Mulheres camponesas protestam contra o uso dos agrotóxicos no MS



Por Valeria de Araujo
Do Jornal “O Progresso”

 

Por Valeria de Araujo
Do Jornal “O Progresso”

 

Cerca de 200 mulheres camponesas de assentamentos, acampamentos e comunidades indígenas de todo Estado saíram às ruas de Dourados em protesto contra o uso de agrotóxicos. Com faixas, cartazes, e batuques, elas fizeram passeata pela avenida Marcelino Pires. Muitas estavam utilizando máscaras de proteção e desenhos em forma de caveira, uma maneira encontrada para demonstrar a preocupação com a saúde no campo.

Elas defendem o uso de novas tecnologias que contribuam com os trabalhadores e acabem com a utilização de agrotóxicos. A assentada Vilma Flores diz que há 6 anos, quando residia no Assentamento Itamarati, em Ponta Porã, o grupo de assentados descobriu que alguns fazendeiros descartaram embalagens de agrotóxico à beira de lagos.

“Na época mais de 10 crianças sofreram com intoxicação e doenças de pele. Eles permaneceram por vários meses internados e as mães ficaram desesperadas. É por isto que lutamos. Para nunca mais ver problemas como este se repetir”, destaca. As mulheres do campo estão reunidas em Dourados desde o dia 6 para discutir o uso desenfreado do produto e as consequências para a população e a natureza. A atividade termina hoje e faz parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Camponesas. O objetivo é chamar a atenção da sociedade para discutir o modelo destrutivo do agronegócio, já que sua prática, segundo o movimento, está totalmente ligada ao alto consumo de agrotóxico.

Denunciamos que o uso abusivo de venenos na agricultura é justificado para possibilitar a maior produção de alimentos. “No Brasil não temos problema com a produção de comida, a produção que existe hoje é suficiente para alimentar a nação, o que precisa ser feito é desconcentração e distribuição de renda, para que as famílias não passem fome”, diz em nota distribuída a imprensa.

Segundo o grupo, esse dito “custo baixo” traz um custo altíssimo à saúde pública. “Já foram detectados resíduos de agrotóxicos na água da chuva e no leite materno, em pesquisa realizada em Lucas do Rio Verde (MS), além de doenças como intoxicação, alergias, infertilidade, má formação fetal, contaminação dos alimentos, problemas de rim e o mais grave o aumento dos casos de câncer. Todas essas despesas são tratadas pelo SUS, dinheiro da população, além dos danos causados às pessoas. O agronegócio fica com o lucro, e o povo com as despesas”, arremata.

O grupo acredita que há um corredor com maior incidência de câncer em Ponta Porã, Dourados e Maracaju, onde há indícios que possa estar ligado ao grande consumo de veneno nas lavouras. “Em vários municípios as comunidades indígenas e os assentamentos estão sendo cercados, pelos monocultivos e tendo suas plantações afetadas pelas pulverizações aéreas”, destaca.

Foto Hédio Fazan