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Dia da Caatinga: Resistência camponesa e sertaneja, Seu Enoque e a luta pela terra em Alagoas
Por Alice Oliveira e Gustavo Marinho
Da Página do MST
No Alto Sertão de Alagoas, na cidade de Inhapi, há 52 anos, nasceu Enoque Ferreira, filho de agricultores e mais novo de oito irmãos, desde jovem participou das atividades das Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs) no município que nasceu e viveu com a família.
Foi ainda no Inhapi que Seu Enoque também começou a acompanhar as ações do sindicato dos trabalhadores rurais do município, junto com um de seus irmãos que na época já iniciava a organização camponesa para as primeiras ocupações de terra do MST em Alagoas.
E exatamente nas primeiras ocupações de terra que a vida de Seu Enoque começou a mudar cada vez mais. Passou pelas primeiras ações coletivas de ocupação de terra do MST em Alagoas no ano de 1988 e vive até hoje com sua família no Assentamento Lameirão, na cidade de Delmiro Gouveia, também no Sertão do estado.
“A primeira ocupação foi na conhecida Fazenda Peba, que era uma área ainda pequena para a quantidade de famílias na época. Continuamos nos organizamos e ocupamos também a área que hoje é o Assentamento Lameirão”, relembra Enoque.
Eram os primeiros passos do Movimento no estado e Seu Enoque reforçou a importância e apoio dos parceiros e aliados naquele momento: “tivemos a ajuda do sindicato dos trabalhadores rurais e também da igreja católica, foi uma conquista que envolveu todos os movimentos sociais na região”.
Do barraco de lona ao assentamento
“No início do acampamento era tudo muito difícil”, compartilhou Enoque. A área foi instituída como assentamento um ano após a ocupação, em 1989, mas até hoje a luta e a organização seguem sendo lições permanentes dos que vivem às margens do Rio São Francisco, no assentamento Lameirão.
A luta nunca parou; veio a conquista das casas, créditos e isso foi mudando muito a vida da gente. Minha vida e a vida da minha família melhorou muito com a conquista da terra”.
Seu Enoque tem três filhas e é casado com Maria José, com quem divide suas atividades no seu lote, local de onde retiram o sustento a partir da roça e da criação de pequenos animais. “Temos macaxeira, batata, abóbora, mamão, hortaliças, feijão de corda, feijão de arranca, milho, palma e esse ano começamos a produzir algodão agroecológico, além da criação de abelhas e das ovelhas”, relata com orgulho.
Plantando o Sertão
Um apaixonado pelo Sertão, Seu Enoque não esconde o orgulho da região onde nasceu e vive até hoje.
“Nasci e me criei no Sertão e não consigo imaginar que minha vida seria melhor em outro lugar. Imagino que aqui no Sertão eu tenho mais tranquilidade, é melhor de viver”.
É no Alto Sertão, às margens do Rio São Francisco, no assentamento fruto da primeira ocupação de terra do MST em Alagoas que Enoque tem também assumido a responsabilidade no plantio de árvores na Caatinga, a partir do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, que o MST vem intensificando no último período.
Desde 2020, sua família vem plantando árvores nativas da Caatinga em seu lote. Já foram plantadas em média 500 mudas nos últimos dois anos, numa diversidade que contempla 160 pés de Umbuzeiro, 200 mudas de Angico, 50 de Craibeira, cerca de 50 mudas de Pau d’Arco, além de mudas Catingueira.
Para ele, a ação de plantar árvores no Semiárido é fundamental para o controle e recuperação do desmatamento que vem acontecendo no bioma da Caatinga. “É importante a gente valorizar cada vez mais essa ação e fazer com que ela cresça dentro dos assentamentos e de toda a região. Como a gente planta os alimentos da gente, a gente tem que plantar também as árvores”.
“Se cada assentado plantar ao menos 100 árvores todo ano, no futuro próximo teremos muito mais árvores aqui na região”, convocou Enoque.
Assim como Seu Enoque, o Sertão de Alagoas segue sendo local que emana resistência e inspira a continuidade da luta. Seja com a organização popular, com a produção de alimentos saudáveis ou com o plantio de mudas, a semente plantada nessa região brota sonhos e transforma vidas de homens, mulheres, jovens e crianças que lutam pela preservação de seu território.
*Editado por Fernanda Alcântara