Jornada das Mulheres
Em crítica ao agronegócio, jornada das mulheres do MST terá atos, acampamentos e outras ações
Por Gabriela Moncau, do Brasil de Fato
Com o lema “O agronegócio lucra com a fome e a violência: por terra e democracia, mulheres em resistência!”, as mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) farão uma jornada de atividades em 24 estados do país durante o mês de março.
Entre as ações, estão previstas caminhadas em vias públicas, plantio de árvores, atividades formativas, acampamentos pedagógicos e distribuição de alimentos agroecológicos. Os principais dias da mobilização serão 6, 7 e 8 de março.
O objetivo, explica Lucineia Freitas, dirigente nacional do setor de gênero do MST, é “trazer como foco a denúncia da fome e da violência no campo e o papel do agronegócio nesse processo de perpetuação”. A ideia, conta, é fazer isso “em diálogo com a sociedade”, apontando a reforma agrária e a agroecologia como contraponto a essa lógica.
Já começou
A jornada, de fato, foi inaugurada nas primeiras horas da madrugada de 1 de março. Em Itaberaba, na Bahia, cerca de 120 mulheres do MST ocuparam um latifúndio abandonado, a Fazenda Santa Maria. De propriedade da família Baleeiro, a área já foi ocupada por famílias camponesas entre 2015 e 2019 e foi palco de oito despejos – alguns violentos.
A ocupação feita por mulheres aconteceu dois dias depois de outras feitas pelo movimento no estado da Bahia. A que teve maior repercussão foi a tomada simultânea, com 1500 pessoas, de três áreas da empresa Suzano Papel e Celulose S/A no extremo sul do estado. Acampados ali desde a última segunda-feira (27), os camponeses denunciam a degradação ambiental da monocultura de eucalipto na região e exigem que a empresa cumpra um acordo firmado em 2011.
Mulheres do campo, das águas e das florestas
Para Lucineia, as demandas das mulheres do campo podem ser dividias em dois blocos. “Um é o direito à terra e ao território. E daí a importância da política pública para a realização de assentamentos e demarcação de terras dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e comunidades tradicionais”, destaca. “Junto com isso, a importância das políticas públicas para produção, de saúde e educação, agroindustrialização na perspectiva da agricultura familiar camponesa, do transporte e comercialização. Seria a demanda num bloco mais estrutural dos seus processos de vida”, defende.
O outro bloco, elenca a dirigente, diz respeito a ações para o enfrentamento às violências de gênero. “No campo, a presença de instrumentos públicos de apoio às mulheres e aos sujeitos da diversidade sexual é ainda muito restrita”, critica.
Auto-organização
“Companheira me ajude, que eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor.” A canção, repetida com frequência em mobilizações feministas, é lembrada por Lucineia ao defender que a organização coletiva entre mulheres converte a luta contra a desigualdade de gênero em “força política”.
“A auto-organização das mulheres traz esse senso de que somos capazes de realizar a transformação das relações sociais naquilo que a gente acredita”, avalia Freitas: “construir relações livres de violência”.
Edição: Nicolau Soares