Assentamento recebe estudantes de Direito para discutir a questão agrária

Aline Sêne Da Agência Informação Social Mais de 20 estudantes do curso de Direito da Universidade Federal do Tocantins (UFT), de Palmas (TO), visitaram o assentamento Padre Josimo Tavares no domingo para conhecer um pouco a realidade do camponês e também o trabalho desenvolvido pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST). A visita foi organizada pela professora da disciplina de Direito Agrário, Shirley Silveira Andrade, juntamente com o MST.

Aline Sêne
Da Agência Informação Social

Mais de 20 estudantes do curso de Direito da Universidade Federal do Tocantins (UFT), de Palmas (TO), visitaram o assentamento Padre Josimo Tavares no domingo para conhecer um pouco a realidade do camponês e também o trabalho desenvolvido pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST). A visita foi organizada pela professora da disciplina de Direito Agrário, Shirley Silveira Andrade, juntamente com o MST.

Shirley explicou que os acadêmicos têm estudado para si mesmos e sabem a teoria dentro da sala de aula, e para ela isso não os preparam para entender as questões que são complexas. “A questão agrária no Brasil é tão complexa que não tem como entender apenas através das leituras. E essa atividade vem atender essa necessidade, que para compreender a questão agrária é preciso sair da sala de aula”, ressaltou.

A professora detalhou que os estudantes também receberam a visita, na universidade, do Antônio Marcos Nunes Bandeira, assentado e membro da coordenação nacional do MST, e do fulano de tal, superintendente do Incra, que falaram sobre a realidade agrária no Brasil e Tocantins. Os alunos também visitaram Incra para compreenderem o processo institucional da Reforma Agrária.

O coordenador do MST, Antônio Marcos, disse que receber a visita dos estudantes é fundamental para discutirem a realidade em que os camponeses vivem. “Os acadêmicos, pesquisadores, estarem nessa caminhada com o MST é uma foram de fortalecer a luta e o diálogo com a sociedade”, falou. Para ele, também é uma maneira de sensibilizar futuros defensores da luta pela terra, da reforma agrária.

Visita

Os estudantes foram recepcionados por alguns assentados e logo divididos em quatro grupos, cada grupo passou a manhã na casa de uma família para conhecer e entender um pouco a vida e a luta dos assentados. Perguntaram sobre as plantações, a criação de animais, sobre a comercialização das produções, como construíram suas casas, os acessos a educação, a saúde, o transporte. E descobriram que faltam muitas coisas aos assentados, mas também, vivenciaram a alegria destas pessoas por terem consigo uma terra.

Após as visitas os futuros bacharéis em Direito almoçaram no salão de reuniões do assentamento e depois foram visitar a cachoeira. À tarde eles tiveram a oportunidade conhecer a história da conquista do assentamento, a forma de organização feita pelo MST e o motivo da escolha do nome Padre Josimo Tavares para o local. Os assentados se organizaram e responderam as dúvidas dos estudantes e deram depoimentos de suas vivências da luta pela terra.

Impressões

O acadêmico do sétimo período, Frederico Silvério, avaliou que a atividade no assentamento foi produtiva. “Quebrou muitos preconceitos, conhecemos a realidade, inclusive o movimento”, disse. Silvério afirmou que descobriu que existe uma divisão, tem assentamentos ligados ao MST, mas existem outros, coordenados por outras organizações, ou até pelo Incra. “Conheci um pouca a realidade. Vi que muitas pessoas são politizadas, sabem o motivo de estarem ocupando a terra”, finalizou.

Para Talita Guedes, do oitavo período o encontro foi além das suas expectativas, bastante proveitoso. Ela relatou que gostou do ouvi das pessoas, mas ressalta que não concorda com algumas coisas. “Não sou socialista, estou adequada ao capitalismo, mas acredito que a luta pela terra é justa. Algumas coisas estão erradas, mas se eu fosse advogada eu tenderia a facilitar a vida deles e não atrapalhar”, contou.

Avaliação

Para Antônio Marcos, o encontro foi bom, teve troca de experiências. “Os estudantes foram receptivos, perguntaram sobre a realidade do assentamento, sobre o MST. As famílias foram acolhedoras, de suas experiências, histórias de vida, história do MST”, detalhou. Segundo ele, essas visitas já ocorreram e a proposta do movimento é organizar mais momentos como esse, pois é uma oportunidade de apresentar a realidade da luta pela terra e o trabalho do MST. Além de, Antônio, uma forma de combater a campanha feita pelos grandes veículos de comunicação, em nível nacional, contra a luta popular pelo direito ao acesso a terra.

“Em uma avaliação momentânea, é que a atividade teve muito coisa positiva e é um processo de formação, principalmente para os estudantes”, analisou Shirley. A professora expôs que os acadêmicos têm contato com informações sobre a questão agrária muitas vezes através da mídia, e atividades como esta proporcional um contato real, concreto. “É diferente de eles verem na televisão, que resume o MST ao um movimento que ocupa, invade terras. Eles perceberam, após essa visita, que têm famílias, que existem sonhos envolvidos nessa luta também”, observou.

Shirley destacou que a atividade também proporciona uma formação política aos estudantes. Segundo a professora, as pessoas do movimento são mais politizadas do que muitos dos universitários. Outro ponto colocado pela Shirley, é que a presença dos acadêmicos é benéfico para os assentados, pois eles ao perceberem essas pessoas, valorizam ainda mais suas histórias, sua luta.

“A visita foi boa, os estudantes conhecem a nossa luta, como é a nossa vida no assentamento”, explicou Elisvânia Carneiro, conhecida no assentamento como Morena. Ela avaliou que só visitando o assentamento, andando e conversando com as pessoas, convivendo, é que os estudantes vão saber de fato como funcionam os movimentos sociais. Morena pontuou, que apesar dos problemas que foram debatidos junto com os estudantes, os assentados são felizes.

Assentamento

Os assentados ficaram acampados na beira da BR-153 durante dois anos até o Incra autorizar a entrada na terra, em julho de 2005. O órgão demorou mais dois anos para fazer divisão dos lotes entre os acampados. O assentamento Padre Josimo é formado por 162 famílias, com lotes no tamanho de 20 hectares em média. O assentamento está localizado nos municípios de Oliveira de Fátima, Cristalândia e era a antiga Fazenda Jatobá, do ex-governador do Estado de Goiás Ari Valadão.