Movimento camponês mexicano e os protestos pós-eleição

Por Victor M. Quintana S.
Fonte La Jornada

Para o movimento camponês mexicano essa pode ser a última chamada. E não porque alguém desconfie da enorme capacidade de resistência dos homens e mulheres do campo, mas porque talvez não haja outra oportunidade de levar adiante um projeto que lhes permita avançar estrategicamente e se consolidar no campo produtivo, econômico, social e político, para além das táticas individuais ou familiares de sobrevivência.

Somar-se à demanda por limpar as eleições presidenciais e impugnar o triunfo arranjado do candidato do PAN (Partido de Ação Nacional) significa duas coisas fundamentais para as organizações camponesas: a primeira, fortalecer o vasto movimento cidadão que luta para que a democracia avance e se mantenha viva nesse país; a segunda, deter o projeto privatizador, elitista e excludente que se impôs no meio rural desde 1982 e que Vicente Fox continuou com extrema agilidade. E Felipe Calderón seguirá o impondo como parte do projeto de poder econômico transnacional do qual é representante.

Durante o período que termina agora, o movimento camponês tentou se unir e arrancar do governo federal o Acordo Nacional para o Campo, em abril de 2003. No entanto, o governo de Fox conseguiu se desfazer dos compromissos fundamentais desse pacto porque o movimento camponês baixou a guarda e se dividiu. E o mesmo faria Felipe, ao chegar ao poder com as organizações camponesas divididas, passivas e pasmas.
Porque com o Acordo Nacional pelo Campo, com ele ou contra ele, os resultados da política agropecuária do período Fox são muito evidentes:

– Paralisação do processo produtivo: entre 2000 e 2005, o PIB (Produto Interno Bruto) do setor cresceu somente 1,5% enquanto a economia em geral cresceu 2,6%. No ano anterior, houve um decréscimo de 1,5%.

– Aumento da dependência alimentar: em 2005, as importações dos produtos agroalimentares representaram 40% do consumo total, contra 15% em 1982 e 20% em 2004 (dados do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Rural Sustentável da Câmara dos Deputados). As importações agroalimentares durante os primeiros cinco anos do foxismo foram 52% maiores que as de um período similar com Ernesto Zedillo.

– Destruição dos empregos rurais: mais de dois milhões desde que entrou em vigor o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), sem que os secretários de Agricultura foxistas tenham tentado deter a perda.

– A isso é preciso adicionar a forma como lidaram com as dependências do setor agropecuário: os apoios preferenciais aos grandes produtores do ramo e a empresas transnacionais. A extrema burocratização dos programas como o Procampo e o uso das gestões de alguns legisladores do PAN como único meio para que alguns produtores recebam apoios oficiais, em troca de seus apoios eleitorais ao partido no poder.

Diante dessa situação, as organizações camponesas mais importantes, com exceção da CNC, e dada a abertura mostrada por Andrés Manuel López Obrador, conseguiram com que o candidato assinasse o documento “Um Novo Pacto Nacional para um Futuro Melhor para o Campo e para a Nação”. É um verdadeiro projeto alternativo para uma sociedade rural mais justa e sustentável, baseado em 25 compromissos políticos concretos. Uma espécie de Acordo Nacional para o Campo Mais, para que o governo e o movimento camponês reativem o campo sob novas premissas. Foi assinado com convicção e sem rodeios por López Obrador, e marca a orientação básica que seguirá seu governo na matéria.

Se a fraude levar Calderón à Presidência, o meio rural continuará sendo o espaço da catástrofe econômica, social e ambiental para a maioria, e um paraíso para alguns agroexportadores. Por isso, é importante que o movimento camponês volte a ativa tendo como eixo imediato a reivindicação de limpar as eleições presidenciais. É uma demanda que aglutina, fazendo convergir uma unidade de ação, sem se subordinar a nenhum partido, mas sim se juntado a esse amplo movimento cidadão que emerge por todo o país.

Tomar as ruas, estradas e pontes ontra vez em defesa da democracia eleitoral não só fará com que o movimento camponês contribua com o a democratização do país. Também resultará em seu fortalecimento como ator político, na capacidade de exigir do novo governo que se comprometa com o projeto rural que as camponesas e os camponeses construíram para o bem de todos.