Por quem dobram os sinos em Anapu

Por Plinio de Arruda Sampaio

Pela alma da Irmã Dorothy certamente não. Os sinos não dobram, repicam de alegria, isto sim, quando a alma de uma pessoa martirizada por amor ao Cristo e aos seus irmãos chega aos céus: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu”.

Os sinos de Anapu dobram pelas pobres gentes que buscaram refazer suas vidas naquele perdido grotão do Pará, fiados na promessa da Reforma Agrária. Agora, órfãos da sua grande protetora, encontram-se literalmente nas mãos dos assassinos.

Dobram também, os tristes sinos de Anapu, pelo governo petista atropelado no turbilhão das suas incoerências, incapaz de realizar o que prometeu durante toda sua história.

Porém, mais do que por estes, os sinos de Anapu dobram por nós, brasileiros, atolados nesta sociedade bárbara, em que dois pistoleiros fulminam uma frágil mulher, de 74 anos, a troco de alguns reais e da certeza da impunidade. Uma sociedade tão primitiva que, após cento e oitenta e três anos de vida política independente, ainda não conseguiu estabelecer regras claras para o acesso de seus habitantes às imensas extensões de terra do seu país.

Ao chamado dos sinos de Anapú, não devemos pedir a Deus pela alma da Irmã Dorothy. Antes devemos pedir a ela, que interceda por nós mornos cristãos brasileiros – a fim de que Deus nos dê um pouco da coragem e da fé que ela demonstrou em toda a sua vida e na hora da sua morte.