Residência Agrária é marco na luta pela Educação do Campo no Maranhão

Por Por Romulo Gomes  
Do IFMA


Resultado de luta histórica da população camponesa, o Curso de Especialização em Questão Agrária, Agroecologia e Educação do Campo (Residência Agrária) teve início, nesta quarta-feira (11), no Campus Maracanã.

Por Por Romulo Gomes  
Do IFMA

Resultado de luta histórica da população camponesa, o Curso de Especialização em Questão Agrária, Agroecologia e Educação do Campo (Residência Agrária) teve início, nesta quarta-feira (11), no Campus Maracanã.

Para a instituição, o curso também é representativo, pela articulação que estabelece com movimentos sociais e por ser a primeira especialização que o campus oferta. Estão matriculados 50 alunos, entre beneficiários da reforma agrária e profissionais que atuam em projetos de assentamento e movimentos camponeses.

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Na aula inaugural, a coordenadora do curso, Rita Nascimento, defendeu a importância de o espaço da universidade ser ocupado pela população do campo. “Vamos estudar, para juntos construirmos uma proposta de intervenção. Vocês podem contar com o apoio do nosso curso, que tem professores articulados com as necessidades políticas dos camponeses”, afirmou a coordenadora, ao lembrar que o campo começou gritando por educação básica e hoje vislumbra outras possibilidades. 

A especialização foi aprovada em edital público do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) são parceiros do curso.

O longo processo de lutas para que o Pronera fosse reconhecido como política pública, independente de governo, foi lembrado pelo representante do MST, Jonas Borges. “Primeiro, lutamos por terra, mas depois descobrimos que queríamos, na verdade, reforma agrária, que é algo mais amplo. O MST quer conhecimento, para construir a emancipação da classe trabalhadora”, frisou.

A coordenadora do Pronera, Ceci Gomes, comentou as ameaças que o programa sofreu até ser consolidado. “Aconteceram muitas coisas para acabar com o Pronera, que tem feito tanta diferença na educação do campo”, contou. Ela advertiu os alunos sobre o compromisso que têm com os demais trabalhadores espalhados pelos diversos assentamentos.

Trajetória em prol do campo

Em sua fala, o diretor de Desenvolvimento Educacional do Campus Maracanã, Jean Magno Moura de Sá, fez um resgate da trajetória da instituição em prol da educação do campo, lembrando o curso de Agropecuária, que já foi oferecido pelo Pronera, a Licenciatura em Educação do Campo (Procampo) e agora o Residência Agrária. “Estamos construindo esse espaço cotidianamente e vocês são convocados a continuar essa luta na instituição”, suscitou Jean.

A diretora geral, Lucimeire Amorim Castro, ressaltou que essa nova postura da instituição remonta à administração do professor Vespasiano de Abreu da Hora, iniciada em 2004, que começou a contrapor o viés focado no modelo do agronegócio. “O campus agora é aberto aos movimentos. Estamos ligados à questão do campo e vocês estão aqui para melhorar a instituição e para fazer a revolução que tanto se espera no campo”, asseverou a diretora.

A postura do campus foi elogiada pela chefe do Departamento de Políticas Especiais, Alice Cadete, que representou o reitor Roberto Brandão. “O Campus Maracanã é diverso e ousado; é campo privilegiado de democratização do conhecimento”, enfatizou.

Na abertura, houve, também, uma intervenção artístico-política produzidas pela juventude do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

Aula inaugural

Mediada pelo professor Paulo Garcês, a mesa de debates foi dividida pelo professor do Campus Maracanã, Saulo Pinto, e pela militante Simone Pereira, que abordaram o tema “Capitalismo, Questão Agrária e Educação do Campo”. Segundo ela, o pensamento sobre o MST é sempre relacionado a conflitos, enquanto se deveria enfocar como o uso, a posse e a propriedade da terra. “É um debate marcado pela conflitualidade de classe, entre dominantes, que defendem o modo de produção capitalista, e dominados, que lutam por um sistema melhor”, afirmou Simone. A militante acredita na possibilidade de o conhecimento ser reconstruído, para que se possa beneficiar os trabalhadores e distribuir as melhorias sociais.

O professor Saulo Pinto, por sua vez, fez um apanhado do pensamento de Marx, demonstrando como os diferentes modos de sociabilidade, desde o período clássico até a modernidade, para, em seguida, expor as bases sobre as quais foi organizada a economia do Brasil. “O país mudou pouco a lógica econômica da colônia, que é de acumulação de capital espoliadora”, pontuou. Ao situar o debate no contexto do campo, o professor destacou a aproximação entre socialismo e reforma agrária. “O que dá para dizer é que há um vínculo ideológico de uma contra hegemonia que quer ser hegemonia”, concluiu.