Produção
Aproveitamento da água da chuva no Semiárido garante produção o ano todo para a agricultura familiar
Por Rodolfo Rodrigo
Do Brasil de Fato
À medida que as chuvas chegam aos grandes centros urbanos, elas destacam uma série de desafios, incluindo problemas sociais e estruturais já existentes. Por outro lado, no sertão, embora a chuva também evidencie alguns problemas, parte dela é considerada uma bênção para os agricultores que, com inovação e tecnologias sociais, encontraram maneiras de aproveitar ao máximo esse recurso.
Assista:
A espera sertaneja pela chuva é marcada por previsões e pela fé. Em algumas cidades do Nordeste, os profetas das chuvas estipulam o período chuvoso na região por meio de crenças e saberes populares.
O período chuvoso é, em determinados períodos do ano, confirmado devido às mudanças climáticas, como explica o meteorologista Patrice Oliveira. “Tudo isso está ligado aos sistemas meteorológicos que atuam na nossa região; na cultura popular, as pessoas observavam esses sistemas sem precisar de satélite, sem precisar medir chuva. Eles vivenciam esses sistemas e passam de geração a geração”, explica.
Como a região sertaneja é semiárida, as chuvas tendem a ser rápidas e irregulares. Essa área geralmente está mais distante dos principais sistemas de circulação atmosférica que trazem umidade, como frentes frias e massas de ar úmidas vindas do oceano, o que dificulta a chegada de precipitações no sertão.
Diferentemente das regiões úmidas, em que a chuva acontece em períodos longos, no Semiárido o período chuvoso dura em média quatro meses, conhecido como “quadra chuvosa”. Patrice explica: “Os sistemas de chuvas têm curto espaço de tempo. Ele atua durante quatro, cinco meses no máximo. O restante do ano não sofre atuação do sistema meteorológico que faz chover. No sertão, as chuvas iniciais ocorrem de fevereiro a maio, sendo março o mês mais chuvoso, mas geralmente chove entre 600 a 700 mm por ano no semiárido”.
A convivência de famílias agricultoras com as características climáticas do Semiárido facilita a adaptação durante a estiagem com bastante sabedoria. Partindo dos conhecimentos adquiridos na prática, tecnologias sociais são desenvolvidas a fim de preservar e fazer um bom uso da água da chuva.
Tecnologias sociais
Para se prevenir dos efeitos da estiagem, a agricultora Filomena Donato, do município de Curaçá, no norte da Bahia, tem em casa tecnologias sociais de reúso de água das chuvas que dão uma outra perspectiva para o uso de água na região. “Eu tenho uma cisterna de consumo que eu ponho pra encher, tenho a de produção que é aquela de calçadão que também encho e, quando estão cheias, vou ajeitando em baldes, em dorna, em caixa porque aqui a gente fica feliz quando está chovendo”, elenca a agricultora.
Com a política de armazenar a água para fazer um uso inteligente, as famílias têm água para todas as atividades, como explica Filomena. “A gente não vive sem água, mas hoje a gente tem água e molha as plantas, dá aos animais… tudo isso. Quando chove aqui, a gente tem uns canteiros onde a gente planta hortaliça. A gente aproveita, também, a água da cisterna de produção para molhar [as plantas]. É muito boa a água na nossa comunidade”.
Com o tempo, as famílias sertanejas vão ampliando o uso das tecnologias sociais para fazer um melhor uso da água das chuvas e aprimorar a convivência com o semiárido, mostrando que hoje a vida no sertão é bem diferente do que se costuma imaginar.
Edição: Rodrigo Chagas e Vanessa Gonzaga