Meio Ambiente
3ª Jornada da Natureza encerra com inauguração de viveiro e horto agroecológico no Paraná
Estruturas instaladas no assentamento Contestado, na Lapa, terão capacidade para mais de 100 mil mudas por ano

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST
A inauguração de um viveiro florestal e um horto medicinal marcaram o encerramento da 3ª Jornada da Natureza: Semeando vida para enfrentar a crise ambiental, no sábado (7), no Paraná. A ação é realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em parceria com diversos órgãos públicos e instituições de ensino.
As estruturas foram erguidas no assentamento Contestado, na Lapa (PR), na Região Metropolitana de Curitiba. O viveiro terá capacidade para produção de 100 mil mudas por ano, com foco em espécies da floresta ombrófila mista – a floresta de araucária. Já no horto de plantas medicinais, também conhecidas como bioativas, estão previstas a produção de 5 mil mudas por ano.
As centenas de pessoas presentes no encontro participaram do mutirão de plantio de mil pinhões, as primeiras mudas de araucária do viveiro. O viveiro e o horto integram o projeto Bem Viver, que desenvolve capacitações e implantação de práticas agroecológicas e agroflorestais. O projeto faz parte da parceria entre o Instituto Contestado de Agroecologia (ICA) e a Itaipu Binacional, por meio do Programa Itaipu Mais que Energia, alinhado ao governo federal.
A ação tem como objetivo fortalecer as práticas de agroecologia no Paraná, com avanço no reflorestamento massivo de árvores nativas. Também soma-se ao Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, organizado pelo MST em todo o Brasil, desde 2020.
Um mutirão de semeadura de mil pinhões marcou a atividade de inauguração dos viveiros. Fotos: Juliana Barbosa
Além da produção das mudas, os dois espaços serão voltados a formações práticas para o cultivo de matrizes, manejo e propagação das espécies, e produção de matéria-prima para fitoterápicos. Outro viveiro similar está em construção em Maringá, e dois hortos medicinais, um em Centenário do Sul e outro em Imbaú. A inauguração destes espaços estão previstas para ocorrer nos próximos meses. A capacidade total de produção anual das cinco estruturas deve superar 300 mil mudas.
Essa ação fortalece e beneficia toda a sociedade, porque ao plantar mais árvores, a gente estará plantando água, plantando alimentos saudáveis. O benefício não é só pra quem está no campo, é também pra quem está na cidade, com ar mais puro, água limpa, alimentos de qualidade e diversificados”, explica Priscila Monnerat, coordenadora do Projeto.
Adriano Lima, representante da Itaipu Binacional, participou da inauguração e frisou a relação da missão da empresa com a geração de energia elétrica de qualidade e responsabilidade social e ambiental, relacionada ao fomento da agroecologia. “Para garantir essa energia elétrica de qualidade, precisa também garantir a chamada segurança hídrica. Isso [reflorestar] é garantia de energia, garantia ambiental e, nesse caso social, garantia econômica para as famílias”.
O assentamento Contestado já é uma referência na prática da saúde popular, com um espaço para atendimento com terapias alternativas e um horto medicinal de forma integrada à Unidade Básica de Saúde. Maria Natividade, moradora do assentamento e integrante do coletivo de Saúde Popular da comunidade, vê no horto medicinal uma oportunidade de aprimorar e expandir a prática já realizada no Contestado.
“Vai ser um fortalecimento do que já fazemos em pequena escala, com multiplicação de mudas. Daqui também deve sair geração de renda […]. Vai fortalecer tudo aquilo que nós sonhamos”, garante a camponesa e produtora agroecológica.
Como parte do encerramento da 3ª Jornada da Natureza, o assentamento Contestado também recebeu a conferência “A dimensão ambiental da Reforma Agrária Popular”, na manhã do sábado (7). Participaram do momento de reflexões o pesquisador Leonardo Melgarejo, integrante do Fórum contra os Agrotóxicos do Rio Grande do Sul; Barbara Loureiro, integrante da Direção Nacional do MST e da coordenação do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis; e Tarcísio Leopoldo, dirigente do MST-PR e integrante da coordenação da Jornada da Natureza.
Ao todo, nesta terceira edição do evento, foram mais de 150 ações realizadas em todo o estado, com o plantio ou semeadura aérea de 21 toneladas de sementes da palmeira juçara, espécie ameaçada de extinção na Mata Atlântica. Entre as ações, estão o seminário com a apresentação das pesquisas acadêmicas relacionadas ao reflorestamento da Mata Atlântica com geração de renda, em Quedas do Iguaçu e região; a semeadura de 2 toneladas de juçara na Terra Indígena Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras. E o início do plantio de 1 milhão de árvores, assumido pela comunidade Herdeiros da Terra de 1° de Maio, em Rio Bonito do Iguaçu.
“A Jornada da Natureza está mostrando que não é só o projeto de uma comunidade, de um território, e sim se desenhando também como um projeto de sociedade”, disse Tarcísio, convidando os órgãos públicos, comunidades e movimentos a se somarem na construção da 4ª Jornada.
Reforma agrária para avançar na recuperação ambiental
A transformação de um solo degradado em território de biodiversidade e geração de renda é o que marca o assentamento agroflorestal José Lutzenberger, localizado no município de Antonina (PR), por onde a Jornada da Natureza passou pelo segundo ano consecutivo, nesta sexta-feira (6). A comunidade recebeu uma tonelada de sementes de juçara, que estão sendo distribuídas em toda área do assentamento e arredores, localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, litoral do estado.
Estudos feitos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) nos últimos anos comprovam os avanços na recuperação ambiental a partir da chegada das famílias na comunidade. “Nós temos um aumento muito considerável, significativo mesmo da qualidade ambiental da área, a melhoria das áreas de preservação permanente, as áreas que estavam com bastante erosão hoje estão totalmente recuperadas pela comunidade”, explicou a professora Daniele Pontes, coordenadora do Projeto Planejamento Territorial e Assessoria Popular (PLANTEAR), da UFPR, durante o ato realizado na atividade.
Em reconhecimento ao trabalho de reflorestamento da área ao longo de mais de 20 anos, desde que famílias Sem Terra a ocuparam, a comunidade recebeu o prêmio Juliana Santilli de Agrobiodiversidade, em 2017. Imagens aéreas do território mostram a mudança significativa na quantidade de vegetação, e também o retorno do curso normal do Rio Pequeno, que atravessa a comunidade.
Camile Lugarini, gestora do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), de Antonina e Guaraqueçaba, também esteve na atividade e enfatizou o papel dos seres humanos na proteção do meio ambiente:
“A conservação não se faz sem pessoas. Ela é dependente de pessoas. As pessoas têm que estar engajadas, têm que saber que aquele ambiente conservado vai cuidar de mais para o futuro. Que aquele ambiente conservado vai trazer para a gente uma melhor qualidade de vida. E eu acho que é isso que foi mostrado aqui”, garantiu, indicando a necessidade da continuidade da parceria entre o órgão e a comunidade. “Estamos aqui para trabalharmos juntos”, concluiu.
Os assentamentos da Reforma Agrária no Paraná têm bons resultados na preservação ambiental. Segundo dados do Instituto Água e Terra do Paraná (IAT) sobre o Cadastro Ambiental Rural (CAR), a média de cobertura vegetal nativa nos 333 assentamentos rurais do estado foi de 29,51%, em 2021. Essa média está acima do que indica o Código Florestal, que é de 20% de reserva legal. Esses números contribuem para proteger e restaurar o que resta da Mata Atlântica, uma das mais ricas em diversidade de espécies e ameaçadas do planeta. Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente.
A atividade em Antonina contou com a presença de integrantes da Itaipu Binacional, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e do IAT.
A 3ª Jornada da Natureza foi organizada em parceria com a Associação de Cooperação Agrícola e Reforma Agrária do Paraná (Acap); Cooperativa Central da Reforma Agrária (CCA); PRF; Instituto Contestado de Agroecologia (ICA); Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Laranjeiras do Sul; Laboratório Vivan de Sistemas Agroflorestais; Conab; IAT; Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (Ceagro); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Comitê de Cultura do Paraná; Prefeitura de Quedas do Iguaçu; Fundação Luterana de Diaconia (FLD); e Associação de Produtores Orgânicos de Quedas do Iguaçu Produzindo Vidas (APOQI). Este ano, mais uma vez, a Caixa Econômica e o Governo Federal são patrocinadores do evento.
*Editado por Solange Engelmann