Palestina
Dia da Terra Palestina: luta, história e resistência internacionalista
Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST
A terra ocupa um papel central quando falamos sobre a história de luta e resistência da Palestina, e o dia 30 de março sintetiza em uma data o enfrentamento do povo contra a forma brutal e discriminatória que Israel avança e se apropria do território palestino. Este ano, o MST se une em torno da data com diversas manifestações para lembrar e reafirmar a importância desta luta que passa pela defesa da vida e da dignidade.
A data que marca a luta dos palestinos pelos seus direitos à terra, fonte de vida parte da identidade, remete ao dia 30 de março de 1976, quando a população palestina da Galileia, no Norte de Israel, declarou uma greve geral para protestar contra a expropriação de terras. A greve era uma reação ao anúncio do plano do governo israelense de expropriação de uma área de 25 000 dunans por “razões de segurança e para construção de assentamentos”. Neste dia, o exército israelense reprimiu as manifestações, e seis árabes palestinos foram mortos na área de Al Jahil.
“Há décadas o povo palestino é reprimido de uma forma muito truculenta pelo governo de Israel. Ao longo da história de invasão do território palestino pelo governo israelense, milhares de árabes palestinos foram mortos, e outros estão em condições de refugiados em outros países, inclusive no Brasil”, lembra Fábio Andrey, do Coletivo de Relações Internacionais (CRI) do MST.
A cerca da data, Fábio explica que o dia 30 de março simboliza o reconhecimento do estado palestino, como uma nação, soberana, onde os árabes palestinos possam ter o controle sobre suas vidas, definir o seu governo, popular, porque é uma luta em que a população organiza sua resistência. A política de confisco de terras proposta pelo governo de Israel, acabou aproximando os árabes residentes em Israel dos árabes dos territórios Palestinos, já que o confisco atinge não apenas os habitantes dos territórios palestinos ocupados por Israel, mas também os árabes que vivem dentro do Estado de Israel.
A terra se tornou algo muito simbólico para a luta palestina porque ela representa a dignidade em todas as dimensões que esta palavra pode ter. A dignidade de ter onde plantar, onde criar a família, trabalhar, viver. Enfim, onde construir seu futuro”.
Neste sentido, Fábio Andrey lembra porque a data é importante para os palestinos pelo mundo e como esta data está inserida na conjuntura atual. “Com o avanço do imperialismo, o capitalismo tenta ter esse controle sobre a terra, florestas, águas, para controlar os recursos da natureza, essa data de certa forma coloca essa luta da palestina dentro de um contexto internacional, porque em todos os lugares do mundo povos vem sofrendo pela apropriação de seus territórios”, conta.
Só vamos conseguir frear esse avanço do capital e dar passos significativos no controle dos nossos territórios se essa luta for unificada, se essa luta tiver uma dimensão internacional”.
Colheita de Oliveiras
Desde 2011, a cada dois anos, a Brigada de solidariedade Ghassan Kanafani é organizada para participar da Campanha da Colheita da Azeitona na Palestina. A presença do MST durante a colheita é essencial para evitar mais repressão por parte de Israel e para garantir que os palestinos possam colher os frutos de seu trabalho.
Esta colheita, conta Fábio, precisa ser feita no menor tempo possível, porque a qualquer momento o governo israelense pode invadir aquelas terras. “É uma colheita que é feita com muita dificuldade. Os camponeses são intimidados o tempo todo, são revistados pelo exército israelense, aviões militares sobrevoam estas áreas muito baixo, como forma de intimidação, então essa colheita precisa ser feita o mais rápido possível para preservar a segurança do povo palestino.”
A Brigada passa um mês trabalhando com a União dos Comitês de Trabalho Agrícola (UAWC), o principal movimento camponês da Palestina, e aprendendo sobre outras experiências de resistências políticas e organizacionais na Palestina. Neste tempo, esta interação proporciona a troca de saberes de povos camponeses do mundo, um elemento fundamental de enraizamento e identidade entre os povos.
“Nossa participação não se dá somente no campo do trabalho. Não vamos lá só oferecer nossa força, nossa energia, para contribuir na colheita, mas também é um espaço riquíssimo onde é possível trocar experiências sobre a forma de como produzir alimento saudável, sobre formas de organização popular, sobre como olhar para a conjuntura, de forma coletiva, e discutir formas para superar estes problemas”.
Plantando Árvores no Dia da Terra Palestina
A resistência da Palestina pelo controle dos territórios tem dimensões internacionalistas, como defende o Coletivo de Relações Internacionais do MST, e neste sentido bandeiras diferentes defendidas pelo Movimento se encontram, como no caso da luta Palestina e o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis.
Nesta data, diversos espaços irão homenagear a data plantando árvores, incluindo um ato na Embaixada da Palestina, em Brasília. O ato simbólico está relacionado ao Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, lançado em 2020 pelo MST, que tem como objetivo plantar 100 milhões de árvores em dez anos nas escolas do campo, cooperativas, centros de formação, praças, avenidas e nas cidades, além de fortalecer a produção de alimentos saudáveis nas áreas de assentamentos e acampamentos do MST, denunciar o modelo destrutivo do capital e seus impactos ao meio ambiente.
O Plano é um espaço de articulação, formação, organização política e de amplo debate. Está ideologicamente alinhado com a luta palestina, já que reafirma a Reforma Agrária Popular e a defesa dos territórios; a Soberania Alimentar, como uma mudança radical do sentido da produção de alimentos; a Agroecologia, que é baseada na diversidade de alimentos, no conhecimento tradicional e no fortalecimento do organismo humano e natureza de forma coletiva; e o cuidado dos Bens Comuns, como a água, os minérios, a terra e a biodiversidade são bens naturais finitos e, por isso, são comuns a todos os seres humanos.
Neste sentido, a troca de experiências sobre formas de resistência é fundamental, lembra Fábio. “Estas Brigadas cumprem o papel de contribuir de forma muito pragmática com a Colheita, para que ela seja feita de forma segura e rápida, mas também ela tem um elemento que, para mim, é muito mais importante: criar os laços entre camponeses que estão muito distantes mas que sofrem, que vivem ameaçados em seus territórios, pela ganância do capitalismo”, conclui.
*Editado por Wesley Lima