Parceria do MST com Instituto Federal resulta em curso de agroecologia

 

Por Alan Tygel, de Belém (PA)

Para Página do MST

 

Aliar o conhecimento técnico da academia ao saber popular camponês. Essa é uma das motivações do Curso de Formação em Agroecologia, Agricultura de Base Ecológica e Políticas Públicas, realizado em parceria entre o MST Pará e o IFPA Castanhal. O segundo tempo escola terminou na última sexta (10), e contou com visitas a diversas experiências de agroecologia no nordeste do Pará.

 

 

Por Alan Tygel, de Belém (PA)

Para Página do MST

 

Aliar o conhecimento técnico da academia ao saber popular camponês. Essa é uma das motivações do Curso de Formação em Agroecologia, Agricultura de Base Ecológica e Políticas Públicas, realizado em parceria entre o MST Pará e o IFPA Castanhal. O segundo tempo escola terminou na última sexta (10), e contou com visitas a diversas experiências de agroecologia no nordeste do Pará.

 

Roberta Coelho, coordenadora do Núcleo de Educação e Estudos em Agroecologia (NEA), do IFPA Castanhal, explica o formato do curso.

 

“Em cada momento do tempo escola, a gente discute questões teóricas. E quando eles retornam para seus lotes, vão com uma tarefa de tempo comunidade. No primeiro eixo, eles apresentaram uma caracterização do seu lote: o que plantam, como fazem, qual é a relação de trabalho, quem é que faz o manejo, se o homem ou a mulher, etc. Na segunda etapa, eles farão uma discussão sobre as organizações sociais dentro dos seus assentamentos ou acampamentos, para dar subsídio aos formadores que irão trabalhar.”

 

Além da visita a campo dentro do próprio campus do IFPA em Castanhal, os educandos visitaram Sistemas Agroflorestais (SAFs) em dois municípios da região. Em Igarapé-Açú (117km de Belém), os SAFs visitados foram tema de estudos da Embrapa Amazonia Oriental para desenvolver técnicas de manejo que evitam o uso de queimadas, prática muito difundida na região amazônica. No local, utiliza-se a trituração da capoeira, chamada de Tritucap. Através de máquinas específicas ou adaptadas, a vegetação não florestal é triturada e deixada em cima do solo. Desta forma, se pode plantar com o solo protegido e utilizar a lenha para movimentar uma casa de farinha. O principal produtos dos SAFs é o açaí, mas também é produzida pimenta do reino, maracujá, citros, graviola, cupuaçu, cacau, entre outras.

 

Em Tome-Açú, na comunidade de Santa Luzia, além do manejo da agrofloresta, os participantes do curso puderam observar uma agroindústria da APPRAFAMTA. A associação, através de financiamentos externos, conseguiu estruturar o processamento de polpas – extração, embalagem e congelamento – e acabou de adquirir equipamento para extração de óleos. As máquinas secam as sementes, trituram, cozinham e prensam para retirar óleo. O objetivo é extrair óleo de andiroba, maracujá, cupuaçu e cacau.

 

Agroecologia como prática de resistência

 

Viviane Brígida, coordenadora estadual do MST no Pará, explica que a maioria dos educandos são lideranças de acampamentos e assentamentos da regional Cabana, e que possuem alguma experiência prática de agroecologia em suas áreas. O que faltava era complemento teórico e intercâmbio de experiências: “É um princípio que estamos botando em prática.”

 

Entender como se dá a agroecologia na Amazônia também é um desafio do curso. Para Viviane, “É sobretudo uma defesa do que é ser Amazônia, do que é ser camponês. Existimos dentro dessa biodiversidade, garantimos sua preservação e aprimoramos o conhecimento que o camponês já tem daqui. Sobretudo, fazemos uma agroecologia de resistência, de defender a natureza, defender o saber da terra e o saber camponês nessa região”, afirma.

 

Josias Antônio do Nascimento é acampado no Jesus de Nazaré, há um ano e 5 meses. Antes de ingressar no movimento, Josias trabalhou na Agropalma, no monocultivo do dendê. Com apoio do governo federal, esta cultura tem crescido nos últimos anos no estado, e utiliza grandes quantidades de herbicidas e raticidas. Ele teve intoxicação por agrotóxicos diagnosticada por médicos.

 

“Hoje eu me sinto muito melhor graças a Deus, devido ao envenenamento que eu passei. Vou continuar no curso até o final e vou passar o informe para as outras pessoas do meu acampamento. A agroecologia é uma grande diferença para a realidade que eu passei usando o veneno”, comenta.

 

Se dentro do MST a agroecologia faz parte do projeto político, na academia ainda há uma disputa a ser feita. Roberta explica como ocorre esse debate. 

 

“A gente tem resistência com o tema no Instituto. Temos um grande número de professores que discutem agroecologia, mas também temos o agronegócio dentro do Instituto. É uma instituição pública e lá fazemos nossa luta por espaço. Em nossas disciplinas temos o viés da agroecologia, mas eu saio da sala e entra o professor que discute adubação química e agrotóxicos. No entanto, do nosso ponto de vista isto é até bom, pois o aluno consegue ter o contraponto entre agronegócio e agroecologia e fazer a sua escolha enquanto profissional.”

 

Para Josias, a escolha já está feita. Quem já foi explorado no trabalho rural e sentiu o peso dos venenos na pele não tem dúvidas, “a diferença de ter a própria terra é que a gente é mais livre, mais solto. Se eu não gosto de trabalhar com veneno e for trabalhar empregado, eu tenho que fazer o que patrão manda e vou ter que usar o veneno. E dentro do meu terreno eu trabalho da minha forma, do meu jeito, natural, sem atingir ninguém, sem explorar a terra, o meio ambiente, enfim, sem me prejudicar.”

 

O curso contará ainda com mais duas etapas presenciais, além do tempo comunidade. Além das práticas agroecológicas para produção agrícola, um dos focos das próxima etapas serão as políticas públicas.