Fazendeiros usam “caveirão rural” para atacar acampamentos

Na madrugada da última quinta-feira (08/05), uma um grupo pistoleiro atacou o acampamento do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), com mais de 150 famílias, localizado na BR 369, entre os municípios de Cascavel e Corbélia.

O ataque começou às 4h da manhã, quando homens fortemente armados invadiram o acampamento Primeiros Passos, com tratores e retro-escavadeiras, destruindo toda a plantação e estruturas do acampamento, inclusive uma escola e uma igreja. Pra destruir todo o acampamento, o bando também utilizou um caminhão de porte e estrutura calculada para este tipo de ação. Uma espécie de “caveirão do agronegócio”, recalchutado com uma forte grade de ferro na dianteira, conhecida como quebra-mato – utilizada para destruir os barracões – e uma carroceria blindada, com pequenas janelas de onde se efetuam disparos com armas de alto calibre.

Mesmo com a chegada da Polícia Militar, a milícia continuou o ataque. Apenas com a chegada de um reforço, dez pistoleiros foram presos em flagrante. Dentre eles estava Luciano Gomes Resende, um dos seguranças da empresa NF, que também presta serviços à Socieade Rural do Oeste do Paraná, e é acusado pelo ataque ao acampamento do MST na Fazenda da Syngenta, em outubro de 2007. Na ocasião o trabalhador Sem Terra, Valmir Mota de Oliveira, o Keno, foi assassinado à queima roupa.

A região de Cascavel já é conhecida pela violência contra camponeses praticadas por este grupo, todavia, a certeza da impunidade, já demonstrada nos outros casos, fez com que as ações se tornassem mais ousadas e planejadas, inclusive com o uso de instrumentos mais sofisticados para as ações de destruição dos acampamentos e de terrorismo contra camponeses.

As reiteradas violações de direitos humanos praticadas contra os trabalhadores rurais Sem Terra na região de Cascavel está sendo alvo de indignação das entidades da sociedade civil e da Igreja. O Arcebispo da Arquidiocese de Cascavel, Dom Mauro Aparecido dos Santos, foi até o acampamento prestar solidariedade às famílias e exigiu que os fatos fossem apurados e os mandantes responsabilizados.”Vim até o local constatar o que aconteceu para que depois possamos cobrar dos órgãos responsáveis uma providência concreta. Não podemos deixar que esse ato de desrespeito ao ser humano e às leis seja esquecido. Não podemos permitir que o Paraná se torne uma terra onde o que vale é a lei da bala e funcionários de empresa de segurança escondem a cara dos verdadeiros mandantes”, declarou.

Os agricultores, vítimas do ataque, passaram o dia sendo ouvidos pela polícia civil de Cascavel, enquanto 10 integrantes da milícia permaneciam presos. Numa demonstração de força e afronta mais de 20 fazendeiros foram até a delegacia para pressionar a polícia. As famílias que tiveram seus barracos destruídos permanecem no acampamento Primeiros Passos, próximo à Fazenda Bom Sucesso, de Orlando Carneiro, temendo que possam ser atacadas novamente. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná prometeu que vai manter policiais no local.
(Com informações da Terra de Direitos)