Mais espaço para outras vozes

Lançado no Brasil há quase oito anos, o Le Monde Diplomatique agora também tem uma versão brasileira, que chegou às bancas no último dia 6. O lançamento da versão brasileira do jornal pretende ser mais um passo rumo a uma cobertura midiática mais plural e mais analítica sobre a realidade brasileira.

O Le Monde Diplomatique se destaca por uma cobertura que não se limita a dar voz aos velhos conhecidos donos do poder. Com uma cobertura ampla e crítica o jornal vem cumprindo o papel importante, ao abrir espaços para intelectuais como Noam Chomsky e também por pautarem temas, que a imprensa, de uma forma geral, não pautar, ou quando pauta distorce, como, por exemplo, a questão da luta pela terra no Brasil.

Na edição de agosto, o jornal traz uma entrevista com o lingüista norte-americano Noam Chomsky, que descreve os mecanismos por meio dos quais a mídia procura construir consensos que reproduzem as lógicas do capitalismo. Chomsky nota, sempre apoiado em uma profusão de dados sociológicos e históricos, que muitas vezes esta construção se faz contra o senso comum.

Além da matéria de capa, foram traduzidos do original francês autores como Armand Mattelart, Bernard Cassen, Pierre Lévy e o romancista inglês John Berger. Entre os temas debatidos estão: o papel dos intelectuais na era da internet, os esforços da indústria farmacêutica para criar medicamentos que podem se tornar armas de guerra e a redescoberta das literaturas indianas.

A edição é enriquecida com artigos de colaboradores brasileiros, como José Tadeu Arantes, que é o editor da versão impressa e entrevista Antanas Mokus, “O homem que reinventou Bogotá”; Roberto Kishinami, que traz subsídios para o debate sobre o etanol; Márcio Santili, num texto que debate as alternativas para a Amazônia; Ferréz, que faz uma crônica mordaz sobre a emergência da cultura das periferias, suas possibilidades e contradições e o próprio Sílvio Caccia Bava, que especula sobre a crise do neoliberalismo na América Latina.

Inovações

Além do jornal impresso que terá uma tiragem inicial de 40 mil exemplares, duas outras iniciativas também fazem parte do projeto Le Monde Diplomatique Brasil: livros temáticos de bolso e o Caderno Brasil, um conjunto de canais participativos para debater em profundidade o país, a globalização e as alternativas, na Internet As novidades vêm num momento em que a mídia convencional vive uma crise de credibilidade junto à parte importante de seu público.

O primeiro livro temático será chega às bancas na próxima segunda-feira, dia 13, e terá como tema “Alternativas ao Aquecimento Global”. Ao longo de sete artigos – em 128 páginas –, a obra constrói um ponto de vista original, em relação a um dos temas contemporâneos mais cruciais. As edições de bolso temáticas serão lançadas a cada três meses.

Enquanto isso, o Caderno Brasil terá dois objetivos editoriais permanentes. Ao examinar a realidade brasileira e internacional além das aparências, procurará identificar em especial as possibilidades de mudança social, de interromper as lógicas da dominação, de construir relações de igualdade e reciprocidade. Ao mesmo tempo, buscará tornar visíveis as ações transformadoras já em curso – inclusive as desprezadas pela mídia de mercado, que reconhece como política apenas o que se dá nos espaços institucionais e estatais.

Alguns dos convidados são conhecidos pelo papel destacado que desempenham na construção do pensamento crítico: entre outros, o economista Ladislau Dowbor, o filósofo Paulo Arantes, o sociólogo José Luiz Fiori, a arquiteta Ermínia Maricato, a jornalista Elisabeth Carvalho.

Parcerias

A iniciativa é fruto de uma parceria entre duas organizações da sociedade civil, o Instituto Paulo Freire e o Instituto Polis. Ao Instituto Pólis caberá produzir a edição impressa. “É preciso preencher um espaço que está vazio na imprensa brasileira, oferecendo um olhar crítico e analítico sobre o mundo e o Brasil”, acredita Sílvio Caccia Bava, coordenador-geral do Pólis e agora também diretor da edição impressa do Jornal.

Já ao Instituto Paulo Freire (IPF) caberá a edição dos livros temáticos e da edição eletrônica. “Vivemos na época das redes. A profundidade e o espírito crítico de Le Monde Diplomatique precisam estar ligados, no Brasil, às ações pela transformação social. E a intenet permite esta associação”, afirma Moacir Gadotti, diretor geral do IPF. Sua fala antecipa o sentido das mudanças por que passará o site do jornal.