Confraternização

Em Encontro dos Amigos, MST reafirma centralidade da luta pela terra no próximo período

Encontro reuniu centenas pessoas na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP), neste sábado (10)
O Encontro foi realizado, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP). Foto: Júnior Lima

Por Gustavo Marinho
Da Página do MST

Com a presença de amigos e apoiadores da luta pela Reforma Agrária, o MST realizou neste sábado (10), o Encontro dos Amigos, Amigas e Amigues do Movimento, debatendo os desafios da luta pela terra no Brasil e celebrando as conquistas da organização popular no país. O Encontro, que não ocorria há dois anos, em virtude da pandemia, foi realizado, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP),

Atravessado pela mística e animação com os amigos e amigas, o Encontro contou com a presença de Kelli Mafort e João Paulo Rodrigues, ambos da coordenação nacional do MST, que na mesa “O MST e os desafios da Reforma Agrária no governo Lula”, abordaram um panorama da luta pela terra nos últimos anos, bem como fizeram um balanço das ações do Movimento Sem Terra e as projeções da pauta agrária no próximo governo.

“Nosso reencontro em 2022 é marcado com muita felicidade, após dois anos sem realizar nosso Encontro, a ENFF tem o prazer de construir esse momento, promovendo um processo que, enquanto organização popular, possa prestar contas do nosso fazer e nossa projeção política”, destacou Rosana Fernandes, da coordenação da ENFF, na abertura da atividade.

Kelli Mafort e João Paulo Rodrigues participaram do debate sobre “O MST e os desafios da Reforma Agrária no governo Lula”. Foto: Júnior Lima

Analisando os aspectos que marcam a luta de classes na atualidade do Brasil, Kelli Mafort ressaltou o papel e importância da luta pela terra no país e os desafios para os trabalhadores e trabalhadoras.

“Apesar da vitória grandiosa nas urnas, muitos desafios estão colocados para a classe trabalhadora. A vitória eleitoral tem uma simbologia política muito grande: é um acerto de contas com o que vivemos desde 2016, com o golpe”, comentou a dirigente.

Para Kelli, o desafio central das organizações populares é na construção de um amplo e permanente processo de trabalho de base com a população, capaz de ajudar na sustentação do governo, combinado com as necessidades de luta: “o conjunto da sociedade tem uma série de pautas represadas do último período, que sofremos com uma tentativa de inviabilização do que conquistamos há anos, em especial os povo indígenas, quilombolas, trabalhadores rurais e movimentos urbanos. Nossas organizações precisam entender que essas pautas só se resolvem e se conquistam com trabalho de base, formação política e processo de luta”.

Pautando a luta pela terra como central para a organização no próximo período, Mafort destacou que o enfrentamento à fome, sinalizada como uma das prioridades do governo Lula, só se materializa com enfrentamento ao agronegócio e a democratização do acesso à terra.

“Quando a gente fala do enfrentamento à fome, falamos de uma complexidade de elementos capazes de possibilitar, verdadeiramente o avanço na produção de alimentos saudáveis, de comida boa, que para acabar com a fome precisa de produção massiva, com apoio do Estado e de terra”, explicou. E acrescentou, “o novo governo precisa ter a coragem de entender que para enfrentar a fome, precisa enfrentar a questão da terra no Brasil”.

Reforma Agrária Popular

Foto: Júnior Lima

Apresentando o balanço das ações do Movimento nos últimos anos na luta e construção da Reforma Agrária Popular, João Paulo Rodrigues destacou os campos estratégicos que o MST se dedicou na organização da produção, dos acampamentos e assentamentos, bem como nas iniciativas de relação com a sociedade.

“Construímos, a partir da nossa política de produção de alimentos saudáveis, a maior campanha de solidariedade da história do MST, com aproximadamente 10 mil toneladas de alimentos doadas nas periferias do Brasil, com a construção de centenas de cozinhas solidárias, servindo comida diariamente”, apresentou Rodrigues.

João Paulo destacou ainda as diversas iniciativas de comercialização de alimentos e diálogo com a sociedade a partir da comida sem veneno. “Vários de nossos estados realizaram Feiras da Reforma Agrária no último período e fechamos 2022 com 25 Armazéns do Campo abertos em todo o país”.

Ele também chamou atenção para necessidade de recriar e ampliar políticas públicas para garantir a produção de alimentos saudáveis.

“A produção de alimentos continuará como central para o MST, pautando o desafio de implementação de políticas públicas que possibilite aumentar e qualificar essa produção, em especial a partir do fortalecimento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), além da necessidade de implementação de um conjunto de agroindústrias que possibilite o beneficiamento de mais alimentos para contribuir com o combate à fome”.

Reafirmando o compromisso do MST na luta pela terra, Rodrigues ressaltou que o próximo período vai ser marcado pelo avanço nas ocupações de terra. “Vamos combinar os processos de ocupações com a luta pelo desenvolvimento no campo, pautando um conjunto de políticas públicas que permita a emancipação dos camponeses e camponesas, tornando nossos territórios em um bom lugar para se viver”.

O dirigente destacou ainda as ações realizadas pelo Movimento no último período na questão ambiental, com a ampliação do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, na construção da unidade com os movimentos populares, nas ações internacionalistas, na formação política e, mais recentemente, na disputa institucional, com a eleição de deputados estaduais e federais do MST.

Com a presença de vários representantes dos Comitês Populares de São Paulo, João Paulo reafirmou ainda a importância desses instrumentos de trabalho de base para o fortalecimento da luta política no Brasil: “todo o bonito processo que construímos na campanha, precisamos manter em movimento e diálogo permanente nas lutas que estão por vir”.

Atividade contou com almoço coletivo, com produtos da Reforma Agrária. Foto: Júnior Lima

Representando o Comitê Popular de Guararema, Douglas Mota participou do Encontro e fortaleceu a ideia sobre a necessidade de articulação e trabalho cotidiano com a sociedade a partir dos comitês.

“Nós precisamos dar continuidade aos Comitês! Vencemos as eleições, mas agora precisamos manter nossa mobilização sendo base de sustentação desse governo, além de promover um amplo e profundo processo de organização popular”, refletiu Douglas.

Já Moises Selerges, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos ABC, sinalizou o papel do MST para os lutadores do país. “Tenhamos a certeza que para construir uma sociedade mais justa e igualitária o MST é extremamente necessário. O MST é fundamental para a sociedade que a gente acredita. Quando estamos cansados, precisamos olhar para o MST e manter a esperança e ânimo”.

Após o debate, o Encontro animou os convidados e convidadas a se somarem no mutirão de plantio de árvores em seus territórios, seguido de um almoço coletivo, produzido com alimentos da Reforma Agrária.

Território Livre de Arpatheid

Como parte da programação do Encontro, a Escola Nacional Florestan Fernandes recebeu do Movimento BDS o reconhecimento de Território Livre de Arpatheid, em reconhecimento à luta pela causa palestina, pelas mãos de Maren Montovani, do secretariado internacional do BDS.

Foto: Júnior Lima

“Cada espaço, escola, Armazém ou organização deve se declarar espaço livre de arpatheid, se incluindo no mapa mundial que resiste junto contra o fascismo, racismo e gritam por um basta dessa política que segue matando povos. Queremos construir espaços livres de apartheid capazes de construir um processo justo para o Brasil, mas também para todo o mundo, sendo sementes e terreno férteis de transformação”, ressaltou Maren, representante do BDS.

*Editado por Solange Engelmann