Marcha pelo Paraná debate Reforma Agrária e crise

Pedro Carrano e Solange Engelmann
de Curitiba (PR)

No dia 18 de maio, 200 brigadistas da Via Campesina e do MST, ao lado de militantes da Assembléia Popular, deixaram a cidade histórica de Porecatu.

A chamada “coluna do Norte” teve sua primeira parada em Londrina, onde realizou panfletagens no centro da cidade, debateu na universidade pública, buscou contato com sindicatos e pastorais sociais. Esta é a proposta da marcha Mutirão para debater Crise e Projeto Popular.

No dia seguinte (19), outros 200 militantes da “coluna do Oeste” partiram de Foz do Iguaçu. Cerca de 29 cidades estão previstas no itinerário das duas colunas, que chegam juntas, no dia 04 de junho, em Curitiba.

O mutirão faz parte de iniciativa para debater a crise econômica, porém com a proposta de um projeto que aglutine as forças de esquerda, em contraposição ao projeto das elites. Na atual conjuntura, dentre as bandeiras, estão aquelas recolhidas nos debates da Assembléia Popular com
outros campos da esquerda, bandeiras do ato unitário do dia 30 de março, da campanha o petróleo tem que ser nosso, além daquelas recolhidas ao longo do mutirão e do debate com trabalhadores e população.

Neste primeiro momento de atravessar o Paraná, uma das bandeiras em evidência é a luta pela realização da Reforma Agrária. “O nosso objetivo é que, nesse debate sobre a crise, que o debate da reforma agrária seja colocado como uma das alternativas e chegue ao maior número de pessoas possível”, comenta Mário Debona, do MST.

Os brigadistas chegam a Curitiba, destino final da marcha, no dia 04 de junho. Na capital, durante três dias, têm a expectativa de unir-se às lutas e trabalhos de base feitos na cidade e na região metropolitana, onde outras bandeiras de luta devem vir à tona, como as bandeiras do Fórum
Popular de Saude (FOPS), em defesa do Sistema Único de Saúde, do Movimento Estudantil, bem como das áreas nas periferias, em luta pela regularização fundiária, contra despejos forçados e interesses do capital – articulando as lutas que se dão nos territórios e nos locais de trabalho.

No domingo, dia 07 de junho, está prevista uma assembléia popular para reunir as experiências dos focos de trabalho e, sobretudo, as bandeiras levantadas ao longo do caminho. “O MST busca partilhar com os trabalhadores urbanos, em comunidades, onde vivemos e trabalhamos, suas
experiências organizativas, de análise e de luta. O ensinamento da marcha é através da pedagogia do exemplo, importante para animar os movimentos urbanos, principalmente os nascentes, como a Assembléia Popular. Assim se coloca em prática a seriedade do MST em perceber seu papel de contribuir na organização dos trabalhadores”, comenta Cristiane Coradin, da Assembléia Popular de Curitiba.

O mutirão tem o apoio de organizações de esquerda, dispostas a receber os 400 brigadistas e construir locais de difusão do debate. Na opinião de Paulo Bearzoti, presidente municipal do Psol, a chegada de militantes do MST abre alas para uma ação unitária e reforça o movimento social:
“Acho que é uma oportunidade de construção de uma ação unitária, porque dentro do movimento popular o MST é um ponto de consenso, pela sua coerência na luta e tenacidade. Ninguém é contrário ao MST, todos encampam a iniciativa. Vejo como um dado favorável à ação unitária”,
comenta.

Contexto

Trabalhadores e trabalhadoras produzem mercadorias, mas têm o produto social do seu trabalho apropriado pelos donos de terras, empresas, fábricas e bancos. No momento em que a grande quantidade de mercadorias produzidas não se realizam no mercado, e os trabalhadores sequer conseguem repor suas necessidades, este sistema novamente entra em crise.

Neste momento, os movimentos sociais, sindicatos e entidades de defesa dos trabalhadores, denunciam que, mais uma vez, os patrões e governos querem fazer com que os trabalhadores paguem a conta, realizando demissões em massa, cortando direitos trabalhistas e sociais, para manter suas altas taxas de lucro.

Situação no campo e no combate ao agronegócio

Dentre as bandeiras dos movimentos sociais no campo estão a cobrança de agilidade no processo de Reforma Agrária, como uma saída para os trabalhadores neste momento de crise. Os caminhantes da Via Campesina e da Assembléia Popular denunciam o desemprego causado pelo agronegócio.

Atualmente, há cerca de 100 mil famílias acampadas em todo país. Somente no Paraná são aproximadamente 7 mil famílias, vivendo sob barracas de lona, em latifúndios improdutivos e beiras de estradas.

Cidades visitadas ao longo da marcha

Até o momento, no Norte os marchantes passaram pelas cidades de Florestópolis, Porecatu, Londrina, Cambé e Rolândia. Ainda estão previstas as cidades de: Arapongas (sábado, dia 23), Marialva, Sarandi, Maringá, Mandaguari, Jandaia do Sul, Apucarana, Marilândia, Ortigueira, Imbaú, Ponta Grossa, Campo Largo e Curitiba.

Enquanto a coluna do Oeste passou por Foz do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu, Medianeira, Matelândia, Cascavel, Nova Laranjeira, Laranjeiras do Sul, Cantagalo, Guarapuava, Irati, Palmeiras, Campo Largo e Curitiba.