2015 será o ano da formação política no MST e da batalha das ideias

Os Movimento pretende atingir mais de 20 mil pessoas nos diversos cursos de formação em todos os estados em que está organizado.

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Por Luiz Felipe Albuquerque
Da Página do MST

Formar para a luta e para a vida. Além de lutar, o MST tem em mente que para construir uma sociedade mais justa é preciso que os militantes e a base estudem. Por isso, 2015 será o ano da formação política do Movimento e da batalha das ideias.

Na visão de Geraldo Gasparin, do setor de formação do MST, a formação cumpre uma tarefa importante para a organização. Em cada momento histórico, ela cria as condições subjetivas para que o Movimento possa cumprir com seus objetivos.

 

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Curso de formação de educadores nos anos 80, no Rio Grande do Sul.

“A formação política sempre foi uma prioridade para o MST em todo seu histórico de construção, pois cria condições de emancipação humana, autonomia política e ideológica”, explica Geraldo.

Não à toa, em 2015 se comemoram marcos que demonstram a importância que o Movimento dá ao processo formativo.

Os 20 anos do Instituto de Educação Josué de Castro (IEJC), mais conhecido como Iterra, é um deles. Situado na pequena cidade de Veranópolis (RS), o Iterra é responsável pela formação técnica de jovens para atuarem nas áreas de assentamentos. Ao longo destes anos, mais de 3 mil militantes já passaram pela escola.

A Escola Nacional Florestal Fernandes (ENFF), uma escola de formação de quadros que fica no município de Guararema, em São Paulo, também está comemorando 10 anos de existência. Por lá já passaram mais de 24 mil pessoas ligadas a movimentos sociais do campo e da cidade, de todos os estados do Brasil e de todos os continentes, que participam de cursos, seminários, conferências e visitas. A ENFF conta com um grupo de mais de 500 professores voluntários, tanto brasileiros quanto estrangeiros.

 

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Curso técnico em saúde comunitária realizado no Maranhão.

Os Cursos Básicos do MST, voltados à base e à militância Sem Terra, que acontecem em todos os estados em que o Movimento está organizado, também completam 25 anos.

Para Rosana Fernandes, da coordenação política pedagógica da ENFF, este é um momento histórico de reorganizar as várias dimensões de trabalho voltado à organizacidade do MST, ainda mais num período em que também se comemora os 30 anos do Movimento, completados em 2014.

“Precisamos retomar mais intensamente o processo de formação desde a base, incluindo as famílias acampadas e assentadas do MST. É preciso massificar este processo”, acredita.

Para ela, sem a formação, o MST não teria resistido há estes 30 anos, “e se não fortalecermos este processo mais do que já fizemos, talvez não consigamos sobreviver mais 30”, atenta.

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Curso de Comunicação realiza pelo MST durante os anos 90.

Mais de 20 mil pessoas

Os Movimento pretende atingir mais de 20 mil pessoas nos diversos cursos de formação nos estados em que está organizado.

Dentre os destaques, estão os Cursos Populares da Juventude, que tem o desafio de realizar um processo formativo massivo com cerca de mil jovens em cada estado. A ideia é que estes cursos aconteçam nas universidades públicas.

“Apenas 1% dos jovens do campo estão nas universidades, por isso nosso esforço para que esses cursos aconteçam dentro dos campus universitários, para que ocupem, junto à juventude de outras organizações da cidade, um lugar que também lhes pertencem”, disse Raul Amorim, do coletivo de juventude do MST.

 

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Curso de capacitação para alfabetizadoras no Maranhão.

Os estados também devem promover pelo menos uma escola estadual de formação com 30 dias de duração, além de dois cursos básicos por regional.

Além destes cursos, outras atividades, como o Seminário Internacional sobre os 10 anos da ENFF, a Semana Florestan Fernandes, o Congresso de Residência Agrária, o curso nacional de dirigentes, a Jornada Universitária da Reforma Agrária e outros fazem parte do processo formativo do MST neste ano.

Como explica Geraldo, o propósito destes cursos é, sobretudo, retomar e intensificar o trabalho de base nas áreas de acampamentos e assentamentos.

“Temos que fazer o debate com nossa base sobre o programa agrário, para que se entenda a fundo quais as propostas que o MST defende para o campo”, observa.

 

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Sem Terra durante etapa do Curso de Formação Política, no extremo sul da Bahia.

Para ele, essa tarefa é do conjunto da organização, e setores e militantes que pensam cada área, como cultura, produção, saúde, devem pensar formas de contribuir e fortalecer esse processo de formação e trabalho de base.

Luta e formação

Como comenta Rosana, o lema do último Congresso Nacional do MST, “Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!”, realizado em fevereiro de 2014, sintetiza bem a necessidade da formação neste novo momento da luta pela terra.

Ao mesmo tempo em que se realiza a luta direta contra o inimigo, é preciso que se construa na prática a concepção e o projeto da Reforma Agrária Popular. Por isso a necessidade de se compreender a atual natureza da luta pela terra, os objetivos, como se encontra a luta de classes no campo e como o agronegócio se articula.

 

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Seminário em Educação do Campo em Abelardo Luz (SC).

De acordo com Geraldo, a luta não pode ficar desassociada do processo de formação. “Luta melhor quem sabe mais. É fundamental que junto ao processo de luta também se estabeleça o processo de formação. Atuar sobre a realidade que queremos transformar, as contradições que ela provoca, entender essa realidade. A formação serve para suprir as demandas organizativas do Movimento,  para responder as questões que o nosso povo demanda, seja a luta de classe mais intensa ou seja a luta pela produção”, exemplifica.

Para além do MST

A ideia de estabelecer 2015 como o ano da batalha das ideias não se restringe apenas ao MST. Como explica Rosana, o Movimento também pretende contribuir com outras organizações da classe trabalhadora no processo formativo.

 

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Mais de 500 mulheres participam de formação durante encontro na Bahia.

“Não temos a pretensão de nos fecharmos em nós mesmos. Ao contrário, com toda humildade, queremos expandir essas experiências a outras organizações”, pontua.

Para ela, o fato do Movimento ter desenvolvido processos formativos de referência, especialmente por meio dos cursos ENFF, coloca uma responsabilidade muito grande para o MST no processo de formação de quadros para a classe.

Porém, Rosana acredita que a maior contribuição dos Sem Terra é fazer com que várias outras organizações possam construir suas próprias escolas de formação. “Precisamos incentivar com que outras organizações do mundo também possam desenvolver experiências como as da ENFF. Esse é o grande exemplo que o MST pode trazer. Mais do que trazer gente para a escola, é projetar novas escolas aqui e em outros países”.