O MST: Nossa história

Eldorado dos Carajás

Em setembro de 1995, cerca de 3.500 famílias de trabalhadores rurais, organizadas pelo MST, formaram um acampamento à margem da estrada, próximo à Fazenda Macaxeira, reivindicando a desapropriação dessa área, considerada improdutiva.

No dia 05 de março de 1996, as famílias acampadas à margem da rodovia PA-275 decidiram ocupar a fazenda, dando início a novas negociações junto ao Incra, que havia considerado a área produtiva. Os Sem Terra, porém, denunciavam que o laudo foi conseguido através de um suborno junto ao superintendente do órgão federal do estado do Pará.

Os Sem Terra, denunciavam que o laudo que considerava a área produtiva foi conseguido através de um suborno junto ao superintendente do órgão federal do estado do Pará.

Promessas não cumpridas

Em um contexto de negociação, o presidente do Instituto de Terras do Estado do Pará colocou-se como mediador entre o Incra e os trabalhadores rurais para agilitar o assentamento das 3.500 famílias. Ficou combinado entre as partes que seriam enviadas 12 toneladas de alimentos e 70 caixas de remédios para o acampamento. Nenhuma dessas promessas foi cumprida.

Com isso, no dia 10 de abril, cerca de 1.500 famílias iniciaram uma marcha para Belém, capital do Estado, a 800 km de distância.

Esta marcha tinha como objetivo protestar as promessas não cumpridas pelo governo do estado, e principalmente pela demora no processo de desapropriação da Fazenda Macaxeira. No dia 16 de abril, os trabalhadores resolvem bloquear a estrada PA-150 no km 95, próximo à cidade de Eldorado dos Carajás, exigindo comida e ônibus para continuarem a marcha. Foram abertas novas negociações, tendo como mediador o comandante da 10° A CIPM/1 a Cipoma, que prometeu alimento e ônibus.

No dia 17 de abril pela manhã, foi dada uma informação de que as negociações estavam canceladas. O cenário estava então montado e as cartas estavam dadas. Os trabalhadores voltaram a bloquear a estrada, na altura da denominada curva do S, no Município de Eldorado dos Carajás.

O Massacre

Por volta das 16 horas do dia 17 de abril, os trabalhadores rurais foram literalmente cercados: policiais do quartel de Parauapebas se posicionaram a oeste, enquanto o leste foi cercado por policiais do batalhão de Marabá. Ao todo, 155 policiais participavam da ação, que chegaram lançando bombas de gás lacrimogêneo. Os soldados não tinham identificação no uniforme e suas armas e munições não foram anotadas nas fichas que comprovam quem estava no local.

O resultado foi a morte de 21 Sem Terra e outros 56 feridos/mutilados. Segundo o médico legista, houve tiros na nuca e na testa, indicando assassinato premeditado de 7 vítimas

O resultado, entretanto, foi bem preciso: na hora, morreram 19 trabalhadores rurais, com 37 perfurações de bala, e 56 ficaram feridos. Outros dois morreram dias depois. Segundo o médico legista Nelson Massini, houve tiros na nuca e na testa, indicando assassinato premeditado de sete vítimas. Ficaram nos corpos dos mortos 17 balas e 12 deles apresentaram cortes profundos com foices e facões, provavelmente instrumentos retirados dos próprios trabalhadores rurais. Um teve a cabeça estraçalhada.

Quem é o culpado?

O episódio se deu no governo de Almir Gabriel (PSDB), o então governador. A ordem para a ação policial partiu do Secretário de Segurança do Pará, Paulo Sette Câmara, que declarou, depois do ocorrido, que autorizara “usar a força necessária, inclusive atirar”.

Duas pessoas foram condenadas pelo Massacre: o coronel Mario Colares Pantoja (a 228 anos) e o major José Maria Pereira Oliveira (a 154 anos), que estavam à frente dos policiais. Ambos recorreram em liberdade até 2012.

Muitos se perguntam se um massacre se faz com duas pessoas, ou se os responsáveis políticos na época, o então governador Almir Gabriel (que ordenou a desobstrução da rodovia) e o secretário de Segurança Pública, Paulo Câmara (que autorizou o uso da força policial), não deveriam ter sido processados.

Ou mesmo a outra centena de policiais militares que participaram da matança, todos absolvidos. Isso sem contar as denúncias que apontavam a participação de fazendeiros locais, que teriam dado apoio à ação policial, mas que ficaram por isso mesmo.

Nos piores momentos de repressão, conhecemos o valor da solidariedade.

Nestes piores momentos de repressão, no entanto, desde os nossos primeiros acampamentos, é que conhecemos o valor da solidariedade. Expresso de forma organizada por meio das ações de sindicatos, partidos, da Comissão Pastoral da Terra ou muitas vezes anônima, nos gestos de milhares de apoiadores e simpatizantes de nossa luta.