Na cidade, preocupação com o campo

Por Milton Viário*

O ano de 2005 não vai deixar boas lembranças para os trabalhadores e trabalhadoras metalúrgicas. O setor de máquinas agrícolas enfrentou uma de suas piores crises, cerca de 5 mil foram demitidos e 1.500 deles aqui no Rio Grande do Sul. As quedas nas vendas alcançam aproximadamente 30% em relação ao ano anterior e a produção também diminuiu.

Um dos motivos para um desempenho tão baixo da indústria de tratores e máquinas agrícolas está na política econômica. As altas taxas de juros inibem qualquer iniciativa de crescimento.

Outro motivo é o mito do agronegócio. Muita gente caiu na fábula de que o agronegócio impulsionaria o desenvolvimento e que o sucesso deste setor iria contribuir para outros setores. Por trás de tanta publicidade, a realidade é outra. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), as grandes propriedades com mais de 2 mil hectares tinham em seu patrimônio cerca de 35 mil tratores. Enquanto as pequenas propriedades, com menos de 200 hectares, possuíam mais de 500 mil tratores.

Por estes motivos que nós, metalúrgicos, temos observado com atenção as políticas agrícolas. Entendemos que seremos diretamente beneficiados por investimentos na agricultura familiar e na Reforma Agrária. Seja no caso de máquinas agrícolas, seja na produção de ferramentas.

No caso da Reforma Agrária, uma família assentada, quando chega na terra, precisa começar do zero. Construir sua casa, adquirir móveis, eletrodomésticos e as já citadas máquinas e ferramentas. Esta demanda causa um impacto que dinamiza e impulsiona a economia dos pequenos municípios e das regiões agrícolas e tem conseqüências nas geração de empregos indiretos na cidade. Da mesma forma, a agricultura familiar é responsável por 80% dos alimentos que chegam para nós, trabalhadores urbanos. É mais do que nosso interesse que campo e cidade desenvolvam-se conjuntamente.

Por isso, nos preocupam as recentes denúncias na imprensa de que o número de famílias assentadas em 2005 é muito menor do que a realidade. No Rio Grande do Sul, apenas 161 famílias teriam sido assentadas no último ano. Se, pelo contrário, todas as 2500 famílias que estão nas beiras de estradas, lutando pela terra, estivessem assentadas, teríamos gerado 7.500 empregos direto.

Em 2006, vamos ficar atentos. Com um olho na política econômica e outro na política agrícola. Se as mudanças que a sociedade pede nestes dois setores ocorrerem, aí, sim estaremos no caminho para um novo modelo, equilibrado e sustentável, de desenvolvimento.

*Milton Viário, é Presidente da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul – filiado à CUT

Veja abaixo os números de venda de máquinas agrícolas no Brasil (inclui colhetadeiras, cultivadores, tratores de rodas, tratoresde esteira, retroescavadeira)

1972 – 33.942 unidades
1976 – 80.215 unidades
1980 – 67.653 unidades
1990 – 21.241 unidades
2000 – 24.291 unidades
2005 – 17.729 unidades

Fonte: ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Máquinas Agrícolas