Começa hoje a 5ª Jornada de Agoecologia do Paraná

Por Kelen Vanzin e Joaquim Madruga

A 5ª Jornada de Agroecologia tem início hoje sob o tema “Construindo o Projeto Popular e Soberano para a Agricultura”. Os debates vão até o dia 10 de maio e acontecem no Centro de Convenções de Cascavel, no Paraná.

Mais de 8 mil militantes da Via Campesina, entidades e organizações não-governamentais se reúnem estudar e trocar experiências em produção agroecológica. Os participantes mostraram sua força já na abertura do encontro, com uma marcha pela cidade batizada de “Biodiversidade e agroecologia”.

Temas

Umas das principais bandeiras da jornada é a luta contra os transgênicos e o uso de agrotóxicos. Em contrapartida, o encontro propõe a valorização dos conhecimentos das comunidades tradicionais e a preservação da biodiversidade. “Queremos produzir com qualidade para nação brasileira. Nossos antepassados produziam com fartura e sem agrotóxicos. Já o agronegócio não produz para a mesa e sim bebedouro para o gado”, afirma Dionísio Vandresen, coordenador da Comissão Pastoral da Terra no Paraná.

O modo de produção agroecológico é realidade em todas as regiões brasileiras. Segundo um dos coordenadores da jornada e do MST no Paraná, José Maria Tardin, o desenvolvimento de pesquisas na área faz do Brasil uma referência em agroecologia. A cada jornada, coordenadores dos movimentos sociais e pesquisadores na área fazem uma análise do comportamento das multinacionais que sustentam esse sistema. “O governo brasileiro não tem conseguido limitar as ações dessas multinacionais em nosso país, por isso a importância da ação dos movimentos”, afirma Tardin.
Programação

Após as avaliações que iniciam a jornada, pesquisadores, estudiosos, técnicos e produtores vão discutir a organização camponesa e a construção do projeto popular para agricultura, relações de gênero, ética, ecologia e solidariedade. Entre os conferencistas estão o teólogo Leonardo Boff, o integrante do MST Ademar Bogo e o deputado estadual (PT-RS) Frei Sérgio Görgen.

Na programação há também várias oficinas com temas relacionados à troca de experiências em agroecologia, comercialização, transgênicos, sementes crioulas, educação e plantas medicinais.

Simultaneamente aos debates, os pequenos agricultores apresentam seus produtos na Feira de Agroecologia. Haverá a comercialização de sementes crioulas, plantas ornamentais para jardinagem e temperos. Na feira de alimentos, sucos, compotas, erva-mate e cachaça. “Esse é um dos grandes momentos da jornada, onde há um intenso intercâmbio cultural e de amizade entre os participantes”, conta Tardin.

Há também uma terceira parte da Jornada, em que são discutidas questões de políticas públicas para a agricultura camponesa. “A Jornada também é política e por isso, em seu encerramento, os participantes elaboram uma carta com reivindicações para que o projeto soberano alimentar avance”, afirma Tardin.

A confraternização entre os participantes é ainda maior à noite, quando ocorrem as apresentações culturais. Músicos, poetas animam a jornada com música nativista, fandango, sertaneja, moda de viola, trova e poesia. No sábado (09/06) haverá um baile camponês que encerra a programação cultural da V Jornada de Agroecologia.

Ações marcaram as jornadas

Os três primeiros eventos (2002, 2003 e 2004) aconteceram no município de Ponta Grossa (PR). O de 2005 foi na cidade de Cascavel, atual sede. Além dos debates nessa semana, eventos ligados à jornada são realizados durante o ano todo em diversos locais.

Em 2001, em uma reunião do setorial agrário do Partido dos Trabalhadores com a Secretaria de Agricultura de Ponta Grossa surgiu a idéia de se organizar um evento, onde todas as entidades do campo pudessem discutir e propor alternativas para a agricultura. A idéia central era ser um evento com atividades o ano todo, em diversas partes do estado. A partir daí surgiu o nome Jornada de Agroecologia.

Na primeira edição, realizada entre os dias 17 a 20 de abril de 2002, uma grande passeata no centro da cidade foi um marco na luta dos agricultores camponeses no estado do Paraná. A denúncia da exploração das multinacionais e o perigo que as sementes modificadas poderiam trazer para a humanidade fizeram com que a jornada trouxesse esse debate para toda a sociedade.

Em 2003, a grande atividade da Jornada de Agroecologia foi a ocupação de um plantio de milho transgênico na fazenda experimental da Monsanto, também em Ponta Grossa. Entidades de várias partes do mundo manifestaram apoio aos militantes.

Já em 15 de maio de 2004, durante o ato de encerramento da 3ª Jornada foi inaugurado o Centro Chico Mendes de Agroecologia, na antiga área experimental da Monsanto ocupada no ano anterior. Os Sem Terra passaram a produzir sementes crioulas e sem contaminação no local.

A 4ª Jornada de Agroecologia foi realizada em Cascavel, nos dias 25 a 28 de maio de 2005. A mobilização central foi marcada por várias questões, como o apoio público do governador do estado Roberto Requião às sementes crioulas e contra o plantio de transgênicos.