Conquista

Unioeste inaugura 1º Alojamento Estudantil voltado para educandos/as do Pronera, no PR

Conquista para a Educação do Campo ganha simbolismo ainda maior por ocorrer no ano de comemoração dos 25 anos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
Estrutura vai atender 1ª turma de Enfermagem com Ênfase em Saúde Pública do Pronera. Foto: Juliana Barbosa/MST-PR 

Por Setor de Comunicação e Cultura e Setor de Educação do MST-PR
Da Página do MST

A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) inaugurou, na última sexta-feira (4), o primeiro alojamento estudantil voltado aos educandos/as do Programa Nacional de Educação para Reforma Agrária (Pronera) no Paraná, em Cursos em Regime de Alternância.

Construído no campus de Foz do Iguaçu, extremo-oeste do Paraná, a estrutura vai atender a 1ª turma de Enfermagem com Ênfase em Saúde Pública do Pronera, formada por 34 de educandos/as de 13 estados brasileiros. O alojamento é uma grande conquista, especialmente porque os cursos do Pronera têm a metodologia do regime alternância, com tempo escola concentrado e tempo comunidade. 

A inauguração ganha um simbolismo ainda maior por ocorrer no ano de comemoração dos 25 anos do Pronera. “Há 25 anos atrás, não tínhamos direito de frequentar esse tipo de espaço que é a universidade. E hoje estamos inaugurando o primeiro espaço de alojamento, primeiro do Paraná, dentro de uma universidade, é fruto de toda essa luta desses anos. Depois da conquista do Pronera, isso se tornou uma realidade mais próxima”, disse Maria Izabel Grein, integrante da direção estadual do MST do Paraná durante a inauguração. 

Maria Izabel Grein, integrante da direção estadual do MST do Paraná. Fotos: Juliana Barbosa/MST-PR

Sandra Cantanhedi é uma das estudantes que vem de longe para conquistar a formação em enfermagem. Ela é moradora do assentamento Roseli Nunes, localizado em Planaltina, no Distrito Federal, a mais de 1500 quilômetros do campus onde estuda. 

“Estamos todos felizes por essa acolhida na universidade, essa conquista também foi de toda a classe trabalhadora, a partir do Pronera, que nos seus 25 anos está na luta por uma educação popular, onde os sujeitos mais vulneráveis do campo e das favelas possam estar ocupando esse espaço e de fato possam pintar a universidade de povo, com os movimentos sociais, indígenas e toda diversidade”, reforça a educanda. 

Sandra Marli da Rocha Rodrigues, integrante do coletivo de acompanhamento pedagógico dos estudantes do curso de Enfermagem, reforça que o alojamento é uma grande conquista para os estudantes do campo: “O alojamento significa que esses educandos/as vêm pra universidade e têm interação maior com o espaço todo da instituição, têm mais tempo pro uso da biblioteca, dos laboratórios de informática e a interação com os demais acadêmicos da instituição”.  

Antes da construção do alojamento, a turma encontrou inúmeras dificuldades porque ficou num alojamento provisório. Os espaços eram pequenos pra muita gente, não havia espaço para trabalho dos estudos em núcleos de base. “O mais importante é garantir as condições de permanência e não desistir do curso. Se intensificam os processos de formação quando não precisa se preocupar com a logística de deslocamento de outros locais para dentro do campus em períodos de tempo aula”, enfatizou Rodrigues.

A estrutura tem 444,15 m² e amplas instalações. Fotos: Juliana Barbosa – MST/PR 

A estrutura conta com 444,15 m² e com amplas instalações, nove quartos, banheiro com acessibilidade, cozinha, refeitório, além de áreas de convivência. O espaço foi pensado para atender às necessidades dos estudantes, permitindo que eles possam ter um local adequado para o descanso e estudo quando estiverem na universidade.

Para o Diretor-Geral do Campus da Unioeste em Foz do Iguaçu, Fernando José Martins, o alojamento estudantil é crucial para o desenvolvimento dos cursos no modelo de alternância. “Em Foz do Iguaçu, em virtude de seu posicionamento estratégico para realizações de eventos e atividades, cumprirá também uma função importante no funcionamento do tripé ensino, pesquisa e extensão, além de ser um embrião da tão sonhada casa do estudante”, diz.

Universidade comprometida com a Educação do Campo 

O primeiro alojamento do Paraná voltado aos cursos com turmas do Pronera foi construído em uma instituição com compromisso histórico com a Educação do Campo. A Unioeste ofertou o primeiro curso de graduação em Regime de Alternância no Paraná, em 2004. 

A Unioeste assumiu um pioneirismo na formação inicial e continuada dos educadores das escolas do campo do Paraná. O marco inicial desse processo ocorreu na II Conferência Estadual por uma Educação Básica do Campo, realizada em Porto Barreiro (PR), de 02 a 05 de novembro de 2000. Diante da ausência de Licenciaturas voltadas para a Educação do Campo e a necessidade de formação de educadores do campo pautada pelos movimentos sociais organizados, começou-se a discutir uma proposta de formação de educadores.

Um dos primeiros passos desse encontro foi a deliberação pela realização de um Seminário para discutir a Questão Agrária, este ocorreu em 02 de agosto de 2002, com a presença de representantes de setores organizados dos movimentos sociais. 

Com o evento, uma série de reuniões de trabalho e seminários foram realizados para elaboração de um projeto de formação de educadores do Campo, na Unioeste, culminando na realização da primeira turma no Paraná de ensino superior em regime de alternância e pelo Pronera do Curso de Graduação em Pedagogia do Campo em 2004, no Campus de Francisco Beltrão. Em seguida, vieram outras duas turmas, em 2009 e 2013, no Campus de Cascavel, e uma turma do Curso de Especialização em Educação do Campo em 2013, no Campus de Foz do Iguaçu, todas parcerias entre Unioeste, Instituto nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e os Movimentos Sociais. 

Em 2010, a Unioeste em Cascavel oferta o curso de Licenciatura em Educação do Campo em alternância por meio do Programa Nacional de Educação do Campo (PRONACAMPO). Durante o período da oferta do Curso de Especialização em Educação do Campo (2014-2015) as dificuldades para alojar os 40 acadêmicos/as, oriundos de 14 municípios do Paraná originaram o projeto de construir um espaço que acolhesse os sujeitos do campo matriculados em Cursos em Regime de Alternância. 

Naquele contexto, o professor Fernando José Martins propôs essa ideia e se dedicou pela sua realização. Martins coordenava o curso e vivenciou os contratempos para conseguir estruturas que possibilitasse conciliar espaços de salas de aula, dormitórios, ciranda infantil, cozinha e refeitório com valores condizentes ao financiamento que o curso recebia.

“Este contexto passou a ser vivenciado nos últimos dois anos com os acadêmicos/as do curso de Enfermagem com ênfase em Saúde Pública, que fomentou a continuidade e consolidou a ideia originada durante a Especialização. Fernando converteu a necessidade coletiva em força real, desencadeou uma série de movimentos para arrecadação financeira e depois de nove anos da primeira semente deste projeto, se colhe o início de uma nova fase para os Cursos em Alternância da Educação do Campo na Unioeste”, avalia Valter Leite, integrante da direção nacional do Setor de Educação do MST, graduado em Educação do Campo pelo Pronera.  

Para além dos cursos de graduação, a Unioeste também assume grande importância no âmbito do ensino, pesquisa e extensão na construção dos processos da Educação do Campo das áreas de Reforma Agrária. Exemplo disso foi o Projeto de Alfabetização e Escolarização de Jovens e Adultos em parceria com o Setor de Educação do MST, que resultou na alfabetização e escolarização de 770 jovens e adultos, entre 2014 e 2015. 

Em 2014, promoveu juntamente com o Setor de Educação do MST o “Seminário Nacional Experimento Pedagógico das Escolas Itinerantes: Organização Curricular Por Complexos de Estudo”. Recebeu o VII Encontro Estadual de Educadoras/es da Reforma Agrária do Paraná em 2015, quando cerca de 500 educadores do PR se reuniram para debater os desafios da educação pública. 

Fotos: Juliana Barbosa/MST-PR

*Editado por Solange Engelmann