam floridas, porque a quentura do fogo queimou as flores e não vai dar fruta na colheita”.

Cadê a água?

Outro agravante é a falta d’água. Há quase seis meses as famílias sofrem com o problema. Segundo os assentados, a bomba do poço artesiano vive quebrada e as pessoas têm que se virar de vários jeitos para dar conta dos trabalhos diários nas casas e nas plantações. 

Algumas buscam água numa mina que passa na maioria dos lotes, mas ela fica longe e mesmo assim não é suficiente nem para as necessidades básicas. 

A falta d’água foi um dos maiores problemas quando o fogo começou, já que sem água na torneira, as famílias tiveram que usar apenas galhos de árvores na tentativa de controlar o incêndio.

Wilmer Sobrino, conhecido também como Paco, percebeu só depois de passar a adrenalina que havia queimado gravemente as solas dos pés. Ele também perdeu muito da plantação que tinha e que já estava preparando para colher e comercializar. 

Como não restou nada, acabou adquirindo inúmeras dívidas e ficando “praticamente abaixo de zero”, como ele mesmo diz. “Felizmente eu ainda costuro e por isso eu e minha família ainda não passamos fome, mas perdemos tudo que tínhamos no quintal”.

Ação

Uma das principais consequências é a inviabilidade do ano de colheita para as famílias assentadas. Com esse dinheiro é que as famílias pagariam mais uma parcela da dívida do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que vence no começo do ano que vem. 

“O que o pessoal está querendo é a isenção desse ano, pelo menos. Mesmo sabendo que não é só esse ano, porque a recuperação de tudo que se perdeu vai levar, no mínimo – naquelas culturas que dão com maior rapidez -, mais um ano e vai depender da chuva e de um monte de coisas para recuperar”, disse Cícero Umbelino, um dos coordenadores do Centro de Educação, Estudos e Pesquisa (CEEP), que acompanha há alguns anos a produção dos assentamentos da região.

“A ideia agora é partir para a ação, numa tentativa de reverter a situação em que se encontram as famílias e dar algum alento. Pensando coletivamente mesmo. Estamos pensando em conversar com o Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) e ver o que podemos fazer, se encontramos alguma alternativa urgente”, afirma Jorge.

Para que as famílias retomem a produção de onde pararam, é preciso que haja agora um maior investimento no assentamento, como conclui Cícero. 

“É preciso botar mais dinheiro aqui do que botava antes, porque tem que ter assistência técnica, tem que ter captação de água, tem que voltar a fazer a poda e recuperação daquilo que se perdeu, replantar, reconstruir tudo e isso custa, dá trabalho para voltar ao menos ao que era antes”.