As cirandas infantis no MST

Por Edna Rossetto* Do setor de educação MST-SP A INFÂNCIA VIVENCIADA pelas crianças do Brasil é decorrente de uma realidade muito complexa. As cercas do latifúndio e a concentração de riqueza são muito acentuadas em nosso país e afetam profundamente a infância, levando as crianças, precocemente, ao mundo do trabalho. No campo, muitas delas exercem trabalho pesado no corte de cana-deaçúcar, nos fornos de carvão, no corte do sisal e em vários outros setores. Em consequência disso, não têm a oportunidade de ir para a escola, de brincar, de viver o seu tempo de criança.


Por Edna Rossetto*
Do setor de educação MST-SP

A INFÂNCIA VIVENCIADA pelas crianças do Brasil é decorrente de uma realidade muito complexa. As cercas do latifúndio e a concentração de riqueza são muito acentuadas em nosso país e afetam profundamente a infância, levando as crianças, precocemente, ao mundo do trabalho.

No campo, muitas delas exercem trabalho pesado no corte de cana-deaçúcar, nos fornos de carvão, no corte do sisal e em vários outros setores. Em consequência disso, não têm a oportunidade de ir para a escola, de brincar, de viver o seu tempo de criança.

Logo que alcançam a idade de 10, 11, 12 anos, saem para trabalhar e aumentar a renda familiar. São poucas as famílias camponesas que têm condições de garantir esse tempo de vida das crianças. Dessa forma, os movimentos sociais também vêm se preocupando com esse aspecto e assim vão criando espaços pedagógicos para o encontro das crianças.

Nesse sentido, a Ciranda Infantil é um lugar de criação, de invenção, de recriar, de imaginar, como também se configura em espaço de construção do coletivo infantil, no qual as crianças aprendem a dividir o brinquedo, o lápis, o lanche, a luta, o compartilhar a vida em comunidade. Assim, as crianças vão
se constituindo como sujeito lúdico, resignificando seu brincar e sua experiência cultural.

Em relação às políticas públicas, existe uma distância entre o que está escrito nas leis e o que realmente acontece com a educação infantil do campo. Em uma ampla pesquisa realizada em 2004, apresentam- se dados que demonstram uma ausência muito grande do Estado em relação às políticas públicas para a educação infantil do campo.

Assim sendo, podemos afirmar que as Cirandas Infantis são experiências importantes, pois têm possibilidade de ser uma referência nas discussões das políticas públicas para a implantação de uma Educação Infantil do campo.

Os movimentos sociais que vêm desenvolvendo esse trabalho enfrentam alguns desafios, como construções de infra-estrutura para as Cirandas As Cirandas Infantis no MST Infantis, Parque Infantil Alternativo; formação de educadores e educadoras; manutenção das cirandas já existentes e de outros espaços infantis.

Diante disso, percebemos que o processo de organização e de implementação das Cirandas Infantis do MST, junto à nossa base social, tem um caminho longo a ser feito para que todas as crianças Sem Terrinha tenham acesso a este espaço.

É importante que, na construção de políticas públicas, os movimentos sociais estejam juntos, pois cada decisão sobre as atividades pedagógicas desenvolvidas nas Cirandas Infantis traz a experiência da vida, da luta, das culturas vivenciadas pelas crianças. Enfim, traz as marcas de um projeto de sociedade que vem sendo construído pelos movimentos sociais. Ainda percebemos que as crianças Sem Terra são capazes de erguer suas próprias bandeiras, organizando-se com autonomia e educando-se na luta. Isso não significa que elas deixaram de ser crianças, mas brincado, pulando, saltando, chorando, cantando, vão construído essa Ciranda Infantil, porque, afinal, “ela é de todos nós, ela é de todos nós”.

*Artigo escrito com base em pesquisa das Cirandas Infantis do MST entre 2007 e 2009, pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para a dissertação de mestrado “Essa Ciranda não é minha só. Ela é de todos nós: A Educação das crianças Sem Terrinha no MST”.