Cooperativismo é a saída para o pequeno produtor

Criada em 1996 por 120 assentados da Reforma Agrária, a Cooperoeste (Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste Ltda) é hoje uma das grandes produtoras de leite da região sul do país. Sediada em São Miguel do Oeste (SC), ela produz e comercializa cerca de 330 mil litros de leite diariamente.

Criada em 1996 por 120 assentados da Reforma Agrária, a Cooperoeste (Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste Ltda) é hoje uma das grandes produtoras de leite da região sul do país. Sediada em São Miguel do Oeste (SC), ela produz e comercializa cerca de 330 mil litros de leite diariamente.

No mês em que completa dez anos, a Cooperoeste planeja expandir seus produtos e passar a produzir de forma agroecológica. Na entrevista abaixo, Nelson Foss, presidente da cooperativa, comenta o trabalho desenvolvido hoje e fala sobre a importância de uma política agrícola que priorize os trabalhadores e as trabalhadoras rurais.

Qual a estrutura da Cooperoeste hoje?

Nós estamos trabalhando com 330 mil litros de leite por dia, sendo que a maior parte desse leite é longa-vida. Cerca de 200 mil litros são da marca Terra Viva, em que trabalham Sem Terra ligados ao MST, e 130 mil litros são prestação de serviços para outras duas empresas. Atendemos hoje 2.171 agricultores integrados na Cooperoeste e também compramos leite de várias outras empresas. No total, nosso leite vem de seis mil famílias para ser industrializado na cooperativa. Temos também outros produtos, como bebida láctea e iogurte. Ainda nesse ano pretendemos lançar outros produtos, como o creme de leite em caixinha e o leite achocolatado.

Existe produção de leite agroecológico? Como seria uma produção agroecológica?

Ainda não chegamos a produzir leite agroecológico. Na região, a maioria da produção, em torno de 95%, é a base de pasto. Estamos caminhando para o leite agroecológico. Deveríamos ter um controle maior sobre os medicamentos usados nos animais. Hoje utilizamos medicamentos (vermífogo e outros remédios tradicionais) para controle de algumas doenças que poderiam ser prevenidas a partir de um manejo mais adequado. Precisamos capacitar nossa equipe técnica e os produtores para dar esse passo.

Quais são as regiões que a Cooperoeste atinge hoje?

A nossa venda é centralizada no estado do Paraná, com 54% da nossa produção. Santa Catarina tem em torno de 22% e o restante é distribuído em Mato Grosso, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Qual a importância do cooperativismo para a alimentação da população?

Para mim, o cooperativismo é uma das saídas para o pequeno agricultor que está sendo excluído do processo de produção pelas grandes agroindústrias. Aqui no extremo-oeste de Santa Catarina nós sofremos isso na pele com a suinicultura: 95% dos agricultores produziam suínos e hoje menos de 5% produzem. As cooperativas têm um papel fundamental nesse sentido, de poder garantir a permanência do agricultor no campo. Além disso, elas prestam serviços que outras empresas não fazem, como a assistência técnica, que é fundamental para os produtores. As cooperativas têm um trabalho nessa área muito maior do que as empresas privadas.

Hoje o Brasil precisa importar leite, soja e milho, apesar de ter uma produção em excesso deles, o chamado superávit. Por que isso ocorre?

Isso retrata uma política agrícola voltada ao mercado, onde o Estado não tem controle da produção. Quem manda na produção hoje é o próprio mercado. São as contradições que vivemos. No ano passado o Brasil teve seu primeiro superávit na produção de leite, mas as grandes empresas, que não têm pátria, importam o novo produto com taxas menores, causando um dano muito grande ao mercado interno de leite. Acho que é fruto de uma política que jogou a agricultura na economia de mercado. No meu entender, o Estado deveria ter um controle sobre a produção agrícola e intervir sobre esse tipo de situação.