Polícia Civil realiza ação violenta em acampamento no Pará

 

Da Página do MST

 

Da Página do MST

 
 
No dia 9 de fevereiro, as famílias que ocupam há cinco anos parte da fazenda Castanhais, no Pará, sofreram graves agressões em uma ação inconstitucional, perpetradas por policiais civis e pelos seguranças das fazendas.
 
A fazenda faz parte do complexo de fazendas do Grupo Agropecuária Santa Bárbara, de propriedade do banqueiro Daniel Dantas, que concentra 600 mil hectares de terras no Sul do Pará.
 
De acordo com relatos dos moradores, casas foram queimadas, animais criados pelos agricultores foram mortos, os bens materiais das famílias foram apreendidos e trabalhadores foram presos.
 
Confira abaixo o relato detalhado feito pela Fetagri e pela CPT sobre a violência em Castanhais:
 
POLICIAIS E SEGURANÇAS DO GRUPO SANTA BÁRBARA PROMOVEM TERROR EM ÁREA DE OCUPAÇÃO NO MUNICÍPIO DE PIÇARRA.
 
Policiais civis de São Geraldo do Araguaia, da Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá e seguranças das fazendas do Grupo Santa Bárbara promoveram um verdadeiro terror contra um grupo de 110 famílias que estão ocupando, há cinco anos, parte da fazenda Castanhais no município de Piçarra, sudeste do Pará. O antigo castanhal foi comprado pelo Grupo Santa Bárbara.
 
De acordo com denúncias feitas por vários agricultores à FETAGRI e a CPT de Marabá, na manhã do sábado, dia 9 de fevereiro, policiais civis de São Geraldo e da DECA de Marabá, entraram na área acompanhados de seguranças da fazenda e algumas pessoas encapuzadas, que não puderam ser identificadas.
 
Alegando estarem cumprindo um mandado de busca e apreensão, mas sem mostrar cópia do referido mandado, o grupo de policiais e de supostos seguranças, entraram em todas as casas, apreenderam motos, celulares, máquinas fotográficas, facões, espingardas de caça e outro pertences. Em seguida, prenderam 17 homens e uma mulher e levaram para a sede da Fazenda Espírito Santo, de propriedade do Grupo Santa Bárbara.
 
Enquanto os policiais prendiam os trabalhadores e apreendiam seus pertences, homens encapuzados e os seguranças ateavam fogo nas casas, muitas delas, sem que as famílias pudessem retirar o que tinha dentro.  Durante a ação policial, foram queimadas 16 casas. Após atearem fogo nas casas, tratores da fazenda passavam a destruir as plantações das famílias.
 
Pequenos animais como porcos, galinhas, bodes, patos foram mortos ou ficaram perdidos no meio do mato. Mulheres foram humilhadas, crianças e idosos foram abandonados no meio da fazenda, debaixo de chuva e sem nenhuma proteção ou alimentação.
 
Da sede Espírito Santo, os trabalhadores foram levados em um ônibus da fazenda até a beira da PA 150 onde foram embarcados em uma VAN, locada pelo gerente da fazenda. Em Marabá, todos foram interrogados na DECA e liberados no dia seguinte.
Na segunda feira, dia 11, o gerente da fazenda, conhecido por Caim retornou para a área acompanhado dos seguranças e dos homes encapuzados.
 
Ameaçando e humilhando as famílias, continuou com a destruição das casas e das roças. De acordo com levantamento feito pelas famílias, 98 casas foram queimadas e mais de 45 alqueires de roça de arroz, milho, mandioca, banana, abóbora, etc foram destruídos. Grande parte das famílias mal conseguiram retirar alguns pertences de dento das casas.
 
A trabalhadora rural Leandra conta que reuniu 13 crianças, sendo uma delas deficiente, e levou para seu barraco. Segundo ela, chovia quando o gerente chegou em sua casa  acompanhado dos seguranças e deu ordens para que todos saíssem. Sem ter para onde ir com as crianças, se negou a sair e implorou para que sua casa fosse poupada até o dia seguinte. O gerente então deu ordens para que o tratorista derrubasse a casa com todos dentro.
 
A casa só não foi derrubada porque um dos seguranças, conhecido como Frank, discutiu com o gerente e não permitiu a ação violenta. Durante o tempo que estiveram detidos na sede da Fazenda Espírito Santo, os trabalhadores presenciaram o gerente dando ordens para que os carros da polícia fosse abastecidos, bem como policiais gesticulando que receberiam dinheiro após a operação. No processo que tramita na Vara Agrária de Marabá não há ordem de despejo a ser cumprida contra as famílias.
 
As famílias estão abandonadas em um canto da fazenda sem apoio, sem alimentos e sofrendo ameaças permanentes dos jagunços da Santa Bárbara. A CPT e a FETAGRI irão denunciar os responsáveis pela ação ilegal ao Ministério Público, à Ouvidoria Agrária Nacional, à Corregedoria de Polícia e às Entidades de defesa dos direitos humanos.
 
Marabá, 20 de fevereiro de 2013.
 
FETAGRI Regional Sudeste.
Comissão Pastoral da Terra da diocese de Marabá.