Reforma Agrária Popular
Assentamento Eli Vive comemora 8 anos na construção da Reforma Agrária Popular
Por Jovana Cestile*
Da Página do MST
Setembro marca o início da primavera, aniversário de Paulo Freire… um tempo de “esperançar”! Para as 501 famílias do assentamento Eli Vive, localizado em Londrina, norte do Paraná, setembro marca a partilha de um sonho coletivo, resultado de um processo de luta e resistência. No dia 27 de setembro de 2013 foi realizado o sorteio dos lotes, e os 7.313 hectares das antigas fazendas Guairacá e Pininga foram partilhados em lotes com 8 a 10 hectares.
A área em que antigamente a maior parte havia apenas capim, em 8 anos se transformou no espaço de reprodução da vida, surgindo uma grande biodiversidade de hortaliças, plantas medicinais e ornamentais, café, árvores nativas da região, frutíferas, animais de pequeno porte.
Desde o início da comunidade, as famílias produzem para o auto sustento e para a comercialização. Entre as linhas de produção se destacam: leite, hortaliças, café, frutíferas e grãos, principalmente milho. Parte da produção é agroecológica e algumas famílias têm certificação de orgânico, outras estão em processo para certificar.
E desde o início da pandemia, parte desta produção tem sido distribuídas em ações de solidariedade que o MST vem realizando na região norte do Paraná; até o momento foram doadas 60 toneladas de alimentos, além de campanhas de doações de sangue para o Hemocentro do Hospital Universitário de Londrina. As famílias também participam da Campanha Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, com mais de 6 mil mudas de árvores plantadas e dois viveiros para a produção de mudas devem ser implantados no assentamento.
Em paralelo à organização das unidades produtivas de cada família, também vem se organizando e construindo os espaços coletivos. A Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista (Copacon) é uma grande conquista das famílias assentadas. Por meio dela, é realizada a comercialização da produção em mercados institucionais como Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de aquisição de alimentos (PAA).
Em média, por ano, são comercializadas 205 toneladas de fubá, 570 toneladas de feijão, 70 toneladas de canjiquinha, 55 toneladas de farinha de milho biju, 200 toneladas de hortifruti com uma diversidade de mais de 20 produtos. A cooperativa mantém uma agropecuária para atender os sócios e está construindo uma agroindústria para beneficiamento de feijão e derivados de milho, com capacidade de beneficiamento de 100 toneladas por mês.
Os produtos do assentamento também são comercializados em redes de supermercados de Londrina, na rede Armazém do Campo, no Feirão da Resistência e Reforma Agrária, em feiras livres e o Grupo de Mulheres Camponesas do Assentamento Eli Vive II entregam cestas semanalmenteem Londrina, em parceria com a Economia Solidária.
Além da cooperativa, a comunidade têm a Associação dos Camponeses do assentamento Eli Vive (ACAEV), que elabora e executa projetos que atendam demandas do assentamento, e a Associação das Mulheres Camponesas do assentamento Eli Vive II (AMCEV), que executa o Projeto das Sacolas Camponesas em parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL).
A educação sempre foi uma preocupação das famílias desde o início do acampamento, as estruturas das 3 escolas que funcionam no assentamento foram construídas pelas próprias famílias em forma de mutirão. No Eli Vive II está a escola Municipal do Campo Egídio Brunetto, que ainda aguarda liberação do município para a construção definitiva, conta com 37 educandos. A Escola Municipal do Campo Trabalho e Saber, localizada no Eli Vive I atualmente conta com 155 educandos deve ter em breve o início das obras da escola definitiva. E o Colégio Estadual Maria Aparecida Rosignol Franciosi, com 191 educandos e que aguarda liberação do governo do Estado para a sua construção.
Outra conquista importante é a construção da Unidade Básica de Saúde do Campo (UBS), que está em fase de elaboração do projeto arquitetônico e já tem o espaço definido na sede comunitária do Assentamento Eli Vive I. E antes mesmo da construção da UBS, semanalmente uma equipe de enfermagem de Lerroville se desloca até a sede da comunidade para a aplicação das doses de vacina contra a Covid-19 e um médico realiza consultas, atendimentos que são previamente agendados e acompanhados pelas Agentes Populares de Saúde.
Outras construções estão sendo levantadas na sede comunitária, como um mercado, área de lazer, barracão comunitário. Na sede do Eli Vive II, além da escola, tem um barracão comunitário onde são realizadas atividades comunitárias, e terá uma extensão da UBS.
E como diz a música: “Quando chegar na terra, lembre que tem outros passos pra dar”, o que se construiu até aqui são conquistas importantes, e as famílias seguem se organizando para dar outros passos na construção da Reforma Agrária Popular e da Agroecologia.
*Jovana Cestile é assentada no Eli Vive, é comunicadora popular e produtora agroecológica.
**Editado por Fernanda Alcântara