Jornada da Natureza

Sonho de floresta em pé e mesa farta inspirou a abertura da 2ª Jornada da Natureza no PR

Toneladas de sementes da palmeira juçara foram espalhadas com helicóptero da PRF em áreas da Reforma Agrária, em Quedas do Iguaçu, região centro-sul do estado
Essa floresta abundante é sonho de famílias das comunidades da Reforma Agrária em Quedas do Iguaçu (PR). Foto: Juliana Barbosa

Por Diangela Menegazzi/Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR 
Da Página do MST

Imagine uma floresta. Dessa floresta saem frutas, sucos, doces, pães, toda uma mesa farta de comida de verdade. Essa floresta abundante é um sonho de famílias das comunidades da Reforma Agrária em Quedas do Iguaçu, região centro-sul do Paraná, que está se tornando realidade. 

Esse sonho de floresta em pé e mesa farta inspirou a abertura da 2ª Jornada da Natureza, nesta segunda-feira (3), quando um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF) espalhou sete toneladas de sementes da palmeira juçara em áreas de reserva legal do assentamento Celso Furtado e das comunidades Vilmar Bordin, Fernando de Lara e Dom Tomás Balduíno. Em junho de 2023, na primeira edição da ação, foram semeadas 4 mil quilos de sementes de juçara

Toneladas de sementes da palmeira juçara foram semeadas em áreas de assentamentos e comunidades na região. Foto: Juliana Barbosa

A segunda edição da Jornada da Natureza com o lema “Semeando vida para enfrentar a crise ambiental” reforça a integração da luta pela Reforma Agrária com ações de enfrentamento à crise ambiental, que já causa danos incalculáveis à vida, sendo a mais recente no Rio Grande do Sul, e em diversas partes do planeta. 

“Queremos apontar uma perspectiva de anúncio a partir da Reforma Agrária Popular, da agroecologia, da semeadura, do plantio de árvores, uma perspectiva de que os territórios camponeses têm condição de mudar essa conjuntura de desmatamento e devastação que a gente tem vivido”, afirma Bruna Zimpel, da direção nacional do MST. 

As atividades da ação duram até sexta-feira (7) e marcam a semana do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho. A Jornada da Natureza organizada pelo MST em todo país, é parte do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. O plano busca intensificar a recuperação ambiental e a produção de alimentos saudáveis, com a meta de plantar 100 milhões de árvores até 2030. 

Sabores da Agrofloresta

Autoridades, pesquisadores e demais participantes presentes na abertura da 2ª Jornada da Natureza visitaram a mata de juçara e a agroindústria para o beneficiamento do açaí juçara, no lote da família dos camponeses Josué e Graciely Gomes, precursores no beneficiamento da fruta. No local, o fruto, está sendo transformado pelas famílias em polpa, base para o próprio açaí, sucos, geleias, picolés, pães e outros alimentos, alguns ainda a serem desenvolvidos.

Frutas nativas da Mata Atlântica usadas em panificados rechearam de colorido a mesa do café da manhã servido no 1º dia da Jornada. Foto: Juliana Barbosa

O avanço na produção, beneficiamento e comercialização da produção na região tem ganhado força com a Associação de Produtores Orgânicos de Quedas do Iguaçu Produzindo Vidas, da qual participam famílias das comunidades de Reforma Agrária do município. Em parceria com o projeto Sabores da Agrofloresta, coordenado pelo Laboratório Vivan, de Sistemas Agroflorestais, da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), camponesas e camponeses comercializam a polpa do açaí para produção dos alimentos. 

E com a empresa OKA Biotecnologia, a associação também avança para a produção de embalagens comestíveis e biodegradáveis, produzidas a partir da fécula de mandioca. A tecnologia pode ser utilizada, por exemplo, como casquinha para o sorvete, e também está sendo testada como cápsula para potencializar o plantio de sementes nativas.

Palmeira onde antes era pinus

Palmeira juçara em processo de crescimento; semente foi lançada na primeira edição da Jornada da Natureza em 2023. Foto: Juliana Barbosa

A ação nesta segunda-feira (3) continuou em uma outra área da comunidade onde vive Itacir Gonçalves Helminski e família. A área recebeu o sobrevoo para semeadura no ano passado, na primeira edição da jornada, e agora já tem milhares de mudas com média de 15 centímetros. Itacir mostrou o local onde algumas das mudas já nasceram e expressou a satisfação de ver a palmeira juçara substituindo o pinus.

“Muito importante pra gente saber que é uma nova era. Logo, logo, essa palha do pinus vai se acabar e vai dar espaço pra essa planta tão rica que é a palmeira juçara. Ela vai servir pra natureza, pro meio ambiente, pras pessoas, enquanto o pinus servia apenas pra fazer madeira para uma única empresa aqui da região”, comentou. Itacir disse ainda que a parceria com a PRF está adiantando muito o processo de adensar a área e manter a palmeira viva.

Semeadura aérea massifica o processo de regeneração

Pelo segundo ano consecutivo, parceria com a PRF garante helicóptero para a semeadura da semente juçara. Foto: Juliana Barbosa

As sementes da juçara têm alto potencial de germinação se disseminadas em seu habitat natural por via aérea. Isso porque o método imita o processo natural de semeadura da planta, pela dispersão feita por pássaros ou quando caem do cacho.

A efetividade da semeadura feira com helicóptero já realizada em 2023 foi avaliada por pesquisadores da  Sistemas Agroflorestais, da UFFS, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR), Ibama e Itaipu Binacional. A equipe monitora a germinação das sementes e o crescimento das mudas.

Segundo o professor e coordenador do trabalho, Julian Pérez-Cassarino, a pesquisa feita no local a partir da semeadura feita de helicóptero mostrou que nasceram entre 10 e 11 mil mudas por hectare. “Se 10% dessas mudas sobreviveram, teríamos, em média, cinco toneladas de polpa por hectare, a um preço de 20 reais, que é o preço que a gente vem trabalhando, dariam 100 mil reais por hectare com a gente enriquecendo a mata, atraindo fauna, permitindo a regeneração de outras espécies”, projeta o professor. 

O comandante Juliano Kunem, de Operações Aéreas da PRF, destacou a satisfação de ver os resultados do plantio de palmeiras juçara, por meio da parceria entre várias instituições. Ele mencionou que a aeronave utilizada foi adquirida com recursos do Ministério da Justiça destinados ao meio ambiente, reforçando o compromisso da PRF com a sociedade.

Kunem também comparou essa ação positiva com os esforços da PRF durante os recentes desastres ambientais no Rio Grande do Sul, ressaltando a importância de reverter os danos ambientais e promover a recuperação da natureza. “A PRF também tem esse objetivo de proteger o meio ambiente, e agora de poder contribuir para que o meio ambiente se desenvolva através da semeadura da plameira juçara”, destacou. 

Participantes da Jornada ao lado do helicóptero utilizado para a semeadura. Foto: Juliana Barbosa

Trabalho coletivo

A 2ª Jornada da Natureza é realizada pelo MST e pela Associação de Cooperação Agrícola e Reforma Agrária do Paraná (ACAP), com patrocínio da Caixa Econômica Federal, e parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Superintendência do Instituto de Colonização e Reforma Agrária do Paraná (Incra-PR), Superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Itaipu Binacional, Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), Secretaria Comunicação Social do Governo Federal, Cooperativa Central da Reforma Agrária (CCA), Cooperativa de Crédito Rural de Pequenos Agricultores e da Reforma Agrária do Centro Oeste do Paraná (Crehnor), Universidade Federal da Fronteira Sul (campus Laranjeiras do Sul – UFFS), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Instituto Água e Terra (IAT) e Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR). 

Confira a programação dos próximos dias: 

05 de junho, quarta-feira (Dia Mundial do Meio Ambiente) – Guarapuava e Pinhão (PR)

Será nas comunidades da Reforma Agrária Nova Geração, Guarapuava, e Nova Aliança, de Pinhão. Junto de outras comunidades do MST, comunidades tradicionais de faxinalenses e posseiros, as famílias camponesas estão organizando a cooperativa CooperGuairacá. A proposta é fortalecer a produção, o beneficiamento e comercialização, com foco na produção agroflorestal, com manejo, reflorestamento e criação de novas áreas de produção. 

Entre as iniciativas para avançar com a organização da cooperativa está o curso “Alimentação com os sabores do Pinhão”, realizado em parceria com a Embrapa, e a capacitação para produção de mudas enxertadas de araucária, a partir da pesquisa do professora Flávio Zanette, da UFPR.  

> Atividade:

Lançamento de semente de araucária no assentamento Nova Geração, e almoço com pratos feitos a base de pinhão, seguido de assembleia popular da Reforma Agrária na comunidade Nova Aliança. 

Programação:

Assentamento Nova Geração – Guarapuava/PR
7h30 às 8h30: Café e acolhida
9h: Mística de abertura e Assembleia Popular da 2ª Jornada da Natureza
9h30: Sobrevoo para semeadura de semente de araucária

Comunidade Nova Aliança – Pinhão/PR
12h30: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)
14h: Assembleia Popular da Reforma Agrária
15h: Plantio de araucária enxertada e árvores no Sistema Agroflorestal (SAF) Comunitário

07 de maio, sexta-feira – Antonina

A ação será no assentamento agroflorestal José Lutzenberger, localizado em parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, litoral do estado. Antes da chegada dessas famílias, a área não era cuidada e não cumpria a função social. Era um território devastado pela pecuária extensiva de búfalo e por crimes ambientais, com o desvio do leito do Rio Pequeno, que atravessa o território.

A área foi ocupada em 2004, e desde então, a combinação da cultura camponesa e caiçara fortaleceu um intenso trabalho de recuperação ambiental e produção agroecológica. Por conta deste trabalho, em 2017 a comunidade recebeu o prêmio Juliana Santilli de Agrobiodiversidade. 

Por meio da cooperativa da comunidade, a Filhos da Terra, a maior parte da produção local serve de alimentação às crianças das escolas estaduais de Guaratuba, Morretes, Antonina e Pontal do Sul, pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). As famílias também participam de feiras na região e comercializam cestas de produtos a moradores locais. 

> Atividade:

Lançamento de sementes de palmeira juçara, com assembleia e almoço comunitário a base de peixe, palmito pupunha e frutas. Também estão previstas presentações culturais do grupo de Fandango Caiçara Mandicuera e Boi de Mamão. 

Programação:
9h: Café Caiçara e acolhida
9h30: Mística de abertura e Assembleia Popular da 2ª Jornada da Natureza
10h30: Sobrevoo para semeadura de sementes de juçara
11h: Visita ao Sistema Agroflorestal e Agroindústria
13h: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)
14h: Leitura da carta caiçara
Tarde: Apresentações culturais do grupo de Fandango Caiçara Mandicuera e Boi de Mamão.

*Editado por João Carlos