Plano Sharon

Por Newton Carlos, Fonte Correio da Cidadania

Antes de ser assassinado por um partidário do que ele via como “alucinação”, a imposição de um “grande Israel”, o ex-primeiro-ministro Rabin estabeleceu como meta de Israel afirmar-se como um “Estado judaico”, secular, entidade não religiosa, em boa-vizinhança com uma “entidade palestina”. O máximo que a Autoridade Palestina (AP) conseguiu, com os acordos de Oslo, de 1993, foi a devolução de mais ou menos 20 por cento das terras ocupadas em 1967. O restante ou continuou totalmente controlado por Israel ou sob administração conjunta.

A idéia de uma “entidade palestina” ganha traços ainda mais subalternos com a colocação em marcha do plano Sharon, a partir de iniciativa unilateral do primeiro-ministro de Israel. Os 8 mil colonos judeus e as tropas que os protegem saem de Gaza. A faixa de terra superpovoada e paupérrima, imprensada entre o mar e o muro construído por Israel, afinal poderia constituir-se num Estado? Suas fronteiras, espaço aéreo e faixa de mar costeira continuarão sob o controle de Israel. Também a única área de relativo valor econômico de Gaza.

E o outro componente dos territórios ocupados em 1967, a Cisjordânia, de importância muito maior? O plano Sharon retira uns poucos colonos, mais de 150 mil ficarão por lá e novas colônias serão construídas. Além disso, as áreas palestinas são espécies de manchas separadas umas das outras. Nos “corredores” entre elas circulam livremente as forças de segurança de Israel. Lembram os bantustãos da África do Sul nos tempos do “apartheid”. Sob forma mais civilizada, equivaleriam aos cantões suíços. Não há como construir um Estado aí e essa impossibilidade está implícita no Plano Sharon.

Decisões impostas de modo unilateral e não negociadas. O próprio Arafat, antes de tornar-se um cativo, precisava de autorização para viajar. Israel controla o único aeroporto internacional dos territórios palestinos, o de Gaza, e isso não se altera com o “plano Sharon”. O coração da crise são os territórios ocupados. De acordo com Oslo, Cisjordânia e Gaza, 22 por cento da Palestina original, seriam agrupadas num Estado palestino. Israel se contentaria com 78 por cento. Daí saíram os acordos que resultaram na criação da Autoridade Palestina (AP) e instalação em Gaza de um governo autônomo.

Mas desde que assumiu o poder, “Sharon se empenha em acabar com Oslo e desmantelar a AP”, diz o pacifista judeu Uri Avnery. Não se trata de suprimir a violência. Sharon quer destruir a própria noção de entidade palestina e instituições que possam ampará-la. Nada de redividir terras. Conta com a força e um surpreendente conformismo árabe. “Precisamos decidir se a Palestina continua sendo ou não o nosso problema central”, escreveu um influente jornal libanês.