Militantes do MST prestam depoimento hoje e pedem proteção

Os integrantes do MST e da Via Campesina, Célia Aparecida Lourenço e Celso Barbosa, prestam depoimento, hoje, dia 24, no inquérito que apura participação da Syngenta Seeds no massacre contra trabalhadores rurais Sem Terra ocorrido no último domingo, dia 21. Um Sem Terra foi morto na ação da milícia armada, de seguranças da Syngenta no acampamento Terra Livre, campo de experimento da multinacional, em Santa Tereza do Oeste (PR).

Os dois militantes do MST foram perseguidos durante o ataque, mas conseguiram escapar, apesar de muitos tiros terem sidos dados contra eles. Assim como Valmir Mota de Oliveira, o Keno, assassinado a queima roupa, Célia e Celso vinham sendo ameaçados há mais de seis meses. Os dois pedem proteção e garantia de vida às autoridades.

Hoje, organizações de Direitos Humanos irão se reunir com o delegado e solicitar explicações sobre medidas adotadas para coibir e investigar a formação de milícias armadas na região Oeste.

O coordenador executivo da organização Terra de Direitos, Darci Frigo, afirma que a polícia precisa investigar o destino das outras armas dos seguranças, utilizadas no ataque aos trabalhadores. “É necessário que a Polícia investigue, por exemplo, o destino das armas e dos outros seguranças presentes no local dos fatos. A NF tem que apresentar a lista de todos os seguranças presentes e apresentar as armas utilizadas. Também queremos saber de onde exatamente partiu a ordem para atacar o acampamento”, cobra.

Logo após os fatos, foram ouvidos nove pessoas da Via Campesina, presentes no local do ataque. Apenas duas pessoas da empresa de segurança NF prestaram depoimento: o proprietário, Nerci Freitas e um dos seguranças que atacou o acampamento. O restante afirmou que só vai falar em juízo, o que prejudica o andamento das investigações e o esclarecimento dos fatos.

Histórico das Denúncias

23 de janeiro de 2007: nas dependências do Fórum de Cascavel, Alessandro Meneghel, da Sociedade Rural do Oeste do Paraná ameaça e agride verbalmente Célia Lourenço. Os fatos foram registrados em Boletim de Ocorrência.

27 de março de 2007: uma pessoa não identificada ligou, de um telefone público, localizado no centro da cidade de Cascavel, para a Secretaria do MST, em Cascavel e disse para Ivonete Aparecida Oliveira de Jesus (que atendeu ao telefone), que avisasse Celso Ribeiro Barbosa, Célia Lourenço e Valmir Mota de Oliveira (Keno – assassinado em 21.10) tomarem cuidado porque “a UDR estava preparando uma armadilha para eles”. As ameaças foram registradas em Boletim de Ocorrência por Keno.

20 de julho de 2007: no assentamento Olga Benário, localizado no município de Santa Teresa do Oeste, ao lado da fazenda experimental da Syngenta, famílias do MST foram gravemente ameaçadas por “seguranças” fortemente armados, contratados pela multinacional. Conforme Boletim de Ocorrência registrado na Delegacia de Santa Tereza do Oeste, sob o n° 108/07, “seguranças da empresa Syngenta invadiram seu terreno, e lá permaneceram por cerca de quarenta minutos”. Segundo relatos dos agricultores, os seguranças efetuaram disparos de arma de fogo de grosso calibre durante a noite, e ameaçaram inclusive crianças do local. Os fatos também foram denunciados pela Policia Federal, que posteriormente realizou uma operação na sede da NF, apreendendo munição ilegal. Foram informados o Ouvidor Agrário Nacional, o Delegado da Policia Federal de Cascavel, o Superintendente da Policia Federal de Curitiba e o Secretario de Segurança Pública.

28 de agosto: A Terra de Direitos denunciou as ameaças sofridas por Keno, Célia Aparecida e Celso Barbosa ao Programa Nacional de Defensores de Direitos Humanos, solicitando medidas para garantir a proteção dos mesmos.