Fortalecer o debate do Programa Agrário

Por Ana Claudia Mielki

Por Ana Claudia Mielki

O 5° Congresso do MST está chegando. Nos estados, há uma grande expectativa para esse que promete ser o maior congresso da história do MST. Ao todo 17 mil participantes estão sendo esperados, entre delegados brasileiros e observadores internacionais. O estado de Pernambuco, que possui um histórico de grande mobilização para o Congresso, deve levar este ano, uma delegação com 1.200 pessoas. Pernambuco fez o lançamento oficial do Congresso no estado, na última sexta-feira, dia 25. Em entrevista, a dirigente do MST em Pernambuco, Messilene Gorete da Silva fala das expectativas dos trabalhadores Sem Terra e da importância do Congresso do MST para aprofundar discussões e tirar as linhas de atuação do Movimento para os próximos anos.

A delegação de Pernambuco foi a maior, tanto no IV Congresso em 2000, tanto na Marcha Nacional em 2005. Existe alguma explicação para essa grande participação dos trabalhadores rurais de Pernambuco?

Primeiro porque historicamente o estado de Pernambuco tem um caráter de mobilização de massa. Pernambuco é um estado que tem um nível de pobreza muito grande, isso facilita na acumulação de forças. Esse é um elemento que nos ajuda na luta pela terra. Nós do MST viemos difundindo e fortalecendo isso. Atualmente nós temos 12.620 famílias assentadas e 16 mil acampadas, ou seja, nós temos uma base mobilizada e organizada no Movimento Sem Terra. O fato de as pessoas participarem do Congresso e de outras atividades de massa do Movimento é resultado disso, da quantidade de famílias que a gente tem mobilizadas em assentamentos e acampamentos. E nosso princípio é de que quanto mais gente nas fileiras da luta, melhor.

Como vocês estão fazendo a preparação para o Congresso?

A gente começou a discutir o Congresso com a idéia de tentar massificar a participação da nossa base. Discutimos a mística e a importância do Congresso para o Movimento. A partir disso jogamos a responsabilidade também para a base. Nós queremos a participação efetiva de todos. A contribuição dessa base para a construção do Congresso. Com a militância a gente começou a discutir bem cedo, desde o início do ano passado. Um dos instrumentos para isso foi nosso Encontro Estadual, que reuniu 1.200 pessoas. Em todos os espaços a gente pauta o Congresso a partir dessa idéia de motivação e de participação efetiva. E que essa participação seja construída com toda nossa base, seja assentada ou acampada.

Como as pessoas que participam voltam dessas atividades nacionais? Como elas voltam do Congresso?

O Congresso é uma grande mística. Assim também como a Marcha Nacional. Isso porque quando se encontram milhares de pessoas, ocorre uma grande integração. As pessoas conhecem outras realidades, trocam experiências, conhecem diferentes culturas, e essa pluralidade já é um elemento fundamental nas nossas atividades nacionais. O retorno é a motivação que volta para base, é a idéia de trazer o compromisso da participação de todos na luta. O Congresso é um instrumento também para pensar o Movimento de forma conjunta. Ajuda a termos clareza daquilo que queremos construir. É um momento de pensar que somos um Movimento fundamental para a luta pela Reforma Agrária e para as lutas de massa nesse país. Além disso, por ser em Brasília, existe também essa motivação de ser o local onde se definem diversas questões do ponto de vista do Estado. “Vamos para Brasília, vamos pressionar o Governo, vamos trazer resultados concretos para nossa base”. Isso também é um elemento fundamental.

Existe alguma atividade de preparação prevista para acontecer no Estado até o Congresso?

O debate do Congresso é permanente. Mas nós também elegemos o mês de maio como o mês do Congresso Nacional. Nós vamos priorizar isso. Vamos debater nossos valores, fortalecer a mística do Congresso e fazer o debate político sobre o nosso Programa Agrário, inclusive para garantir que a participação seja massiva, mas também qualitativa. As pessoas têm que ir para o Congresso sabendo a importância ele tem para o Movimento. Será um mês também de fortalecer o debate com a sociedade. Vamos fazer atos políticos nas capitais com nossos aliados e outras categorias, para acumular e também para debater o Programa Agrário que vamos fortalecer no Congresso.

Falando em números, quantas pessoas vocês pretendem levar para o Congresso esse ano?

Nosso desafio é levar 1.200 pessoas. Nós debatemos essa meta na reunião da Direção Nacional (DN) do ano passado. Atualmente, nós temos em Pernambuco, 40 brigadas de famílias e cada brigada será responsável por um ônibus. Entre esses 1200 delegados estarão representantes dos assentados, dos acampados e da militância em geral. Teremos representação de todos os assentamentos e acampamentos, e ainda, tiramos uma linha política nacional de que os delegados sejam 50% homens e 50% mulheres.

No I Congresso em 1985, um dos temas e palavras de ordem foi “Sem Reforma Agrária não há democracia”, um reflexo do processo de redemocratização do país, recém saído de um período de Ditadura Militar. No IV Congresso, em 2000, ainda no Governo FHC, o tema foi “Reforma Agrária, por um Brasil sem latifúndio”, que reflexo das políticas neoliberais implantadas no país que privilegiavam o agronegócio em detrimento da pequena agricultura. Os temas do Congresso estão sempre dialogando com a conjuntura do período. E esse ano qual será o tema do V Congresso?

Esse é um debate que nós acumulamos tanto na DN quanto na reunião da Coordenação Nacional, que aconteceu em janeiro desse ano, em Salvador. Nós tiramos um encaminhamento de potencializar esse debate também nas direções estaduais para que gente construísse o tema do congresso em torno daquilo que a gente vem desenvolvendo no Brasil atualmente. Isso porque o lema do Congresso é o que nos orienta durante um período, sustenta nossas ações do ponto de vista estratégico e tático. Então o lema desse ano, tendo em vista, o acúmulo de debates que fizemos, é “Reforma Agrária – Por Justiça Social e Soberania e Popular”. Nessa idéia de que a gente tem que construir um país soberano, mas que essa soberania tem que ser construída em conjunto com a sociedade, com o povo.