A próxima revolução vem do campo

As empresas das ciências da vida como a Monsanto, Syngenta, Bayer, Pioneer, etc., sustentavam durante anos que os alimentos geneticamente modificados eram a próxima grande revolução científica e tecnológica no campo da agricultura, assim como a única forma barata e eficiente de alimentar a crescente população de um mundo que se reduz. Mas as tecnologias de “união”, base da tecnologia transgênica, estão se tornando obsoletas. “A nova fronteira chama-se genômica e a nova tecnologia agrícola recebe o nome de Seleção Assistida por Marcadores (SAM)”, afirma Jeremy Rifkin, em artigo publicado pelo jornal uruguaio La Republica. Mas, alerta ele, “é preciso advertir que a SAM tem valor na medida em que é utilizada como parte de uma estratégia agroecológica mais ampla”. Leia abaixo a íntegra do texto:

A tecnologia de Seleção Assistida por Marcadores

Por Jeremy Rifkin

Pintou-se as Organizações Não-Governamentais, entre elas a minha, a Fundação de Tendências Econômicas, como as vilãs desse drama agrícola. Foram acusadas de obstruir o avanço científico e tecnológico devido a sua oposição aos alimentos geneticamente modificados.

Por ironia da história, há atualmente novas tecnologias que fazem com que a união de genes e as plantas transgênicas se tornem obsoletas e se convertam num sério impedimento para o progresso científico.

A nova fronteira chama-se genômica e a nova tecnologia agrícola recebe o nome de Seleção Assistida por Marcadores (SAM). A nova tecnologia oferece um método novo e sofisticado de aceleração do desenvolvimento clássico. Um número crescente de cientistas considera que a SAM, que já está se incorporando ao mercado, terminará por substituir os alimentos geneticamente modificados.

Os cientistas mapeiam e seqüenciam o genoma das principais espécies vegetais e utilizam as descobertas na criação de uma nova forma de fazer avançar a tecnologia agrícola. Em vez de usar as técnicas de união molecular para transferir um gene de uma espécie não aparentada ao genoma de uma planta alimentícia de modo a aumentar seu rendimento, a resistência aos pesticidas ou melhorar seu nível nutritivo, os cientistas utilizam agora a Seleção Assistida por Marcadores para detectar características desejadas em outras variedades ou em espécies aparentadas silvestres de uma determinada planta alimentícia. Em seguida cruzam essas plantas com as variedades comerciais existentes para conseguir um melhoramento. Com a SAM, o desenvolvimento de novas variedades permanece sempre dentro de uma espécie, o que reduz muito o risco de dano ecológico e de possíveis efeitos nocivos à saúde, que costuma associar-se às plantas geneticamente modificadas.

Experimentos com tecnologia SAM

Um número crescente de pesquisadores que trabalham em laboratórios comerciais ou nos setores governamental ou acadêmico optam pela SAM como alternativa à tecnologia de união de genes no desenvolvimento e ampliação das plantas alimentícias existentes.

Por meio da SAM os pesquisadores holandeses desenvolvem uma nova variedade de alface resistente a um pulgão que provoca um crescimento reduzido e anormal nos campos de alface da Califórnia e na Europa. Os pesquisadores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos utilizaram a SAM para desenvolver uma variedade de arroz de exterior suave, mas que tem um interior que permanece firme depois do processamento. Cientistas da Grã-Bretanha e da Índia usaram a SAM para desenvolver uma espécie de milho dourado tolerante à seca e resistente à ferrugem. A planta foi introduzida no mercado da Índia em 2005. Até a Syngenta, uma das maiores empresas agrárias do mundo, começou a distanciar-se da tecnologia geneticamente modificada e a prestar mais atenção à SAM. Os pesquisadores da Syngenta desenvolveram uma variedade de trigo com maior resistência à fusariose. Wally Beversdorf, ex-vice-presidente de pesquisa vegetal da Syngenta, admitiu que, se bem que a empresa continua utilizando a tecnologia GM, atualmente “a seleção assistida por marcadores é a primeira opção” da companhia.

Limites da tecnologia transgênica

Enquanto a SAM emerge como uma tecnologia agrícola nova, cheia de promessas e de ampla aplicação, os limites da tecnologia transgênica se tornam cada vez mais evidentes. A maior parte das plantas transgênicas que foi introduzida no campo manifesta apenas duas características: resistência aos pesticidas e compatibilidade com herbicidas, e se baseia na expressão de apenas um gene, o que está longe de ser a propalada revolução agrícola que as empresas de ciências da vida haviam anunciado no começo da era dos organismos geneticamente modificados.

A SAM ainda tem longo caminho a percorrer

A SAM se encontra nas primeiras etapas de desenvolvimento, mas tem grandes possibilidades como alternativa às plantas geneticamente modificadas mediante a utilização da união de genes dentro e entres espécies. Os pesquisadores insistem em que ainda há muito que fazer no que diz respeito a entender a coreografia, por exemplo, entre marcadores genéticos individuais e fatores ecológicos e grupos genéticos complexos, tudo o que afeta o desenvolvimento da planta.

Os cientistas não conseguiram avançar muito em relação às características, como o rendimento intrínseco e a tolerância à seca, que têm grande importância na agricultura, até que não superem as barreiras que obstaculizam o trabalho com grupos de genes.

Mas, também é preciso advertir que a SAM tem valor na medida em que é utilizada como parte de uma estratégia agroecológica mais ampla, que integra a introdução de novas plantas com a devida atenção aos demais fatores que determinam a sustentabilidade da agricultura.