Encontro reúne 200 mulheres do MST em Cascavel no Paraná

Por Riquieli Capitani
Da Página do MST

Vindas de assentamentos e acampamentos de todas as regiões do Paraná, cerca de 200 mulheres do MST realizam desde terça-feira (11/11), o Encontro Estadual de Mulheres da Reforma Agrária. 

A atividade que acontece no Seminário Rainha dos Apóstolos, em Cascavel, região oeste do estado, segue até quinta-feira (13/11).

A integrante da coordenação do MST no Paraná e assentada na região, Geni Teixeira, explica que o encontro tem por objetivo debater e buscar formas de combater a violência contra as mulheres, fomentar e qualificar a organização delas para garantir a auto-sustentação e renda, além de preparar o trabalho de base para o Dia Internacional da Mulher.

A professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sonia Fátima Schwendler, que contribuiu com a programação do primeiro dia, trouxe elementos sobre Gênero, construção social e sua relação com a classe.

“O gênero é uma categoria de análise que nos ajuda a compreender que as relações sociais entre homens e mulheres foram construídas pela sociedade ao longo da história e são reproduzidas culturalmente pela educação na família, escola, pelas relações de trabalho, pela mídia e pelo Estado”

Schwendler comentou também que gênero não está separado da classe, e que o próprio sistema capitalista se utiliza da desvalorização do trabalho que é naturalizado como sendo de mulher e caracterizado como de menor valor social, para ampliar a acumulação do capital.

Segundo ela, esse ciclo pode ser rompido com a garantia do direito que a mulher tem ao acesso à terra, uma vez que ela tem sido a grande responsável pela produção do alimento saudável e diversificado, pela economia camponesa que se contrapõe ao modelo de agricultura do capital, o agronegócio.

“O acesso da mulher à terra, que na Reforma Agrária é garantido por lei desde 2003, tem aumentado o seu poder de participação nas decisões sobre a produção da família e a organização do assentamento, mas o acesso não tem sido suficiente para que ocorra o uso efetivo desta terra pela mulher”.

“É preciso ampliar o alcance das políticas públicas afirmativas de gênero, porque sem o acesso ao conhecimento, à tecnologia e ao crédito também não ocorre a ampliação da renda da mulher e sua autonomia econômica”. 

“É necessário construir relações de gênero mais igualitárias, com divisão de poder, cooperação no trabalho produtivo e reprodutivo. Isto envolve o trabalho de conscientização de gênero nos diversos espaços, inclusive no da família”, comenta Schwendler.

Reforma Agrária

O debate sobre a Reforma Agrária Popular também esteve presente. Ceres Hadich, assentada em Centenário do Sul, assentamento Maria Lara, comenta que todas as mulheres precisam se apropriar do debate da Reforma Agrária Popular e contribuir como multiplicadoras e fomentadoras dessa discussão.

“As mulheres são protagonistas na defesa da vida, na educação, na construção de novos valores e relações sociais, por isso precisamos se envolver e dominar essa questão”.

E acrescenta. “Reforma Agrária Popular é um debate da sociedade, e ele precisa ser construído diariamente, desde a nossa casa, na relação com a natureza, com a comunidade em que vivemos, com o município, na igreja, escola e nos grupos de mulheres.”

Câncer de mama

Além de ter espaço de formação em torno do Gênero e Reforma Agrária Popular, as mulheres também puderam participar e tirar suas dúvidas sobre o câncer de mama, com os médicos do MST formados em Cuba, Patricia Maciel e Vagner Smigura.

De acordo com dados mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2010, 12.705 mulheres morreram de câncer de mama; é o câncer que mais mata mulheres no Brasil. A chance de cura se for detectado precocemente é de 95%.

Maciel comenta que entre os sintomas do câncer de mama estão a diferença na pele, secreção fora do período de amamentação, nódulos e ínguas na região da axila e do pescoço, o histórico familiar, sedentarismo, consumo de álcool, obesidade e tabagismo.

“É importante discutir sobre o câncer de mama, saber que é preciso fazer o auto exame uma vez por mês, no caso das mulheres que menstruam após os 21 anos, e sete dias depois do início da menstruação, e as mulheres que estão na menopausa devem escolher um dia do mês pra fazer”, explica Maciel.

“Além disso, as companheiras precisam saber os fatores de risco, os sintomas e características que podem desenvolver um câncer, elas também devem saber que tem direito a mamografia a partir dos 50 anos”, acrescenta.

“As mulheres do MST estão bem orientadas, sabem fazer o auto exame, agora é preciso que elas contribuam na multiplicação desse conhecimento com as outras companheiras, ajudar a explicar como fazer o auto exame e os fatores de riscos que o ocasiona. E se alguma tiver câncer, independente do tipo, é preciso dar apoio”, explica Maciel.

Rosane Fátima Ramos, do assentamento Paulo Freire, região norte pioneiro, diz ser muito importante espaços como esses. “São médicos do nosso meio que clareiam as informações, como a maneira correta de fazer o auto exame. As mulheres se sentem mais a vontade pra tirar suas dúvidas”.

“E fica a dica importante. É preciso se tocar, se auto examinar, se olhar no espelho uma vez por mês. Precisamos conhecer nosso corpo e ficar atentas a qualquer mudança”, comenta Fátima.