Sem Terra são espancados no norte de Minas Gerais

Fazenda Capão Muniz, Brejo dos Muniz, município de Rio Pardo de Minas. Esta área esta em litígio já há tempos, com processos no Judiciário e no Iter (Instituto de Terras de Minas Gerais), órgão subordinado a Secretaria Estadual de Reforma Agrária de Minas Gerais.

Após o cansaço da espera, uma senhora de 74 anos, Dona Nair Bastos, hoje uma trabalhadora Sem Terra (seu pequeno lote foi grilado há alguns anos), junto a outras 40 famílias, ocupou a referida área, no intuito de ali reavê-la juntamente com as demais famílias que a tempos vem lutando por um pedaço de chão. A Secretaria Estadual de Reforma Agrária foi devidamente comunicada e solicitada para intervir e resolver o problema em audiência realizada em Belo Horizonte. As famílias que acompanhavam dona Nair são famílias que já foram despejadas de outras áreas e que lutam há mais de dois anos.

Neste domingo (26/4), por volta de 1h30min da madrugada, o acampamento foi invadido pelos fazendeiros Mário Nascimento, Geraldo Ângelo de Oliveira, seu filho Renilson, outro apelidado por Chupinha e ainda Robson, apelidado por Birro, irmão de Mário.

Esses mandantes e executores acima citados estavam acompanhados de 30 pistoleiros que chegaram ao acampamento disparando armas de fogo e bombas e agredindo violentamente com paus, ferros, facões e serrotes as 33 famílias que estavam ali no momento.

Segundo os relatos a intenção era assassinar as lideranças. Após o ataque várias famílias ficaram gravemente feridas, na maioria pessoas idosas. Entre os vários feridos estão: Nair Bastos de Sá – 74 anos, Clarindo Pinheiro – 67 anos, João de Nenê – 65 anos, Delí de Oliveira -55 anos e Darci Limas 51 anos.

Dona Nair teve que ser enviada para o Hospital de Montes Claros e outros dois feridos se encontram ainda hospitalizados em Rio Pardo de Minas. Após as agressões todos os barracos foram incendiados com documentos e pertences do grupo, havendo ainda furtos de celulares animais, dinheiro.

Trabalhadores hospitalizados. Feridos com facão, foices e porretes. Segundo relato das vítimas, Sr. Mário ameaçou de morte os acampados que retornassem para a área e ainda ele continua na cidade ameaçando de morte vários dos acampados, principalmente Dona Nair e seus familiares. No levantamento da Comissão Pastoral da Terra, constatamos que ninguém foi preso e que eles continuam andando livremente nas rua da cidade ameaçando o grupo, apesar de ser do conhecimento da polícia que esteve até no acampamento resgatando os feridos.

A bestialidade é principalmente fruto:

1 – Da impunidade. A postura da grande maioria do Poder Judiciário, cristalizada na pessoa do Presidente do STF, de criminalizar os movimentos sociais e “absolver”, defender, omitir a ação dos grandes latifundiários e empresas que são os causadores da destruição sócio-ambiental, “legitima”, autoriza esses criminosos a criarem suas próprias leis – como neste caso. O Judiciário, a serviço do poder econômico, não coloca na prisão os criminosos/assassinos como nas chacinas de Unaí, Carajás, Felizburgo e muitos outros assassinatos, como da Irmã Doroty. Mas na criminalização de
trabalhadores é rápido. Vemos hoje no Brasil, como mostram os dados da CPT sobre conflitos no campo em 2008 e os acontecimentos recentes, que a crueldade do agronegócio é recrudescida com a posição do Judiciário.

2 – Da ação do Governo de Minas Gerais (através de Aécio Neves) que mantém uma Polícia Militar capaz e ágil nas ações de despejo de sem terras e na proteção de bancos que são assaltados, mas totalmente incapaz e sem infra-estrutura na hora de prender criminosos, como neste caso, ou de defender os pobres da cidade quando necessitam da mesma. Ao mesmo tempo mantém secretarias inoperantes que acabam potencializando os conflitos sociais.

3 – Do Governo Federal que abandonou de vez a proposta de uma Reforma Agrária neste país, sucateando o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Incra, mantendo os mesmos, como péssimos órgãos de desenvolvimento de políticas compensatórias. Optou por financiar o agronegócio e a barbárie.

4 – De um Poder Legislativo financiado pelo poder econômico, que legisla em sua defesa (vide bancada ruralista) usurpando o dinheiro público em benefício próprio (vide últimas notícias na mídia).

(As informações são da CPT – Minas)